27.6.09

A Rua Paissandu e as suas palmeiras

Rua Paissandu, na Zona Sul carioca
Para a postagem de hoje, eu estive na região do Flamengo, na Zona Sul do Rio, fotografando a Rua Paissandu, endereço já bem manjado pela maioria dos cariocas devido a sua bela peculiaridade: as gigantescas palmeiras. Instaladas ainda na época do Império, as palmeiras cobrem toda a extensão da Rua Paissandu – desde o seu início na caótica Rua Pinheiro Machado, até o seu fim, na Praia do Flamengo, onde os prédios, nesta localização, possuem uma bela e invejável vista para o Aterro do Flamengo. Esse panorama, aliás, na minha humilde opinião, desbanca facilmente o visual estonteante da Lagoa Rodrigo de Freitas.

Outra particularidade da Rua Paissandu é a imponência dos edifícios e casas ao longo de toda a vida. Não sou nenhum expert em estilos arquitetônicos, tampouco sei com exatidão a verdadeira época em que foram construídos, mas, se me fosse dada a oportunidade de chutar uma data, diria que eles seriam dos anos 40 e 50. No mais, convenhamos: não é preciso ser um especialista no assunto para entender que a Paissandu foi uma rua de grande glamour no passado e que, até hoje, consegue manter seu charme em um Rio de Janeiro cada vez mais degradado.

Partindo-se da Praia do Flamengo em direção à Rua Pinheiro Machado, encontrei o Hotel Paysandú, de arquitetura bastante apreciável. O hotel, de acordo com informações do seu próprio website, serviu para a hospedagem da seleção de futebol do Uruguai na Copa de 1950, além de ter recebido outras figuras importantes da política brasileira nesta mesma época devido à proximidade do estabelecimento com o Palácio do Catete, local de poder do, até então, Distrito Federal.





Os cruzamentos da Paissandu com as ruas Senador Vergueiro e Marquês de Abrantes são as mais movimentadas, pois são rodeados de bares, lanchonetes, lojas de roupas e acessórios. É ali onde Rua Paissandu perde um pouco da sua tranquilidade para dar espaço às buzinas e às freadas das diversas linhas de ônibus e automóveis que passam nestas esquinas. Ainda assim, é impossível não reparar em um edifício de esquina com a Rua Senador Vergueiro. É, sem dúvidas, bem admirável!

Edifício elegante na esquina de
Senador Vergueiro
A Rua Paissandu apresenta ao longo da sua extensão um tímido número de estabelecimentos comerciais e de perfis bastante heterogêneos. Há desde botequins a restaurantes mais alinhados, como o Bistrot Orlandi e a Raffinee Delicatessen, com varandas amplas e loteadas de mesas, passando por farmácias de manipulação, uma serralheria e uma lavanderia. Em frente à Rua Paulo VI, no número 168, está o Externato Coração Eucarístico, colégio fundado em 1929 pelo Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Sebastião Leme. O Externato, que originalmente só recebia alunos do sexo masculino, funcionava em uma casa na Travessa dos Tamoios, no mesmo bairro, mudando-se para a Rua Paissandu pouco tempo depois.

Entre tantos canteiros, jardins e belas portarias, a esculhambação (perdoem-me a expressão, mas essa é verdade) também impera em alguns trechos. Fiz questão de registrar o vandalismo em algumas das palmeiras e também na fachada de um edifício, na esquina com a Rua Presidente Carlos de Campos. Em minha opinião, pichações são mais agressivas que lixo no chão, pois pelo menos este é de fácil remoção. Para os interessados em ver de perto o impacto dos rabiscos, está aí nas fotos o registro da ação de nossos amigos de origem espiritual suína.

Com predominância de edifícios antigos, a Rua Paissandu também divide espaço com alguns edifícios de data mais recente, algumas poucas casas, além de um novo e grande superempreendimento no modelo dos novos condomínios lançados cada vez mais por toda a cidade. O espaço, no entanto, ainda está vazio, contando apenas com um stand de vendas e muita propaganda, seja em bandeirinhas publicitárias, seja com outdoor.

Palácio Guanabara, sede do governo do Estado, visto da Rua Paissandu

Chegando ao fim do meu trajeto, na esquina com a Rua Pinheiro Machado, a paisagem final reserva uma agradável surpresa: o Palácio Guanabara. Eu diariamente passo por esse local, seja de ônibus ou de carro, e, nestas circunstâncias, nunca parei para observar com calma a imponência e beleza da sede do governo estadual. A breve sensação que eu tive, ao avistar de longe o Palácio, foi a de estar chegando ao final de um arco-íris e encontrando o seu pote de ouro e outros tesouros. Metáforas à parte, até que faz sentido, afinal, ali, de certa forma, é o lugar da plata. Quem é do Rio, sabe!

Em tempo: De acordo com as placas indicativas de logradouro, o nome Paissandu foi dado à rua em memória à tomada da cidade de Paissandu, nas margens do rio Uruguai, pelas tropas brasileiras, em 1865.

(texto revisado em 20/03/2014)

22.6.09

Rua Grajaú: bucolismo na Zona Norte

O Pico do Papagaio visto através da Rua Grajaú, na Z. Norte
Para inaugurar o blog, fotografei neste fim de semana a Rua Grajaú, no bairro de mesmo nome, o Grajaú, na Zona Norte. O dia estava bem agradável, ensolarado e com ventos frescos, o que me garantiu bons flashes. Pude, além disso, observar o entusiasmo dos moradores do bairro que percorriam a rua no seu jogging matinal ou no passeio com cães. Crianças, em abundância, passavam por lá em bicicletas e patinetes. A concentração dessa turma de passantes, vale ressaltar, ficava logo ali perto, na Praça Edmundo Rego (que comentarei e postarei fotos em outra oportunidade), onde aos domingos é fechada para área de lazer, o que a torna bastante movimentada e alegre.

