O meu primeiro contato com o Rio, como integrante consciente deste meio, como carioca, como cidadão, foi, sem dúvida, nas primeiras vezes em que andei de ônibus pela cidade. Sozinho, lá pelo final dos anos 90. Com itinerários curtos, é claro, fui descobrindo as aventuras de ser quase um “dono-do-meu-próprio-nariz”, passando pelos primeiros perrengues rodoviários, incluindo lotações quase desumanas, ligeiros assaltos, engarrafamentos intermináveis e – principalmente – o erro de itinerário. Quem nunca pegou um “busão” errado? Minha paixão por ônibus cresceu daí, de todo esse meu precoce envolvimento com o meio urbano, sendo a oportunidade única de conhecer lugares da cidade com meus próprios olhos, pela janela destes dinossauros em movimento. A idade avançando, os conhecimentos se aprofundaram, aliados à experiência e às conclusões bastante óbvias foi que eu percebi: o sistema de transportes coletivo rodoviário do Rio é questionável. Carece de críticas.
Andar de ônibus é uma sensação estranhamente prazerosa para mim. Mesmo morando ao lado de uma estação do metrô (da linha 1, que é ainda mais prazeroso – ou seria menos doloroso?), muitas das vezes opto por me deslocar através dos ônibus. Gosto de saber os itinerários de cor, fazer cálculos mentais de qual coletivo se deslocará mais rapidamente para o local que desejo ir, faço um balanço de pós e contras entre uma linha e outra, e, desde então, venho acompanhando a evolução das linhas de ônibus pelo Rio e as dificuldades eternas dos veículos com seus percursos em uma cidade cercada por montanhas, favelas e de malha rodoviária deficiente – ruas estreitas e sobrecarregadas.
A EVOLUÇÃO DOS VEÍCULOS: de quadradões e com cara de antigos nas décadas de 80 e 90, novos modelos de ônibus surgiram na década de 2000, com formas mais sutis e design repaginado.
Lembro-me de, criança, andar em ônibus velhos, sujos, quadradões. Os veículos mais novinhos vinham aparecendo timidamente, com novas tecnologias, ruído abrandado. Mesmo assim, a entrada de passageiros ainda se dava pela porta de trás, lugar também aonde ficava o trocador. Em 2002, uma mudança na legislação fez com que todos os veículos estabelecessem o embarque pela porta da frente. A partir daí foi que os ônibus velhotes foram realmente dando adeus. Veículos com ar-condicionado aos montes, poltronas mais confortáveis, letreiros luminosos. A evolução. Assim como as tarifas: em março do ano de 2000, uma passagem de ônibus, linha regular, sem ar, custava R$ 0,90 centavos. Hoje, dez anos depois, pagamos por essa mesma tarifa R$ 2,35 – um aumento de quase 162%.
O GRÁFICO ACIMA expõe a evolução tarifária das linhas de ônibus entre 1º de julho de 1994 - data da implementação do Real - até os dias de hoje. Incrível pensar, mas até dez anos atrás um passe custava menos de 1 real!
Os ônibus são, sem dúvida, figurinhas muito cariocas. Referências da cidade, lugares de estórias, de polêmicas – quem nunca se questionou sobre a verdadeira cor dos ônibus da Transportes Vila Isabel, aquele abóbora (ou seria vermelho?). E aqueles amarelinhos, da Real Auto Ônibus, que circulam entre o Centro e a Zona Sul? São símbolos do Rio. Através dessas questões, crio aqui um especial para o blog As Ruas do Rio sobre esse famoso meio de transporte, suas conveniências e dificuldades. Espero que gostem!
SÍMBOLOS DO RIO: as frotas de veículos das empresas Real e Vila Isabel, respectivamente na foto acima, são umas das mais populares que circulam pelo Centro expandido do Rio.
3 comentários:
ADOREI A IDÉIA! O tema é importante e complexo.
Se nós já temos críticas aos transportes estando aqui, qd saimos do Brasil, notamos o como somos mal tratados, como é tudo caótico...
Vou acompanhar com certeza!!!
bjao
Mesmo com a inversão do embarque para a porta da frente, os ônibus do Rio ainda estão muito atrasados em relação à outras cidades. O péssimo hábito de fazer ônibus com chassi de caminhão talvez seja o pior deles, é irritante ter que subir uma escada pra poder embarcar (para um idoso ou deficiente então é suplício). Não circula em nenhuma empresa do RJ ônibus com piso baixo, medida já adotada em SP, Curitiba, e em praticamente todas as cidades americanas e européias (o alto custo de compra e manutenção e o estado da maioria das ruas da cidade também pesa).
Sem falar em vários outros problemas, a "gentileza" dos motoristas que não param no ponto, conservação, mau uso dos micrões (ônibus sem cobrador), mal planejamento das linhas e a má conservação dos ônibus em geral.
Mesmo com todos esses problemas eu ainda acho uma delícia viajar de ônibus, cada linha um caminho, um destino, um estilo de direção diferente, um modelo e um chassi diferente.
Realmente é uma boa sensação quando você sabe todos os itinerários das linhas de cor, e até olha com certa condescência para os passageiros perdidos, e tenta ajudá-los na medida do possível.
Tens bom gosto. A Real e a Vila Isabel são duas das minhas empresas favoritas também, junto com a amarelinha São Silvestre da zona sul. Abraços!
Oi Pedro, como muitos Tijucanos que trabalham no centro, desisti também de pegar o metrô. Mas mesmo depois de tantos anos sem andar de "busão" percebi que ainda não perdi o jeito para a coisa. Sei ainda como chegar da Tijuca a vários outros bairros e isso chega a ser engraçado de lembrar. Vinte anos sem andar de ônibus e a memória (disso) não me falta. Só o que eu detesto é que a linha que uso não tem ar condicionado e os ônibus são muito altos. SDS.
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