8.4.10

Rio & Geografia: Os ônibus (Parte 4/5)




Continuação

ILHA DO GOVERNADOR
Talvez este seja um dos lugares no Rio com o maior índice de precariedade em transportes coletivos, como os ônibus. Composta por dezesseis bairros, apenas pouco mais de vinte linhas circulam por essa região da Zona Norte que, para dificultar ainda mais a fluidez do trânsito, conta com apenas uma entrada e saída – a Linha Vermelha. Ainda que o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão, esteja localizado lá, isto parece não ser motivo suficiente para que a Ilha esteja bem integrada com a cidade. Além dos poucos ônibus que circulam por lá, monopolizados em grande parte pela Paranapuã (na foto à direita, a Linha 910, que faz o percurso Bananal - Madureira) e a Ideal (na foto à esquerda, a Linha 925, operada pela Ideal entre Bancários e o Castelo), a maioria dos veículos circulam em estado deplorável, verdadeiras carcaças ambulantes. Uma experiência minha com um dos ônibus da Paranapuã foi com a linha 634, que faz o trajeto Freguesia – Praça Saens Peña, quando eu estudei por um tempo no Fundão; lembro-me da sujeira escandalosamente aparente dos assentos, das fendas soltas e do choque que levávamos ao segurarmos as barras de ferro do coletivo, onde os fios da campainha estavam sempre soltos e à mostra. Esse é um panorama não só da linha 634, mas também de toda a frota destas empresas operantes na Ilha do Governador. E mais: ônibus velhos, com atrasos e irregularidades, além das linhas variantes e extraordinárias, que aparecem quando você menos espera - e desaparecem quando você mais deseja.

A falta de itinerários alternativos também é um grande problema. Os moradores da Ilha que vivem em função dos ônibus estão restritos a lugares do subúrbio, da Zona Norte e do Centro. Ônibus para a Zona Sul restringem-se apenas àqueles refrigerados e especiais, que vão para o aeroporto, com tarifa na faixa dos R$ 10 reais. Quer ir para a Baixada ou para a Zona Oeste? Desista. Ou então pegue mais de duas conduções. Definitivamente, a Ilha é um dos piores lugares nessa questão de ônibus, contribuindo e muito para o avanço dos transportes piratas como vans e kombis ilegais.


SUBÚRBIOS
O subúrbio, em geral, como já foi retratado no caso do Grande Méier, tem um grande diferencial na disposição de suas ruas e avenidas em relação ao núcleo da cidade; a zona é pouco espremida entre os morros, permitindo uma maior fluidez das vias em diferentes direções. Uma espécie de São Paulo carioca. A interligação entre os bairros do subúrbios é boa devido à proximidade entre eles, embora a conexão com o Centro seja bastante difícil por duas questões muito relevantes: as vias do subúrbio são, como um todo, mal projetadas (isso se algum dia foram planejadas), além das áreas de risco que se encontram pelo meio do caminho, em grandes quantidades. Ademais, o serviço de ônibus nesta área, antes de tudo, é dificultado por algumas áreas de risco existentes nesta zona. Regiões próximas a favelas, em geral, tendem a sofrer de ataques violentos como depredações, ateamento de fogo aos veículos e assaltos. Logo, determinados logradouros e bairros acabam por ser mal atendidos.

Apesar do grande espaço geográfico, o número de avenidas e ruas largas que tenham a capacidade de receber e transportar ônibus para diferentes zonas da cidade é desproporcional à sua extensão, o que contribui para a concentração das linhas em eixos principais, como as ruas que beiram as linhas férreas e avenidas como a Dom Hélder Câmara, Brasil, Leopoldo Bulhões e Pastor Martin Luther King.

