17.4.11

A redescoberta de São Cristóvão como lugar para viver

"Tá ficando muito caro para morar aqui no Rio", disse uma jovem recém-empossada executiva de uma prestigiada empresa pública nos arredores do Largo da Carioca para o amigo, colega de profissão.

"Pois é, eu estou de aluguel lá em Copacabana, mas consegui comprar na Tijuca. Vou me mudar na semana que vem", respondeu ele, aparentando sutilmente ser de fora do Rio em função do sotaque meio apaulistado.

"Ih, mas até a Tijuca já está caro! Eu vou fazer que nem um conhecido meu, que acabou de comprar na planta um apartamento em um condomínio novinho na Quinta da Boa Vista. Foi onde ele pôde pagar", complementou ela, com ares meio capixabas. Não sei se acertei, só tenho a certeza de que os dois eram "estrangeiros".

"Onde fica isso?", contestou o rapaz, na faixa dos 30 anos.

"Bem ao lado do Maracanã e da estação São Cristóvão do metrô. O problema é que esse metrô vive cheio..."...

A conversa acima foi captada por mim, sem-querer-querendo, enquanto me dirigia ao metrô na última sexta-feira por volta das 18 horas. Costumo escutar muitas conversas aleatórias por aí, só que geralmente eu as esqueço em questão de minutos. Essa, no entanto, fez-me refletir ainda mais sobre esse assunto da moda que eu venho discutindo aqui no blog: o alto custo de morar no Rio.

Quinta da Boa Vista: o charmoso
parque foi residência do imperador
Acho bem interessante como esse surto nos preços de imóveis e serviços tem provocado uma mudança no comportamento do carioca e dos não-cariocas, aos montes por aí devido às numerosas aprovações em concursos públicos para órgãos e empresas públicas instaladas na cidade. Mais do que isso, considero essa mudança de comportamento mais relacionada às pessoas mais jovens, dando iniciando à "vida adulta", e em um menor grau aos mais velhos, que são mais conservadores e já possuem uma vida mais estabilizada. 

Se até poucos anos atrás jovens bem sucedidos como esses aproveitavam a estabilidade financeira para investir nos preços moderados de quarto-sala na Zona Sul, hoje o panorama já não é mais assim. A procura por qualidade de vida é incessante, sem dúvidas, embora eu acredite que gastar uma simbólica parte do salário para morar em microapartamentos perto da Orla não está sendo mais grande vantagem. Bom... vantagem sempre é, não podemos negar; mas que a situação atual do mercado imobiliário acarreta migrações quase forçadas, isso sim ninguém pode negar. 

O ponto principal é que, se anteriormente a compra de imóveis nas áreas mais badaladas da cidade já era impensável, o aluguel figurava ser uma maneira de escapatória para as espantosas cifras dos classificados. Agora, no momento em que vivemos, até o aluguel já se mostra impraticável. 

Então... qual direção seguir?

São Cristóvão e seu entorno
Não é a maioria dos casos, mas sinto que há um movimento de procura em áreas estratégicas e pouco visadas. Um exemplo ainda tímido e que servirá de tema para as próximas postagens é o de São Cristóvão. Bairro da nobreza, sede da residência imperial e dona de uma história invejada, a região vive em decadência há muitos anos. São Cristóvão fica ao lado do Centro e da Rodoviária, é passagem quase obrigatória para o Aeroporto Internacional e Ilha do Fundão, está ao lado do Maracanã e do Túnel Rebouças, e ainda conta com uma estação de metrô e outra de trem, com conexão para os diferentes (embora arcaicos) ramais da Supervia. 

No fim da década passada, empresas como a RJZ Engenharia, Cyrela e Concal resolveram investir na construção de um condomínio, o Paço Real, de apartamentos voltados para a classe média da Zona Norte numa avenida pra lá de morta: os arredores da Quinta da Boa Vista, esplendoroso parque onde morou o Imperador D. Pedro II, local hoje do Jardim Zoológico e do Museu Nacional. Eu e meus pais pensávamos que aquele investimento seria um fracasso. Ledo engano... todas as unidades foram vendidíssimas.

