9.9.10

Santa Fé & Jardim

Um breve passeio pelo "lado" mais tradicional do Méier, na Zona Norte 

 VISTA DA Rua Aquias Cordeiro e a estação de trem do Méier. 

O ENTORNO DA Rua
Santa Fé, pelo mapa.
O tempo amanheceu sinistro no sábado passado, dia 4 de Setembro. Sinistro porque não estava nem um pouco fresquinho como agora, pós-feriadão. Esse calor intenso que às vezes calha de fazer aqui no Rio nos deixa bem assustados, afinal, o verão carioca é um grande trauma - não queiram negar! Ar condicionado ligado full time, suor, indisposição... É. Sábado foi assim. Eu poderia ter ido dar uma volta na Lagoa, dar aquela relaxada, mas pensei melhor e... quer saber? Peguei um ônibus e fui pro Méier! Já tinha um tempo que eu queria voltar lá para fotografar algumas ruas, como, por exemplo, a que eu trago hoje: a Rua Santa Fé e o seu vizinho jardim, o Jardim do Méier.


ESSA É a esquina da Rua
Coração de Maria com Santa Fé
No início eu falei: um breve passeio pelo "lado" mais tradicional do Méier. Por que lado? Quem não conhece a Zona Norte suburbana ou até mesmo seja de fora do Rio, talvez não saiba que grande parte desta região da cidade é cortada pela linha férrea. Então, muitos dos lugares que recebem estações ao longo da ferrovia são divididos fisicamente por ela e aí criam-se os dois lados do bairro. No caso do Méier, tais lados podem ser representados pelo da Rua Dias da Cruz e o lado do Jardim do Méier. Este, onde também está o famoso Hospital Salgado Filho, eu consideraria o lado mais tradicional de lá por ainda preservar muito das origens do lugar. A Rua Santa Fé é um exemplo disso e vocês vão ver ao longo da postagem. O lado da Dias da Cruz já é mais descaracterizado, comércio intenso, só que bem mais badalado do que o lado oposto. Ficou confuso ou dá pra seguir?


A BASÍLICA da Imaculada Coração de Maria, na Rua Santa Fé. A igreja é um dos principais marcos arquitetônicos cariocas e do bairro do Méier.


MAIS detalhes
da Basílica
 Saltei na Avenida Amaro Cavalcanti, subi a passarela e dei uma caminhada pela Rua Arquias Cordeiro até entrar à direita na Coração de Maria. Ali, bem na esquina com a Santa Fé, que eu comecei a tirar algumas fotos e a executar o meu plano de postagem para o blog. Pois bem, é justamente nesse encontro onde está um dos maiores símbolos do Méier, a Basílica do Imaculado Coração de Maria. Tradicionalíssima, ela foi construída no início do século XX e projetada pelo arquiteto espanhol Morales de los Ríos. Foi inspirada na arquitetura mozárabe, vigente na Península Ibérica do século XVI. Essa igreja é figurinha fácil em muitos livros sobre a arquitetura carioca, sendo um dos poucos atrativos deste tipo fora do eixo Centro-Zona Sul. 


O CRUZAMENTO à frente é
com a Rua Aristides Caire
Ultrapassando a Basílica e o restaurante Xodó do Méier, a Rua Santa Fé vira quase um deserto até o Viaduto Castro Alves. O calor, como eu disse, é brabo, não há árvores nesse trecho e o suor escorre pela nuca. Apesar disso, as árvores são substituídas por pequenos arbustos floridos ao longo da calçada e pequenos estabelecimentos podem ser encontrados floriculturas. Inclusive, essa área aí me faz lembrar muito de flores, afinal, tínhamos na esquina da Santa Fé com a Rua Aristides Caire a Cobal do Méier, com diversas tendas de flores. Hoje, onde havia o mercado municipal, funciona um fórum de justiça, instalado em um prédio todo envidraçado. Esquisito, mas fazer o que né? Antes que eu me esqueça, há cactos também, por ali. Nada mais coerente com o calor. 