Assim como na Ilha, ônibus para a Zona Sul são escassos. Linhas como a 456, 457, 484, 485 e 497 circulam lotadas, sempre, e atendem à apenas uma parte do subúrbio. Linhas para o Centro da cidade existem em abundância, o que é bom, assim como as linhas circulares dentro da região, como a 624 (Mariópolis – Praça da Bandeira), 667 (Madureira – Méier), 680 (Penha – Méier) e 711 (Rocha Miranda – Rio Comprido, foto à esquerda). As citadas linhas, de trajetos longos, percorrem todo o subúrbio e áreas da Zona Norte a fim de alimentar as vias secundárias e terciárias que não são atendidas, como também, por exemplo, a linha 623, a única que atravessa o Túnel Noel Rosa. A concentração de ônibus para Jacarepaguá, Barra da Tijuca e o resto da Zona Oeste ainda se localiza nos bairros de Madureira e Cascadura, que, mais do que bairros, são quase um grande terminal de linhas ônibus.

ZONA OESTE
Enquanto no Leste do Rio de Janeiro o excesso de ônibus que circulam pelas ruas e avenidas gera polêmica, na Zona Oeste o caso é contrário: a escassez desse meio de transporte é um grande e grave problema, que afeta, diariamente, milhares de moradores de Bangu, Realengo, Campo Grande, Santa Cruz, entre outros bairros da região. Neste caso, há diversos fatores que contribuem para o péssimo serviço dos ônibus na Zona Oeste:

Longos percursos
Embora bairros como Santa Cruz e Campo Grande sejam verdadeiras cidades dentro do Rio, portadores de grandes sub-bairros e até mesmo um Centro dentro de seus territórios, o Centro do Rio ainda é o Centro econômico, o local gerador de empregos para grande parte da população carioca, principalmente à da Zona Oeste. Portanto, a quantidade de ônibus que se destinam ao Centro não chega a ser nem perto do suficiente para atender toda esta demanda. Soma-se à isso a verdadeira batalha que é para ir da Zona Oeste para o Centro, que fica na extremidade leste do Rio: a distância natural entre esses dois pontos mistura-se, também, aos engarrafamentos quilométricos na ida e volta para a casa, podendo implicar, até mesmo, no custo das tarifas (mais elevadas, é claro!).

Baixa qualidade de serviço
Se não bastassem os “perrengues” que a população da Zona Oeste enfrenta, as empresas que operam nesta área, volta e meia, são indiciadas pela baixa qualidade de seus serviços, com veículos velhos e sujos, além da frequência irregular das linhas, que acabam não operando nos intervalos de tempo pré-determinados. Em setembro de 2009 foi noticiado que 47 linhas de ônibus das viações Feital, Ocidental e Oriental seriam cassadas pelo péssimo estado de suas frotas. De acordo com a reportagem, do Jornal O Dia, uma passageira conta que a linha 398 (Campo Grande – Tiradentes), da viação Oriental, vive em frangalhos, com janelas e bancos quebrados, baratas e atrasos constantes. Na verdade, apenas um exemplo, como este, pode ser generalizado como o real panorama – e o drama – de quem depende dos ônibus na Zona Oeste. Já a linha 390, que liga o bairro de Sepetiba ao Centro, da Viação Oeste, cobra R$ 4,40 por um serviço de lixo, com atrasos e lotações desumanas.


A VIAÇÃO FEITAL, alvo de reclamações constantes na Zona Oeste, largou de mão a linha 367 (Praça XV - Realengo), em Agosto de 2009, sem razão alguma, e circulava apenas com 10% dos ônibus da linha 756 (Barra da Tijuca - Senador Camará). No entanto, a 367 foi incorporada à Viação Bangu, em março de 2010, após ter passado pela mão da Viação Campo Grande alguns meses antes, cujo sucateamento se compara à Viação Feital. Além disso, apesar da foto acima retratar um dos veículos da Feital no ano de 2005, não significa, necessariamente, que modelos mais novos tenham sido incorporados à frota. .



A IMPLEMENTAÇÃO da nova linha E05, que liga Urucânia ao Largo da Carioca: a placa com o itinerário e o modelo dos veículos.


