6.11.10

Entre o alto e o baixo da Gávea

Ruas na Gávea preservam muito do que já não existe mais na Zona Sul: bucolismo e sossego


Mapa do trecho percorrido
As minhas idas à Gávea se restringem sempre ao início da Rua Marquês de São Vicente, onde está o Shopping da Gávea, com uma das melhores salas de cinema da cidade. Vou no máximo até a PUC. Mas, para o blog (e para o meu acervo de fotos, é claro!), resolvi ir mais além: ultrapassei um considerável pedaço da principal rua do bairro em direção ao oeste. Se no trecho inicial o burburinho é maior devido ao shopping, a Marquês de São Vicente fica cada vez mais rústica a medida que vai se distanciando ali da Rua Vice-Governador Rubens Berardo. O que predomina é uma imagem de bairro antigo, com lojinhas locais, uns sobrados e edifícios antiguinhos, alguns mal conservados, outros recuperados. Sem dúvidas, o mais antigo nesta paisagem é a beleza do Dois Irmãos, bem ao fundo. Lindo!

Na subida da Rua Marquês de São Vicente, o Dois Irmãos e a Rua João Borges, à direita: passeio na Gávea rendeu-me uns bons cliques. Acompanhe!

Segui o percurso e parei exatamente ao lado de uma placa-pirulito, mostrando-me que, à direita, a rua levava o nome de João Borges. Uma outra placa, do outro lado da rua, indicava que ali era caminho para a Clínica São Vicente. Antes de prosseguir, quero dizer que a minha parada nessa esquina não foi acidental - eu já tinha planejado que iria para essa região. Eu parei mesmo porque ontem, sexta-feira 5, o calor tava de matar! Continuemos...

A Rua João Borges tem como características principais o seu conjunto de cores, árvores e flores. Estas últimas, no entanto, devem ser fruto da Primavera, a estação de agora que mais está parecendo o Verão.

Uma das casas na João Borges.
Essa é mais incrementada
A Gávea é engraçada: se por um lado a Rua Marquês de São Vicente é o "sapo" desta área, por outro, as ruas internas são as "princesas". Que ruas agradáveis e bonitas! A João Borges é colorida, arborizada e florida! É difícil conseguirmos esses três elementos em um mesmo logradouro. As cores que mais me marcaram nessa rua foi o rosa, de uma casa espetacular nomeada de Canto das Mangueiras, e o laranja, de uma casa mais simples, mas não menos bonita. Sem mencionar o verde quase neon de um Opala antigo estacionado em frente a um casarão com portões de madeira. Os poucos edifícios da Rua João Borges são antigos e com venezianas, do jeito que eu gosto. Mas as casas... Ah, essas casas... Elas são predominantes na paisagem e seu maior luxo é serem simples.

Fim do primeiro trecho da João Borges, ponto onde ela se encontra com outra rua, a Duque Estrada. Muitas árvores, muito verde... Parece uma cidade de interior.

Uma cabine da PM, muros recobertos por plantas, uma placa trilíngue indicando o caminho da Clínica São Vicente, uma outra ruazinha simpática e, nesta esquina, um edifício baixinho, de três andares. Branquinho com janelas de madeira em azul vivo. O cercado foi preenchido por um jardim dos mais simpáticos. Uma portaria com escadinhas sutilmente decoradas por azulejos. Na parte frontal, janelões - os apartamentos devem ser confortáveis!

Eis o tal edifício bajulado no parágrafo anterior. Ele fica bem na esquina, além de ter um outro gêmeo, ao lado, na Rua Duque Estrada.

Jardim do edifício
Solar Duque Estrada
Aparentemente não tem garagem, mas para quê? O edifício lembra-me uma espécie de mini pousada, com elementos de um chalé, desses que ficam na serra ou em hotéis-fazenda. Só faltou uma namoradeira na janela. Virei à direita. A ruazinha simpática, em questão, é a Duque Estrada. Como a João Borges, ela é composta por muitas casas e poucos edifícios. Imóveis de diferentes épocas e estilos. Os prediozinhos mais baixos são os mais antigos, e os mais gostosos de se admirar. Muros baixinhos e cores fortes, que se transformam em uma particularidade da Rua Duque Estrada. Mais uma vez, o que impressiona são as árvores e flores. Há de tudo, palmeiras, jardins, amendoeiras, árvores com troncos longos e finos, que remetem à imagem de um relâmpago.

Apesar de serem prédios antigos e sem garagem, o que é quase um pecado imobiliário para os dias atuais, eles conseguem se sobressair nos detalhes. O colorido faz ou não a diferença?

Contraste entre o
novo e o velho
A Duque Estrada poderia ser sinuosa se as suas curvas não fossem tão fechadas. São vértices bem definidos, que impedem o pedestre de saber o que há adiante. É um labirinto onde somente a coragem em avançar é que lhe dará a visão do que cada cantinho deste lugar segue preservando. Num desses avanços foi onde eu me deparei com quatro casinhas do arco da velha! Aparentam ser resquícios das vilas operárias que existiam na Gávea e no Jardim Botânico no início do século passado. Essa era uma região de muitas fábricas e com a valorização dos terrenos na Zona Sul foram sendo expulsas para dar espaço aos novos empreendimentos imobiliários. Final das contas: tais casinhas, hoje, fazem um contraste muito interessante com a arquitetura mais contemporânea, não só pela altura de alguns espigões como, também, pelo seu colorido.

Diferentes tipos arbóreos ao longo da Rua Duque Estrada. Todas as ruas do Rio poderiam ser assim, não acham?

O som saía desses
bueiros
Aproximando-me do final da Rua Duque Estrada, foi possível ouvir um barulhinho de riacho, algo similar a isso. Olho para o chão e há um bueiro. Não é um simples bueiro; tem água corrente e que faz o tal barulhinho. Olho para a direita e há um tipo de buraco com grades entre um condomínio e o número 33 da rua. Meti minha cara para ver o que era: algo parecido a um córrego. É provável que seja proveniente do Rio Rainha, que desce o Alto da Boa Vista em direção à Gávea, não sei. O que vale mesmo é o som proporcionado! Ninguém mais precisa comprar aqueles equipamentos de água corrente sobre um conjuntinho de pedras vendidos em lojas esotéricas.

A Duque Estrada termina na Marquês de São Vicente como um pólo de colégios do munícipio.

Ficou longo esse post, mas eu cheguei ao final dele - e da Rua Duque Estrada, também. Ela termina exatamente onde eu comecei, que foi na Marquês de São Vicente, de frente para um muro extenso de altura limitada. À minha esquerda, dois colégios municipais repletos de crianças que aguardavam, ansiosos, por seus pais. Cinco da tarde de uma sexta-feira - que momento mais feliz! Eu, no entanto, saí da minha excursão fotográfica e fui à procura de um mate bem gelado... Caiu bem!