25.4.11

Avenida Rainha Elisabeth: a rua que é pomposa até no nome

Na Avenida Rainha Elisabeth, tudo é pomposo: desde o seu nome até os edifícios e casas levantados por lá, incluindo aí a sua nobre localização, entre Copacabana e Ipanema, bem pertinho do Arpoador, na Zona Sul da cidade. Vale lembrar que ela é do início ao fim protegida pela orla - começa na Praia de Copacabana terminando na de Ipanema. Privilegiada, não?

Mapa da rua fotografada e o seu entorno, na Zona Sul do Rio

Mas não só de pompa ela vive. A Rainha Elisabeth (a avenida, e não a rainha!) também provoca sensações de alívio no dia-a-dia, principalmente para quem se direciona para Ipanema e Leblon nos dias úteis, bem na hora do rush. Tudo bem que com o BRS da Barata Ribeiro e Raul Pompéia o trânsito vem melhorando na região, o que não impediu de apagar da memória o sufoco que era pegar todo o caos da Barata Ribeiro às seis e tanta da tarde e o alívio provocado ao ver o seu ônibus (ou carro) conseguir entrar à direita, na Rainha Elisabeth. Significa "escape", "reestruturação da paciência", "fim do estresse", entre outras formas de expressão.

O cruzamento com a Raul Pompéia
Tanto é uma avenida de passagem entre duas regiões que muitos nem percebem com detalhes os seus monumentais edifícios e jardins. Até porque muitos pedestres preferem fazer a conexão Copa-Ipanema através da Rua Francisco Otaviano, restando à Avenida Rainha Elisabeth o fluxo de automóveis e moradores. Não exatamente só de moradores; por ali circulam muitos gringos, arrastando suas malas pelas calçadas de pedras portuguesas, enquanto outros entram e saem do restaurante Broth, quase na esquina com a Canning, já no território ipanemense. É fácil identificá-los como gringos simplesmente pela quase ausência de cor de pele, se não fosse pelo vermelho do sol. Aliás, os gringos são uma marca de Ipanema. Não há como pensar em Ipanema sem não associá-los. Copacabana hoje é menos "gringa" e mais turística. Isto é, engloba mais turistas de outras áreas do planeta que não sejam loiros-de-olhos-azuis do que a vizinha Ipanema.

Vista lateral do edifício Acary, localizado no Largo do Poeta

O charmoso edifício Oliveira
A Rainha Elisabeth é representantíssima do estilo art déco, entre outros edifícios maravilhosos dos Anos Dourados. Escadarias com corrimão de bronze, portarias luxuosas, mosaicos, venezianas... Encontra-se de tudo do que há de mais simpático na cidade, o que a torna um dos meus logradouros favoritos. O nome dos edifícios são fáceis de serem guardados, pela simplicidade e por, em geral, remeterem à algo histórico: Aquidabã, Piratininga, Rio Verde, Marcio, Itayã... O Acary é meu preferido, enquanto o Oliveira, no número 601, destoa totalmente dos demais. O Guia de Arquitetura Art Déco no Rio de Janeiro, organizado pela Prefeitura (Editora Casa da Palavra, 3ª edição, 2001), descreve:

"Obra singela com características balneárias. Os compartimentos de canto, voltados para 45º para uma hoje encoberta paisagem, sugerem uma intenção de visão ampla do horizonte que só os mirantes proporcionam. (...) Os frágeis guarda-copos das varandas, desprovidas de parapeitos de alvenaria, inspiram-se nos decks e passadiços de arquitetura náutica".

