6.3.10

A Hipólito da Costa, de Vila Isabel

Andar pelas ruas, para mim, é uma grande distração, esteja calor ou frio. Eu gosto de observar as calçadas, analisando a altura entre elas e o asfalto, admirar canteiros, jardins e árvores bem cuidadas, além, claro das construções. Gosto de prédios bonitos, modernos, clássicos, antigos - casas idem. Eu sou um grande apreciador do meio urbano e decepciono-me, às vezes, quando algum lugar não corresponde as minhas expectativas de encantamento; principalmente aqueles locais em que, por algum motivo, tivemos algum vínculo em certa fase de nossas vidas e ao nos depararmos novamente com ele, vemos que muito mudou. Alguns melhoram, outros se afundam. Um desses lugares é o bairro de Vila Isabel, de onde trago fotos da Rua Hipólito da Costa.

REPRESENTAÇÃO EM satélite da região fotografada. A Rua Hipólito da Costa está pintada em amarelo.



À ESQUERDA, o panorama das casas da Rua Hipólito da Costa, na sua primeira quadra. Ao lado, a Praça Tobias Barreto, na confluência com a Rua Duque de Caxias.


Vila Isabel foi um bairro cujo qual frequentei muito no início e no decorrer da minha adolescência, mais em função do então poderoso Shopping Iguatemi, inaugurado ali na década de 1990. Conhecer as ruas do bairro foi consequência. Uma delas, das minhas preferidas na região, é a Hipólito da Costa, que se inicia no alto da Rua Duque de Caxias, junto da Praça Tobias Barreto, e finda no Boulevard 28 de Setembro. Rua larga, de casas bonitas e de um clima familiar e interiorano. Um mini-subúrbio que se esconde entre o caos da 28 de Setembro e que, a duras penas, tenta sobreviver em decorrência da agressiva decadência de um dos mais tradicionais bairros cariocas.


O AUMENTO DOS índices de violência no bairro e o empobrecimento da população provocou a degradação de ruas e praças, como a Tobias Barreto. Em consequência, moradores tentam vender seus imóveis, a preços bem mais abaixo do ideal.


Com pequena extensão, eu comecei a minha excursão lá em cima, descendo a Rua Duque de Caxias e caindo à esquerda, onde a Hipólito da Costa se inicia ao lado da praça. Constituída praticamente por casas, apenas, todas elas compartilham as mesmas características: bonitas e imponentes construções, aparentemente espaçosas, a grande maioria à venda. As placas de "Vende-se" no local são muitas, não só na Hipólito da Costa, mas também pela ruas Duque de Caxias, Torres Homem e Engenheiro Gama Lobo. Uma das evidentes razões para isso deve-se ao avanço da violência no bairro, principalmente dos tiroteios que ocorrem ao redor do Morro dos Macacos, próximo dali. Mais uma vez a violência e o desequilíbrio social destruindo um lugar que até pouco tempo atrás era calmo e extremamente valorizado. As casas, umas ao lado das outras, são quietas, sem grande movimentação de portas e janelas abrindo-se ou então de barulhos humanos. A não ser o latido dos cachorros. Alguns poucos carros passam por lá, mas mesmo assim são relativamente silenciosos, como o ponto final da linha de ônibus 464 (Maracanã - Leblon) (foto acima, à direita), instalada na Praça Tobias Barreto.


RUA LARGA e espaçosa, típica de bairros bem projetados como foi Vila Isabel, a Rua Hipólito da Costa concentra uns dos melhores imóveis do bairro.


Na quadra adiante, a tranquilidade permanece, assim como a imponência das casas, que passam a dividir o espaço com alguns poucos edifícios, mais concentrados nas proximidades com o Boulevard 28 de Setembro. Alguns imóveis se destacam mais que outros, alguns decepcionam pela conservação e outros encantam por, simplesmente, sua simplicidade. Neste último trecho, o que mais chamou-me a atenção foi o Bairro da Pequenina, localizado no número 44. O tal "bairro" é uma simpática vilinha particular, estreita, de casinhas pequenas e canteiros centrais com flores e plantas, como se fosse uma avenida de duas pistas. Adorável!


ACIMA, ALGUMAS DAS casas mais adoráveis da Rua Hipólito da Costa. Na última, o panorama da rua com a escola Centro Educacional da Infância - Unidunitê (de grade vermelha) e os edifícios, que passam a brotar a medida que a rua se aproxima do Boulevard 28 de Setembro.



NAS PROXIMIDADES com a 28 de Setembro, um pequeno comércio começa a brotar pela Hipólito da Costa, embora casas simpáticas, como a representada acima, permaneçam embelezando o local, preservando assim o clima familiar que a rua apresenta.



NA SEQUÊNCIA, a Rua Hipólito da Costa chegando à esquina com o Boulevard. Detalhe para o Bairro da Pequenina, simpática vila no número 44 da rua.


Por um momento é possível esquecer que ali é o centrão de Vila Isabel; porém, quanto mais se aproxima do Boulevard, os aspectos mais peculiares do bairro vão começando a se evidenciar: lojas de pequeno porte uma ao lado da outra e os famosos butecos. O clima triste que contagiou-me ao iniciar a minha caminhada foi se revigorando ao ver que as pessoas riem e divertem-se, mesmo com todos os problemas. É a grande qualidade do brasileiro (ou do carioca!) saber relevar os problemas e sorrir. Com uma máquina na mão, a curiosidade das pessoas em relação a mim é atiçada e elas me abordam e perguntam "para que são essas fotos?". Os moradores de Vila Isabel fizeram isso e receberam-me tão bem que é impossível olhar para o lugar e não sentir-se bem, ainda que ele esteja em frangalhos. É a tal daquela expressão que usamos entre nós: o que importa não é a aparência, mas sim o conteúdo, a alma da pessoa. As ruas também têm um pouco disso e Vila Isabel, especificamente a Rua Hipólito da Costa, transmitiu-me paz de espírito. A Zona Norte como um todo, as áreas suburbanas, entre outras, possuem essa coisa do clima acolhedor, do carisma, embora infelizmente sofram com o abandono e o descaso dos órgãos públicos e também de muita gente ignorante. Aparência não é fundamental, mas certos lugares e pessoas merecem esse bônus por já estarem quites com a beleza do seu interior. Diante disto, façamos a campanha: Salvemos Vila Isabel! Vamos reembelezá-la! O bairro merece.

5 comentários:

Felipe disse...

Excelentes fotos e relato!
Parabéns!

Samila Soares disse...

Pedro, muito legal! Postei um link lá no blog.Sds.

Ivo Korytowski disse...

Que rua simpática! Preciso ir lá um dia! Minha sugestão (podemos até ir juntos) é andar do Méier ao Cachambi (tem uma rua que permite fazer isso quase em linha reta), faço às vezes de ônibus quando vou ao Norte Shopping e os contrastes entre casas antigas e prédios de classe média modernos é interessante.

Pedro Paulo Bastos disse...

Essa rua é a José Bonifácio. Ela começa na Dom Hélder Câmara e termina na Rua Arquias Cordeiro. O Méier é um bairro de muitos contrastes, porque mistura essa coisa dos antigos subúrbios com o que há de mais novo e moderno em edificações. É interessante mesmo esse choque!

Nisia disse...

Oi!
Eu cresci aí, brincando na pracinha, indo pra escola... (1975-1993)
Eu era apaixonada pela Hipólito da Costa, e sonhava em comprar uma dessas casas fofas.
Lindo.