Não só a Rua Grajaú, mas como a maioria das ruas do bairro em geral são bastante propícias para a prática de atividades físicas. Sem mencionar que o grande número de árvores plantadas ameniza bastante a temperatura local, ainda mais agora neste comecinho de inverno. Este climinha bom, em conjunto com as simpáticas casas e pequenos edifícios instalados por lá, transforma não só a ginástica, mas até uma simples caminhada em uma grande e agradável distração. Outro ponto, além disso, que facilita a atividade de pedestres é o baixo fluxo de trânsito na rua. Sem buzinas e ruídos, apenas transitam os carros dos moradores e alguns poucos automóveis de fora.

Um aspecto bem peculiar da Rua Grajaú são os jardins das calçadas. Alguns bem cuidados, outros nem tanto, o que simboliza um pouco o retrato da decadência do bairro nos últimos anos. Por outro lado, o que vale mesmo é que eles existem e, tratando-se de Rio de Janeiro, tem sido um tanto quanto raro avistar tais jardins, visto que as calças hoje em dia ou estão tomadas por carros ou por moradores de rua.



Residências na esquina da Grajaú com a Avenida Júlio Furtado: pichações.

Uma lástima sofrida pela Rua Grajaú em alguns trechos é o problema das pichações. Ao longo da via, há casas belíssimas cujos muros e fachadas, infelizmente, foram rabiscadas por vândalos, como é o caso de uma residência na esquina da Grajaú com a Avenida Júlio Furtado.

Travessa Araxá: rua privativa.
A Rua Grajaú, no seu final, junto à esquina com a Rua Canavieiras, passa a ser uma rua fechada por cancela, como pode ser conferido na foto ao lado. Também como proteção contra a violência, a Travessa Araxá, uma pequena rua de casas transversal à Grajaú, foi além da cancela e da guarita: não sei há quanto tempo, mas hoje essa simpática ruazinha é fechada com portão em suas duas entradas. Uma pena, porque uma rua tão bonita e "enclausurada" em um bairro igualmente tão aprazível como Grajaú é quase um pecado. Entretanto, a violência tá aí e dela temos que nos proteger! Não tem jeito...

Outro grande atrativo não só da Rua Grajaú, mas também do bairro como um todo, é o Pico do Papagaio, ou Pedra do Andaraí, como também é conhecido. Essa imponente rocha pode ser avistada de longe, principalmente quando se está na Linha Vermelha e Amarela. Certa vez, um amigo, desinformado naquele momento, enquanto estávamos cruzando a Linha Vermelha, chegou a perguntar-me se esta era a Pedra da Gávea. Foi uma situação engraçada, afinal, a Pedra da Gávea localizar-se na vertente norte do Maciço da Tijuca é meio absurdo. No entanto, o que se pode dizer é que o Pico do Papagaio está para o Grajaú assim como a Pedra da Gávea está para São Conrado e Gávea. Ou, até mesmo, como o Pão de Açúcar está para a Urca. De fato, é uma atração à parte nesse trecho da Zona Norte.

Como um todo, a Rua Grajaú é predominantemente residencial, embora esteja bastante próxima ao comércio, sobretudo no trecho entre as ruas Barão do Bom Retiro e Gurupi. Inclusive, há alguns poucos anos, existia nesse trecho uma filial do supermercado Pão de Açúcar, hoje transformado em Igreja Universal. O pouco comércio que restou espraia-se em direção ao Pico do Papagaio, sendo os mais relevantes a franquia da Curves (academia para mulheres) e o aclamado Bar du Bom, na esquina da Rua Canavieiras.

(texto revisado em 21/03/14)


21.6.09

Apresentação

A idéia deste blog surgiu já há uns dois anos, quando nas aulas de geografia que eu tive na faculdade, um professor aconselhou-nos a fotografar paisagens, qualquer tipo de paisagens geográficas, pois elas seriam de muita importância no futuro – relíquias, talvez, como são as fotografias respectivas aos séculos passados. O meio urbano e a forma como este evolui é um ponto que me chama muito a atenção, já que é o retrato de como implica a ação humana, ou seja, de nós, cidadãos, nas nossas ruas, avenidas, praças, jardins, muros...

É óbvio que hoje em dia, com a revolução digital, é cada vez mais fácil registrar em fotos quaisquer tipos de coisas, inclusive paisagens, o que não me restam dúvidas de que teremos um vasto material deste tipo no futuro. Entretanto, muita gente ainda se limita apenas a clicar aos amigos e a si mesmos, restringindo o ato de fotografar paisagens aos profissionais do ramo e a amadores, como eu. E um dos meus focos, neste blog, será exatamente esse: fotografar as ruas do Rio.

Não tenho nenhum interesse em fins lucrativos nem nada semelhante a isso. Este blog será apenas um hobby, onde vou compartilhar fotos, resenhas e curiosidades que eu tenha experimentado no decorrer destes anos em relação, não só aos logradouros da cidade do Rio de Janeiro, mas também com seus elementos urbanos e comerciais.


Quem já conhece os locais ilustrados por mim nos futuros posts, confirmará ainda mais o seu conhecimento, diante de outro ponto de vista; quem não conhece, conhecerá; e quem é de fora da cidade do Rio de Janeiro e apenas tem seu conhecimento restrito às fotos turísticas do Corcovado e do Pão de Açúcar, poderá ter uma breve noção do que existe no emaranhado de ruas avistadas por um Cristo Redentor, desde lá de cima.

Até!