O busto do Rei Alberto
da Bélgica
Na esquina com a Rua Conselheiro Lafayete, o que talvez seja a fronteira entre os dois bairros que hospedam a Avenida Rainha Elisabeth, está um simpático largo. É bem ajardinado, possui uma filial do badalado supermercado Zona Sul, e ainda conta com um busto do Rei Alberto I da Bélgica, que visitou o Rio junto de sua esposa, a Rainha Elisabeth, em 1920. No entanto, a antiga Rua Doutor Pires de Almeida só se transformou em Avenida com o nome da rainha dois anos depois, por decreto do então prefeito Carlos Sampaio (mais informações no blog Rio Curioso). Mesmo homenageando o Rei Alberto, o largo tem como referência é Carlos Drummond de Andrade. O Largo do Poeta foi inaugurado em 1990 e leva, em suas pedras portuguesas, algumas das frases mais célebres do poeta. Só para constar: é ali onde está o luxuoso edifício Acary, como vocês verão nas fotos. 


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Mesmo com toda a pompa, a avenida não consegue fugir dos terríveis cocôs de cachorro. É um mal que amedronta toda a cidade, de norte a sul. É impressionante! Andar por ali requer cuidado com a sola do sapato. Não me esqueço até hoje de uma inteligente placa instalada na pequena Rua Goethe, em Botafogo: "Recolha as fezes do seu cachorro. O animal é ele, não você!". Outra associação bastante original foi a dos moradores do Flamengo, em uma certa ocasião: "Cocô só Chanel". Apesar da bosta espalhada, algo passa a ser mais sufocante do que o citado odor: a vista da praia de Ipanema, com o Morro Dois Irmãos, chegando ao final da Rainha Elisabeth. Ok... Incluo aí também as meninas de biquini que passeiam pela Vieira Souto, em bicicleta ou a pé... Paisagem sufocante... Céus!...

22.4.11

O nosso Ibirapuera

Injustamente a Quinta da Boa Vista é conhecida (ou prejulgada) como "parque de pobre", "de suburbano", ou qualquer outro termo que refira à algo fora da moda e do sofisticado. Besteira das grandes! Como já havia dito, no Rio de Janeiro, a cultura do parque é pouco valorizada em função da praia, que aquece e refresca os corpos mais necessitados nos dias de calor que nos são comuns. Existe aquela coisa também do que "está fora da Zona Sul" não é bacana - é feio, pouco seguro e cafona. Se é assim que a classe formadora de opinião pensa, estão perdendo! A Quinta da Boa Vista é agradabilíssima, linda e relaxante.

Mapa do entorno do parque
Há tempos que não entrava lá. Logo na entrada, surpreendi-me ao ignorar a história do lugar contada em diversas placas ao longo de suas alamedas. Projetada pelo paisagista francês Auguste François Marie Glaziou (mais popular como Glaziou, como a rua de mesmo nome, em Pilares), o jardim da Quinta da Boa Vista é cheio de curvas sinuosas, altos e baixos, lagos - onde se pode remar e andar naqueles pedalinhos em formato de cisnes. Há também uma pequena, estreita e pitoresca ponte de madeira sobre um dos lagos, além de grutas artificiais. Um dos monumentos que mais se destacam na Quinta é o Pagode Chinês, construído em 1910 e restaurado há pouco tempo, em 2009, já na gestão do prefeito Eduardo Paes. O seu acesso se dá através de suaves degraus margeados por pedras. Era de fato o lugar mais disputado!

Devido ao desnível entre as alamedas, diversas famílias e grupos de amigos se esticavam em grandes toalhas e cangas pelos gramados - lotados de formigas, por sinal. Eu e Fernanda, que me acompanhava (e a quem agradeço pelas boas fotos!), fomos picados de leve, o que não nos tirou o humor. Sem nenhuma cerimônia, cestas, tupperwares e até panelas eram abertas por ali, dando início ao picnic bastante familiar. Acho que só fiz picnic uma vez na vida, em Paquetá, quando criança. Depois, nunca mais. Pelo o que vi pela Quinta, os visitantes adeptos a isto pareciam ter experiência, já que traziam quase a cozinha inteira de casa. Bom... era mais como forma de ajeitar tudo da melhor forma possível no final, sem deixar sujeira, do que simplesmente festejar ou causar balbúrdia. O ambiente é bem familiar, eu garanto!