 DOIS ÂNGULOS do Viaduto Castro Alves: a primeira, já nos mostra um pouco do verde que o Jardim do Méier brinda ao bairro e, ao lado, o termômetro do relógio marca 39ºC.

A ANTIGA COBAL do Méier foi demolida - hoje, no mesmo espaço, abriga o Fórum Regional do Méier (Desembargador José Rodriguez Lima). Quem conheceu a antiga Cobal sabe que o edifício modificou demais a paisagem do local. Bom ou ruim? Depende do seu gosto!

O JARDIM do Méier e
o seu famoso coreto
O sobe-e-desce dos carros e ônibus no Viaduto Castro Alves é ofuscado por um clarão verde: o Jardim do Méier. O Jardim é uma imensa praça com árvores, flores, um coreto, bancos para sentar e brinquedos. Um lugar bastante agradável, no coração do Méier, um bairro que não é muito bem servido de árvores e sombras. O lugar, implementado em 1916, tinha sua localização estratégica por estar ao lado da estação Méier do trem. Como naquela época o comércio se desenvolvia ao redor das estações, não preciso nem falar que o Méier foi privilegiado com esse espaço verde. Os sinais de decadência são bem visíveis, embora não chegue a ser tão agressivo. O Jardim é bem policiado – quando eu estava por lá, vi a atuação da polícia em retirar os mendigos dos bancos – e conta, também, com uma cabine da Guarda Municipal. O pessoal das antigas me fala que o Jardim do Méier foi um lugar prestigiadíssimo no passado, uma espécie de “programa de fim de semana”. Em principal, pela sua beleza e pelo espaço amplo. Infelizmente não existe mais no Rio a valorização dos parques como área de lazer. Eles ficam entregues às moscas e só se preservam quando recebem algum apoio da iniciativa privada, como é o caso do Jardim Botânico, por exemplo. Lamentável, todo mundo só quer saber de praia.


 
O JARDIM DO Méier foi, nos áureos tempos, um parque de bastante renome e de agradáveis passeios. Estudantes, crianças e idosos faziam uso deste local como área de lazer e não apenas de meio de passagem, como é hoje. 

MEIOS DE transporte na Santa Fé: além de diversas linhas de ônibus, como a 661 (Maria da Graça - Méier), 476 (Méier - Leblon) e 679 (Méier - Grotão), as famosas kombis - serão elas ilegais? Não sei... - também aparecem por ali.



O último trecho da Rua Santa Fé é bem servido de órgãos públicos e comércio. Na esquina com a Aristides Caire, o batalhão do Corpo de Bombeiros do Méier. Na mesma calçada, uma unidade da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Ao lado, um batalhão da Polícia. Sem falar nos salões de beleza, na papelaria, funerária, agência bancária, armazém. E, ah... Mais uma venda de flores. A Santa Fé termina no encontro da Rua Lucídio Lago. Uma placa de trânsito me informa: Cachambi para a esquerda, Benfica e Centro para a direita. Pra onde eu fui? Eu fui em direção à sombra, isso sim, hahaha. Um abraço!

 ESTE É O TRECHO final da rua. Ao fundo, é a Rua Lucídio Lago e os fradinhos nas calçadas são fruto do Rio Cidade Méier II, realizado há pouco tempo no bairro. 

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Comente! Diga o que achou. Se preferir, me envie um e-mail: asruasdorio.contato@gmail.com

9 comentários:

Newton Almeida disse...

Muito show ! Me transportei para as ruas do rio através do blog. Idéia ótima ! Gostei de rever o Méier e me parece que está bem cuidado. Muito bom texto, informativo e atraente. Parabéns !Estou seguindo.
MEIO AMBIENTE RIO DE JANEIRO Newton Almeida
www.limpezariomeriti.blogspot.com

Pedro Paulo Bastos disse...

Obrigado pela força, Newton!

Anônimo disse...

