(Continuação...)
Adentrei a Rua do Ouvidor, passando pela Travessa do Comércio, esperei pelo menos uns dois minutos até o sinal da Primeiro de Março fechar para os pedestres, senti o forte ar-condicionado da Saraiva Mega Store do lado de fora, não resisti e entrei um pouco, saí novamente, esperei mais um pouco até poder cruzar a Rio Branco, tropecei em uma pedra na esquina com a Rua Uruguaiana, e lá avistei, ao fundo, o prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ e, finalmente, o término da Rua do Ouvidor: eu estava já na outra extremidade. Reativando meus seis sentidos à análise, pude constatar uma diferença sonora bastante diferente daquela que existia no cruzamento com a Rua do Mercado. O.k., falar de freadas e buzinadas de ônibus não seria o mais aceitável, afinal, ambas áreas do Centro convivem com tal tipo de ruído; o barulho ali é humano. Poluição sonora mesmo, que dependendo do seu estado de humor, pode ser um prato cheio para a diversão – ou então, sinônimo de estresse.
APÓS A EXCURSÃO pelo cruzamento da Rua do Ouvidor com a do Mercado, fui em direção ao outro ponto de trabalho: o encontro da Ouvidor com o Largo de São Francisco. Antes com um visual clean, a Ouvidor agora é extremamente poluída - seja por sons, lixos ou visualmente falando. Ao fundo, o prédio do IFCS, da UFRJ.
"Cerveja, água, Skol, aqui comigo! É 2 reais!", grita um ambulante.
"Antena parabólica aqui na mão do camelô. Você vai ver os canais da TV à cabo diretamente dessa antena especial! Alô freguês, chega mais", berrava outro, em competição, desta vez em um auto-falante.
E é mate pra cá, R$ 1,99 pra lá, piratarias pra lá... Assim a Rua do Ouvidor termina, como se fosse uma espécie de camelódromo ambulante, já preparado sagazmente para qualquer tipo de aparição policial ou fiscalizadora. Mesmo sofrendo todos os riscos possíveis, os camelôs sorriem, dão gargalhadas, fazem piadas – parece que nada abala o bom humor do carioca. Nem mesmo o calor quase desumano do Centro da cidade. E os pedestres circulam em meio a esse muvuca, pedestres esses bem mais despojados que os que circulam pela região da Rua do Mercado; vestem bermudas, regatas, vestidinhos, sandálias rasteiras, Havaianas, refletindo bem o clima informal deste trecho da Rua do Ouvidor. O comércio legalizado também atende à clientela mais popular: lojas de calçados e tecidos recheados de promoção, os famosos “Chinas” com a dobradinha “ joelho mais refresco” por R$ 1,99, além de outros, tudo isso em meio a uma arquitetura também imponente, mas não tão conservada e valorizada como a dos arredores da Rua do Mercado. Entretanto, em meio ao caos, é impossível passar por ali e não achar graça em algo; mesmo com todas as adversidades, o carioca sabe divertir os pequenos detalhes do dia-a-dia.
ESTE TRECHO da Ouvidor tem de um tudo: papelarias, lojas de tecido, sebos e muito camelô. O tipo de comércio acaba sendo influenciado (e influencia!) o público da região, que é bem popular. As duas extremidades da Rua do Ouvidor são, de fato, muito distintas.
Dali eu saí com a cabeça a mil, com idéias e mais idéias sobre o que escrever, revendo as fotos registradas na máquina, e com um outro tipo de sentimento que nos foge, amiúde – o sentimento de íntima satisfação, de orgulho pelas minhas raízes. Ser natural de uma cidade que mistura, em um pequeno espaço territorial, diferentes funções, perfis sociais, aparências, e história, muita história, simboliza mais riqueza que muitas contas bancárias por aí afora...
2 comentários:
Trabalho no Centro e gosto muito de andar por lá. O que me deixa triste é ver os vazamentos de esgoto no meio das ruas e pessoas dormindo ao relento. O Rio antigo é muito lindo, prédios lindamente trabalhados, mereciam um tratamento melhor.bjs
realmente seria muito mais agradável não fosse o mau cheiro e o calor... toda aquela região atrás do ccbb é linda demais... parece que parou no tempo mesmo
adoro o centro do rio, espero ver mais incursões suas por aqui rs
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