Por trás do belo casario onde funciona o Museu Nacional, há uma alameda gastronômica bastante da popular e típica. São diversas carrocinhas de cachorro-quente, churrasquinho, doces e balas, entre outros sanduíches. Sem contar os isopores cheinhos de gelo e refrigerantes - nesse dia me resfresquei com um guaraná natural dos meus preferidos! Muitos artistas de rua se embrenhavam em meio aos brinquedos coloridos de plástico vendidos por simpáticos ambulantes, enquanto famílias inteiras pedavalam aqueles bicicletões típicos da Avenida Atlântica aos domingos. 

Contabilizando... passamos 3 horas e alguns minutos lá, assim, de bobeira, sem pensar na vida, curtindo, relaxados, o frescor de um lugar pouco divulgado e de tão fácil acesso. Fica a dica, meu amigo - a Quinta da Boa Vista é o nosso Ibirapuera. 

Quinta da Boa Vista
Entrada pela Rua General Herculano Gomes ou pela Avenida Rotary Internacional.
Metrô/Trem: Estação São Cristóvão.
Alguns dos ônibus que passam por ali ou perto (Radial Oeste): 434 (Grajaú-Leblon), 435 (Grajaú-Gávea), 436 (Grajaú-Leblon, Via Rebouças), 460 (São Cristóvão-Leblon), 461 (São Cristóvão-Ipanema), 463 (São Cristóvão-Copacabana), 232 (Praça Quinze-Lins), 247 (Camarista Méier-Passeio), 249 (Água Santa-Carioca), 254 (Praça Quinze-Madureira), 268 (Praça Quinze-Rio Centro), 284 (Praça Seca-Tiradentes), 665 (Saens Peña-Pavuna).

18.4.11

À beira da Quinta

Um especial sobre o conjunto de ruas que vêm ganhando novíssimos empreendimentos imobiliários e mudando a cara da região que já foi a mais nobre do Rio

Mapa do entorno da Quinta da
Boa Vista, na Zona Norte do Rio.
Em uma manhã ensolorada de domingo, supõe-se que todos os cariocas estejam se dirigindo para as praias ao sul da cidade. Certo? Errado! Pela passarela que interliga a Avenida Radial Oeste e São Cristóvão passavam dezenas de pessoas recém-desembarcadas do metrô e do trem em direção à Quinta da Boa Vista, parque que eu não visitava há mais de uma década. Lembro-me com carinho dos passeios da escola ao Jardim Zoológico e aos picnics no gramado da Quinta. No entanto, antes de revisitá-la, fiz um recorrido a pé pela avenida que margeia o parque onde morava o imperador.

 Muitas pessoas desembarcam nas estações São Cristóvão do metrô e do trem para aproveitar o dia na Quinta da Boa Vista.

Antes de mais nada, é preciso informar aos navegantes que andar a pé por ali só vale a pena se for em um dia como esse, de grande movimento pelo parque e com a luz do sol, de preferência. Basta cair a noite para que a Quinta da Boa Vista mergulhe na escuridão ainda mais fortalecida pela quantidade de árvores e folhas centenárias de São Cristóvão. Sem esquecer de que é no período da noite o momento menos charmoso da Quinta, já que se converte em zona de prostituição e de alguns meliantes. Um defeito contínuo, que pode ser remediado com a implantação de eficientes políticas públicas.

Mesmo assim, recomendo um passeio por ali - ainda que seja de carro., se você preferir. Até porque, como já relatei no post anterior, existe um movimento de recuperação de São Cristóvão e as avenidas Rotary Internacional e General Herculano Gomes prometem ser as maiores beneficiadas. Afinal, morar de frente para um espaço verde como a Quinta é sinônimo de status em outros lugares... Menos no Rio, que tem a praia como carro-chefe (e quase único) no que tange aos espaços de lazer, em detrimento dos grandes espaços verdes urbanos. 