Adorei a matéria sobre o Méier, Pedro.
Cresci no Méier - embora hoje more na Vila da Penha. Sua observação sobre os "lados" do Méier é muito verdade. Sempre que falamos que moramos no Méier pra alguem que também é da área somos questionados:
"De que lado?"
rs

Sobre a basílica, deixo registrado que é o único exemplar de arquitetura mourística religiosa do Brasil. A igreja é linda e, sem dúvidas, um dos nossos grandes marcos arquitetônicos por sua imponência.

Sobre a cobal eu sei muito pouco. É um bom tema pra um próximo post, não acha? rs

Pedro Paulo Bastos disse...

O problema sobre a Cobal do Méier é que não há muitas informações na internet. É algo que tá preso na minha memória. A Cobal funcionava na esquina da Aristides Caire com Santa Fé e era um mercado municipal. Lembro-me de ter ido algumas vezes ali quando era pequeno e sei que era cheio de barracas de frutas, sem falar naqueles barracões onde vende-se peixe. Lembro, também, que tinha uma banca de jornal na porta, porque eu adorava ler gibi e meu pai sempre me comprava quando íamos a Cobal. Consigo sentir o cheiro das flores, porque havia vendas de flores ali dentro. Essas minhas memórias são de quinze anos atrás aproximadamente, faz muito tempo. Depois nunca mais voltei, até porque não ia muito pra essa área, mas sei que funcionou como "Hortifruti" até meados de 2004, por aí.
E hoje a nossa noção de Cobal é aquela coisa de bares, restaurantes, como a do Humaitá e a do Leblon. Mas, naquela época, as Cobais ainda eram mercados municipais. Infelizmente o terreno da Cobal do Méier foi vendido - logo depois surgiu a lei do tombamento das cobais. Por isso as Cobais da Zona Sul ainda resistem.
Havia, além do Méier, a Cobal de Irajá. Tudo demolido!

Nilson Soares disse...

Pedro,

Você me fez lembrar que a primeira vez na vida que vi uma peça de teatro foi numa capela da basílica do méier, essa que mostra em várias fotos. A peça era Branca de Neve e os SEte Anões, isso em 1976, eu tinha 4 anos...

abs,

Nilson

Ivo Korytowski disse...

Muito legais essas suas incursões por diferentes ruas, em diferentes zonas, do nosso Rio! Que tal prosseguir o passeio (num dia de menos calor) Cachambi adentro?

Pedro Paulo Bastos disse...

Boa pedida, Ivo. Vamos concretizar isso.

Anônimo disse...

Este "lado" já foi movimentado tanto quanto o outro. Até cerca de uns 15 anos atrás as poucas lojas ancoras que existia migraram para o outro "lado" e isso por muitos anos se tornou queixa de alguns moradores que durante algum tempo chamou de a Zona Norte do Méier, do outro lado, devido a Dias da Cruz e seu comércio, de a a Zona Sul do Méier... Puro preconceito dentro da próprio bairro!No entanto a linha férrea é uma barreira que protege um lado e prejudica o outro, já que desde lado temos uma facilidade de acesso com o crescimento estrondoso do Norte Shopping. E assim até o reduto boêmio vai perdendo para o Baixo Méier, mas foi aqui que funcionou a última boate... Quem sabe a presença do Engenhão faça ressurgir este lado, afinal, as comemorações dos torcedores do Maracanã muitas vezes terminavam aqui...

Abraço, Bruno

Flora Maria disse...

Oi, Pedro:

Agradável surpresa encontrar seu blog !

Nasci na Piedade, depois fui para Bonsucesso e finalmente Grajaú, meu bairro querido e lindo, mas já estou há 20 anos em Minas Gerais !

Senti falta na postagem, do Colégio Imaculado Coração de Maria, onde estudei de 1953 até 1955, no primário (já sou bem idosa, viu ?)

Muitas vezes assisti missa na linda igreja, e acho que ela é uma das mais bonitas que conheço. Lembrando o Castelo de Manguinho, sobre o qual já fiz uma postagem.

Voltarei por aqui para ler outras postagens, pois gostei muito !

Parabéns pelo trabalho de divulgação da arquitetura dos bairros.