Reestruturação do sistema de ônibus
Desde o ano passado, a Zona Oeste vem recebendo novas linhas de ônibus para melhor atender à população. Além das linhas que integram ao metrô, como as que saem de Bangu e Santa Cruz à estação Coelho Neto, na linha 2, em janeiro de 2010 foram inauguradas as linhas 363 (Roque Barbosa – Tiradentes), 364 (Gericinó – Tiradentes) e 802 (Taquaral – Bangu), sendo este último circular ali pela Zona Oeste mesmo. Entre a Rua Roque Barbosa, em Bangu, e a Praça Tiradentes, no Centro, são 82,2 km, contra os 90,40 km percorridos pela nova linha 364. Uma distância e tanta! Além destas, visando o conforto dos moradores da Zona Oeste, foram criadas outras duas linhas, ministradas pela viação Expresso Oeste, com ar condicionado em modelos semi-rodoviários, sendo elas as linhas E04 (Cosmos – Carioca) e E05 (Estrada da Urucânia – Carioca). O conforto, no entanto, tem seu preço: a tarifa custa R$ 4,80. Até que está em conta, uma vez que existem linhas do mesmo nível de conforto – bancos reclináveis e refrigeração – custando mais de R$ 5 em trajetos bem mais curtos, como do Grajaú ao Castelo ou do Leblon à Rodoviária. De todos os modos, é uma safadeza – com o perdão da palavra.

*A fonte das fotos está contida nelas próprias.

4 comentários:

nuno graça disse...

A Oriental foi cassada em definitivo pela prefeitura, a Ocidental continua operando, mas para sobreviver teve que vender a 397, há boatos que a empresa foi comprada pelo grupo Breda Rio, e a Feital ainda não morreu, e inclusive ambiciona voltar a operar. Houve também o fim das atividades da Transportes Santa Sofia, e sua principal linha, S-11 Cosmos X Praça XV está sendo operada pela Bangu.
Dois dos grandes vilões do transporte urbano do RJ que contribuiram para a carência na zona oeste foram: A tarifa única, pois em linhas de longa distância e que carregam muito pelo trajeto todo (397, 398) há um consumo de combustível e um desgaste mecânico dos carros muito mais acentuado do que em linhas locais por exemplo, e o arrecadado não era suficiente para cubrir todas as despesas. O outro foi a ausência do poder público, em ações de fiscalização e até de subsídio às empresas, podendo estimular integrações entre linhas locais e linhas diretas ao Centro, Barra e Zona Sul, e intermodais com Metrô (como é feito em Coelho Neto) e Supervia. Como resultado, vemos uma guerra das empresas entre si e com as vans, que se aproveitam da precariedade dos ônibus para lucrar. Um exemplo ocorre na linha 858 Campo Grande X Santa Cruz, que segue pelo importante corredor da Avenida Cesário de Melo, uma área densamente habitada, operada por vans com ar-refrigerado a R$ 2,00 e com intervalo de 2 em 2 minutos, e operada pela ExpressOeste com micros velhos a R$ 2,35 com intervalos de quase meia hora. Resultado, no micro praticamente só viajam gratuidades, e as vans andam cheias.

Cintia disse...

Olá,
Sou gaúcha, de Porto Alegre, e fazendo uma busca sobre a imagem de um bairro aí no do Rio, cheguei no seu blog.Aliás, diga-se de passagem que fiquei encantada com esse bálsamo que vc proporciona, não só para os cariocas, mas como para os realmente apaixonados pelo Rio como eu!!! :)
Faz 4 anos que infelizmente não tive outra oportunidade de pisar nessa cidade linda, e morro, mas morro de saudade mesmo, fiquei literalmente nostálgica e encantada no seu blog, pela descrição dos bairros, ruas,casas, prédios,etc.Fiz um breve passeio pelos lugares em que estive e noutros que nem conheci (ainda).
Achei mto bacana e lhe parabenizo pelo trabalho! Com certeza voltarei mais vezes para saborear o Rio com mais calma e trarei meu pai junto, outro amante do Rio e do seu povo tão receptivo.
Parabéns pela iniciativa! Abraços gaúchos :)
Cintia (cintiajadenene@gmail.com)

Cris Chagas disse...

O transporte no Rio será precário enquanto o foco for o meio rodoviário e não o ferroviário. Não há rodovia no mundo q dê vasão pra essa gente toda!

Samila Soares disse...

A Ilha é um bairro tão legal!!! Tenho familia lá e passei boa parte da infância naquela área, mas entrar e sair é fogo. O trânsito é horrivel e da Tijuca só tem o 634 que dá a volta ao mundo. Sds.