 O início da Rua General Herculano Gomes em dois momentos: defronte para a passarela que liga a Radial Oeste e, na outra, já com o Hospital Quinta D'or, na Rua Almirante Baltazar.

O início da Rua General Herculano Gomes é bem confuso, principalmente em função do formigueiro humano que transita entre o parque, o metrô e o trem, logo ali. Um ponto final de ônibus de linhas que vão para Copacabana e Leblon, todos daqueles amarelinhos, também contribui com a desordem. A entrada da Quinta também é caótica nos dias de domingo, embora seguir pela General Herculano Gomes em direção ao Campo de São Cristóvão seja bem mais tranquilo. Poucos pedestres, é claro, e muitos automóveis procurando onde estacionar.

 A Rua General Herculano Gomes lembra um pouco a Avenida República do Líbano, em São Paulo, que é a que circunda ao norte o Parque do Ibirapuera.

A placa indica praça
na rotatória
Quem conhece São Paulo e consegue identificar suas particularidades, diria que a Rua General Herculano Gomes é um exemplo paulistano dentro do Rio. Larga, duas pistas e canteiro central, parece de fato uma daquelas ruas paulistanas, principalmente a que circunda o Parque do Ibirapuera. Árvores gigantescas que se alinham às outras árvores no interior do parque, promovendo um grande telhado de folhas e galhos. Há, inclusive, um certo desnível entre uma pista e a outra, tendo o canteiro central um pequeno aclive todo cheio de grama. É muito bonito - e poderia ser ainda mais se fosse menos mal amado.

Surgimento de
novos prédios
De prédios e casas, a General Herculano Gomes é bem pobre. Pobre no sentido de que não há muita coisa construída (a não ser galpões abandonados), o que nos impede de ver e admirar, situação que está mudando com a construção de novos condomínios. Espaço é o que não falta. Há pelo menos dois novos condomínios em construção, já levantados e no esqueleto, com previsão de entrega para o final de 2011, perto já da Avenida Pedro II. Mais para o início da rua, está o Hospital Quinta D'or, inaugurado em 2001. Talvez ele que tenha recuperado um pouco a lembrança de que, sim, existe um parque do porte como o da Quinta da Boa Vista aqui no Rio de Janeiro. Para os portadores de plano de saúde, o hospital é referência e atrai pacientes de todos os cantos da cidade.

 A chegada à praça rotatória, onde está o antigo portão do parque. Ali é a confluência das avenidas Pedro II e Rotary Internacional e da Rua General Herculano Gomes.

A mureta do Museu Conde
de Linhares
Acho que o grande barato do lado de fora da Quinta é quando se chega à união da Rua General Herculano Gomes com as avenidas Pedro II e Rotary Internacional. É ali, numa praça rotatória, onde está o antigo e formosíssimo portão da Quinta da Boa Vista, mantido intacto após intervenções viárias na região. Esse, na minha opinião, é um dos locais da cidade de que eu mais gosto. Acho muito bonito esse portão e o seu entorno, de trânsito  carregado devido à confluência das três avenidas citadas.

 O panorama da Rua General Herculano Gomes, vista da praça onde está o antigo e intacto portão da Quinta da Boa Vista.

Já quando a Herculano Gomes se transforma em Avenida Rotary Internacional é que aparecem os primeiros condomínios já construídos da região. Na verdade, o endereço oficial do condomínio Paço Real, por exemplo, é o da rua detrás, Euclides da Cunha 255. Uma série de lançamentos imobiliários pretende mudar a cara dessa parte do bairro, tornando-o mais agradável e familiar. Se depender dos números dos novos empreendimentos, é bem capaz que o tenebroso panorama que assolou a Quinta esteja mudando sim. Aliás, eu espero que sim, porque é uma área nobre sob todos os pontos de vista, principalmente o histórico. É preciso recuperá-la! 