Inclusive tive a coincidência de pessoas que fazem parte da minha rotina terem adquirido um imóvel por ali. No final das contas, o empreendimento tornou-se atrativo, na verdade, para o pessoal classe média da Zona Sul, que vivia de aluguel, sem condições de bancar um apartamento próprio por lá. Se não me esqueço, o condomínio Paço Real oferecia apartamentos de 2 a 3 quartos, custando entre R$ 150 mil a 300 mil reais, facilidade no crédito, piscina, churrasqueira, playground... 

Pavilhão de São Cristóvão, em desenho.
© FAPERJ
Outros empreendimentos imobiliários pretendem aquecer o setor imobiliário da Quinta da Boa Vista. Alinhado à isso, projetos da prefeitura têm estimulado a revitalização de São Cristóvão, que já é conhecido como o novo polo da moda: são mais de 65 fábricas das melhores grifes instaladas nos bairros mais ricos, como a XSite, Armadillo, Osklen, Farm e Leeloo. Já do ponto de vista histórico, São Cristóvão conta com inúmeras atrações turísticas pouco exploradas por turistas e moradores, entra elas, quatro museus: o Nacional da UFRJ, o Militar Conde de Linhares, o do Primeiro Reinado e o de Astronomia. Não posso esquecer de mencionar o divertido Centro de Tradições Nordestinas (vulgo "Feira dos Paraíbas"), no Campo de São Cristóvão.

Na próxima postagem eu falarei mais detalhadamente sobre os arredores da Quinta da Boa Vista - e a própria - em fotos tiradas hoje, domingo de manhã. 

Leia mais sobre:
Site do condomínio Paço Real, localizado em frente à Quinta da Boa Vista: http://www.pacoreal.com.br .


6 comentários:

Lost Memories Place disse...

Não lembro qndo saiu um reportegem sobre Sao Cristovao, mas faz tempo. Eu até uma vez numa dinamica de grupo tive que falar sobre os empreendimentos imobiliarios de sao cristovao.

Pedro Paulo Bastos disse...

Que tipo de dinâmica de grupo você participou, Nina?
Um abraço!

Lost Memories Place disse...

Era pra vaga de estagiario de arquitetura, na epoca eu ainda era estudante. ai tinha que fazer uma redacao e tinha esse tema. na lembro mt bem pq faz um tempinho isso

Flora Maria disse...

Oi, Pedro Paulo:

Muito bom seu blog e já estou colocando o link no meu para poder acompanhar suas postagens !

Faz tempo estou para fazer uma postagem sobre o Grajaú. Não tenho muitas fotos - quando saí do Rio ainda não tinha câmera digital !!!

Posso usar algumas das lindas fotos que você tem ? Claro que colocarei a indicação do seu blog !

Estarei sempre por aqui, pesquisando e relembrando lugares por onde já andei.

Pedro Paulo Bastos disse...

Olá Flora. Sinta-se à vontade com as fotos. Visite sempre!
Um abraço!

RODRIGO PHANARDZIS ANCORA DA LUZ disse...

Eu estava pensando em S. Cristóvão estes dias. Mais precisamente ontem (11/03/2012), quando estava no ônibus que vai da Pavuna até a Sans Peña, salvo engano a linha 665. Tendo circulado pelas várias ruas do bairro, pude observar o seu potencial para se tornar uma nova área valorizada, com qualidade de vida para futuros residentes e também para o turismo, lazer e vida noturna.

O certo é que, no decorrer do século XX, o Rio expandiu-se, mas foi deixando imensos vazios em seu crescimento imobiliário. Um outro exemplo seria a Praça Onze onde a estação do metrô costuma receber poucos passageiros se comparado com outros pontos. E aí percebo que, mesmo estando próxima do Centro, tal localidade seria um forte exemplo do abandono ocorrido por décadas.

Enfim, vivemos tempos de redescobrirmos o Rio e resgatarmos o que se perdeu.

Abraços