 O condomínio Paço Real, pioneiro na região, e os seus jardins na Avenida Rotary Internacional. 

A minha caminhada terminou bem na esquina com a Rua do Parque. Não segui até o final da Rotary Internacional porque estava ansioso para curtir as belezas do interior da Quinta. Por lá estava bem divertido... vocês verão na próxima postagem! Um abraço! 

 Fim do percurso, próximo à Rua do Parque. Encontrem-me agora dentro da Quinta! Acompanhem! 
 

17.4.11

A redescoberta de São Cristóvão como lugar para viver

"Tá ficando muito caro para morar aqui no Rio", disse uma jovem recém-empossada executiva de uma prestigiada empresa pública nos arredores do Largo da Carioca para o amigo, colega de profissão.

"Pois é, eu estou de aluguel lá em Copacabana, mas consegui comprar na Tijuca. Vou me mudar na semana que vem", respondeu ele, aparentando sutilmente ser de fora do Rio em função do sotaque meio apaulistado.

"Ih, mas até a Tijuca já está caro! Eu vou fazer que nem um conhecido meu, que acabou de comprar na planta um apartamento em um condomínio novinho na Quinta da Boa Vista. Foi onde ele pôde pagar", complementou ela, com ares meio capixabas. Não sei se acertei, só tenho a certeza de que os dois eram "estrangeiros".

"Onde fica isso?", contestou o rapaz, na faixa dos 30 anos.

"Bem ao lado do Maracanã e da estação São Cristóvão do metrô. O problema é que esse metrô vive cheio..."...

A conversa acima foi captada por mim, sem-querer-querendo, enquanto me dirigia ao metrô na última sexta-feira por volta das 18 horas. Costumo escutar muitas conversas aleatórias por aí, só que geralmente eu as esqueço em questão de minutos. Essa, no entanto, fez-me refletir ainda mais sobre esse assunto da moda que eu venho discutindo aqui no blog: o alto custo de morar no Rio.

Quinta da Boa Vista: o charmoso
parque foi residência do imperador
Acho bem interessante como esse surto nos preços de imóveis e serviços tem provocado uma mudança no comportamento do carioca e dos não-cariocas, aos montes por aí devido às numerosas aprovações em concursos públicos para órgãos e empresas públicas instaladas na cidade. Mais do que isso, considero essa mudança de comportamento mais relacionada às pessoas mais jovens, dando iniciando à "vida adulta", e em um menor grau aos mais velhos, que são mais conservadores e já possuem uma vida mais estabilizada. 

Se até poucos anos atrás jovens bem sucedidos como esses aproveitavam a estabilidade financeira para investir nos preços moderados de quarto-sala na Zona Sul, hoje o panorama já não é mais assim. A procura por qualidade de vida é incessante, sem dúvidas, embora eu acredite que gastar uma simbólica parte do salário para morar em microapartamentos perto da Orla não está sendo mais grande vantagem. Bom... vantagem sempre é, não podemos negar; mas que a situação atual do mercado imobiliário acarreta migrações quase forçadas, isso sim ninguém pode negar. 

O ponto principal é que, se anteriormente a compra de imóveis nas áreas mais badaladas da cidade já era impensável, o aluguel figurava ser uma maneira de escapatória para as espantosas cifras dos classificados. Agora, no momento em que vivemos, até o aluguel já se mostra impraticável. 

Então... qual direção seguir?

São Cristóvão e seu entorno
Não é a maioria dos casos, mas sinto que há um movimento de procura em áreas estratégicas e pouco visadas. Um exemplo ainda tímido e que servirá de tema para as próximas postagens é o de São Cristóvão. Bairro da nobreza, sede da residência imperial e dona de uma história invejada, a região vive em decadência há muitos anos. São Cristóvão fica ao lado do Centro e da Rodoviária, é passagem quase obrigatória para o Aeroporto Internacional e Ilha do Fundão, está ao lado do Maracanã e do Túnel Rebouças, e ainda conta com uma estação de metrô e outra de trem, com conexão para os diferentes (embora arcaicos) ramais da Supervia. 

No fim da década passada, empresas como a RJZ Engenharia, Cyrela e Concal resolveram investir na construção de um condomínio, o Paço Real, de apartamentos voltados para a classe média da Zona Norte numa avenida pra lá de morta: os arredores da Quinta da Boa Vista, esplendoroso parque onde morou o Imperador D. Pedro II, local hoje do Jardim Zoológico e do Museu Nacional. Eu e meus pais pensávamos que aquele investimento seria um fracasso. Ledo engano... todas as unidades foram vendidíssimas.

Inclusive tive a coincidência de pessoas que fazem parte da minha rotina terem adquirido um imóvel por ali. No final das contas, o empreendimento tornou-se atrativo, na verdade, para o pessoal classe média da Zona Sul, que vivia de aluguel, sem condições de bancar um apartamento próprio por lá. Se não me esqueço, o condomínio Paço Real oferecia apartamentos de 2 a 3 quartos, custando entre R$ 150 mil a 300 mil reais, facilidade no crédito, piscina, churrasqueira, playground... 

Pavilhão de São Cristóvão, em desenho.
© FAPERJ
Outros empreendimentos imobiliários pretendem aquecer o setor imobiliário da Quinta da Boa Vista. Alinhado à isso, projetos da prefeitura têm estimulado a revitalização de São Cristóvão, que já é conhecido como o novo polo da moda: são mais de 65 fábricas das melhores grifes instaladas nos bairros mais ricos, como a XSite, Armadillo, Osklen, Farm e Leeloo. Já do ponto de vista histórico, São Cristóvão conta com inúmeras atrações turísticas pouco exploradas por turistas e moradores, entra elas, quatro museus: o Nacional da UFRJ, o Militar Conde de Linhares, o do Primeiro Reinado e o de Astronomia. Não posso esquecer de mencionar o divertido Centro de Tradições Nordestinas (vulgo "Feira dos Paraíbas"), no Campo de São Cristóvão.

Na próxima postagem eu falarei mais detalhadamente sobre os arredores da Quinta da Boa Vista - e a própria - em fotos tiradas hoje, domingo de manhã. 

Leia mais sobre:
Site do condomínio Paço Real, localizado em frente à Quinta da Boa Vista: http://www.pacoreal.com.br .


16.4.11

Rio nos Anos Dourados + Art Déco bem ali, na Cinelândia

Av. Delfim Moreira, no Leblon, em 1960: lembra um pouco
Piratininga, em Niterói. Essa foto faz parte da exposição!

A dica vai para quem trabalha durante a semana no Centro, ou até mesmo para quem não trabalha e está sempre por lá, ou, também, para aqueles que se interessarem: desde o último 6 de abril, o excelente Centro Cultural Justiça Federal está com a exposição "Memórias da Cidade - Anos 1950 e 1960". Ela é toda baseada no acervo de fotografias da Agência O Globo, ocupando duas salas no primeiro andar do prédio. Todas as fotos são muito interessantes, mostrando bem a rotina do carioca nos Anos Dourados e o detalhes das ruas e praças, assim como da moda e do comportamento.

Apesar de ter curtido bastante a exposição, fiquei um pouco decepcionado por mais uma vez ter visto apenas fotos de regiões como a do Centro e a de Copacabana. Qualquer exposição ou livro que haja sobre o Rio Antigo, os organizadores insistem nesse clichê de só mostrar o Centro e partes da Zona Sul. Mas... tudo bem, perdoados! Posso compreender que não exista tanto material disponível de outras áreas, embora torça para ver, em uma outra oportunidade, fotografias da mesma época de Santa Teresa, Rio Comprido, Tijuca, São Cristóvão, dos subúrbios, e até mesmo da Lagoa com a favela da Catacumba ali na Avenida Epitácio Pessoa. E só duas observações: 1) a exposição é bem enxuta, vê-se tudo em menos de vinte minutos; 2) o folheto oficial da mostra traz todas as imagens impressas! Coisa para colecionador!

Mais uma informação... No mesmo lugar, dia 27 de abril, quarta-feira, acontecerá uma palestra ministrada pelo professor de História da Arte Carlos Medeiros sobre a presença art déco na arquitetura carioca, nas décadas de 30 e 40. Inclui-se aí projeção de vídeo das imagens de bens representativos do estilo em lugares específicos da cidade. As vagas são limitadas. 


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"Memórias da Cidade", de 06.04.2011 a 22.05.11
Onde: Centro Cultural Justiça Federal
Endereço: Avenida Rio Branco 241 (estação Cinelândia do metrô) | Centro | CEP 20040-009
Horário: Terça a domingo, das 12h às 19h. Entrada franca.
Telefone: 0xx21 3261.2550

"A representatividade do acervo arquitetônico Art Déco na cidade do Rio de Janeiro" (palestra)
Quando: 27.04.11, quarta-feira
Informações: 0xx21 3261.2553
Vagas limitadas!

3.4.11

Um exemplo italiano que combinaria com a Rua da Constituição

Vista aérea da rua, no centro de Cerea:
bancos e gramados
Há algumas semanas, o meu irmão Felipe (arquiteto, urbanista e futuro designer!, que também escreve o Disegno à Milanesa) enviou-me o site do Zucchi Architetti, um escritório de arquitetura italiano comandado por Cino Zucchi, profissional de Milão com passagens pelo MIT e Politecnico di Milano.

Na parte nomeada de "Spazi Aperti e Paesaggio" (Espaços abertos e da paisagem) no site, Felipe mostrou-me um dos diversos projetos vencedores do Zucchi Architetti, mais especificamente o "Nuovi spazi pedonali", que acabou sendo implementado em 1997 em uma comunidade da Verona, na Itália.

No caso, uma determinada rua do centro histórico de Cerea foi recuperada através de um novo projeto paisagístico, tornando-a um espaço mais voltado para pedestres do que para automóveis. As calçadas transformaram-se em verdadeiras praças cuidadosamente pavimentadas, incluindo a implementação de bancos de madeira com design bastante original. Não posso esquecer de mencionar a adoção privilegiada de pequenas árvores instaladas ao longo da rua.

À noite, e o piso que circunda
as árvores
Ao pôr os olhos nesse trabalho veio-me logo à cabeça exemplos parecidos aqui no Rio. Ou melhor, lugares parecidos e que poderiam receber essa mesma remodelagem. Atualmente, a Praça Tiradentes anda vivendo um período de revitalização, obras em todo o seu entorno, uma nova casa noturna (o Espaço Acústica), além de nova iluminação e a recuperação de diversos imóveis ao redor. A Rua da Constituição, uma das ruas que margeia a praça, se encaixaria perfeitamente em um projeto como esse de Verona. Acredito muito na recuperação de um determinado lugar quando este é primeiramente recuperado visualmente. E acredito, também, no potencial da Praça Tiradentes - afinal, base é o que menos lhe falta: dois teatros badalados, o Centro Cultural Hélio Oiticica e dezenas de imóveis históricos lindíssimos. Só precisando daquele empurrãozinho dos órgãos competentes... 

 Panorama da Rua da Constituição, no Centro do Rio. O grande entrave de se implementar um projeto parecido como o do Zucchi Architetti ali é a grande quantidade de população de rua. Os bancos seriam ou não usados como cama? Provavelmente sim. De todas as formas, compare as duas imagens e veja que sim, seria agradável uma remodelação paisagística por ali. 

* Fotos originais do site http://www.zucchiarchitetti.com