6.12.09

O que os anos fizeram com a Ouvidor... (parte 1/2)

Post produzido em parceria com o site Rio na Veia (rionaveia.com.br), que tem dado uma força gigante à divulgação do As Ruas do Rio


Lá se vai mais de um século e meio, quase, desde que a Rua do Ouvidor perdeu seu posto de “Leblon” do Rio colonial para tornar-se em mais uma das ruas antigas – e estreitas – do Centro da cidade. Os diferentes e variados sobrados existente ao longo da Ouvidor deixaram de ser as residências das camadas altas da sociedade e têm se transformado constantemente ao longo do tempo, seja na sua funcionalidade, estrutura e até mesmo em sua existência – que deveria ser perpétua.

E a pergunta fica: como está a Ouvidor hoje, nesse fim da década dos anos 2000? Muita gente passa diariamente por esta simpática via, mas não se dá ao luxo de observar suas disparidades e de como um mesmo logradouro pode ter a incrível capacidade – e potencial – de abrigar, em diferentes trechos, dezenas de funções, sonoridades e interesses que influenciam e muito na frequência da rua. Como muitas outras ruas cariocas, a do Ouvidor tem essa incrível particularidade.

Nessa análise, vamos passear nas extremidades da Rua do Ouvidor: a primeira, é o cruzamento com a Rua do Mercado, logo ali nas imediações da Praça XV; a segunda ponta, seria o seu encontro com a Rua Ramalho Ortigão, lá no Largo de São Francisco. Dois pontos bastante distintos, mas que mantêm um mesmo elemento em comum: a Rua do Ouvidor, como endereço oficial.


REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA das duas áreas trabalhadas e fotografas: as extremidades da Rua do Ouvidor.


A Ouvidor x Mercado poderia se passar tranquilamente por cenário de filmes e/ou novelas de época se não fossem os automóveis nada antigos por ali estacionados – mal, diga-se de passagem (confira na foto ao lado). Obstruindo o cruzamento, afinal, os trechos das ruas do Mercado e do Ouvidor que não dão acesso ao trânsito de veículos são justamente estes, os automóveis ali parados contrastam com a tranquilidade histórica remetida pelos belos sobrados da região. E o melhor: sobrados restaurados, devidamente pintados, sem aquela cara de imóvel caquético caindo aos pedaços. Eles têm vida, não só pela bela arquitetura realçada pelo toque de manutenção, embora, também, pelo tipo de significado que hoje eles possuem naquele espaço urbano.


A RIQUEZA DOS detalhes da arquitetura dos sobrados e a sua boa preservação estimulou a freqüência da classe média nesta esquina, não só nos dias úteis, mas também nos fins de semana, inclusive. Os restaurantes e bares da área estão cada vez mais badalados, contribuindo diretamente com a estética urbana.


A maioria dos sobrados daquela área se dedica às atividades comerciais, mais especificamente falando, ao comércio dos comes & bebes. Local estratégico, pois é justamente nesta localidade do Centro onde existem os maiores escritórios do ramo financeiro (a Bolsa do Rio fica a poucos metros dali) e é para esse festival gastronômico que os trabalhadores partem na hora do almoço ou após o expediente – happy hour mais carioca que este não há. Quando falo trabalhadores, não me refiro a qualquer tipo de trabalhador – na sua grande maioria, são aqueles compostos por executivos, trajados em terno, gravata, sapato, que só não andam impecáveis porque esse calorzão do Rio não permite. Por outro lado, as mulheres também não cometem deslizes: terninhos, saltos altos e óculos – escuros, é lógico. A esquina Ouvidor x Mercado atinge um público-alvo baseado na classe média para cima, público este que acaba sendo refletido não só pelo comércio (como o restaurante árabe Al Khayam e a livraria Folha Seca, ali pertinho também) mas pela boa limpeza local, como um todo.


A REGIÃO, QUE é conhecida como o pólo bancário do Centro do Rio (a Bolsa fica logo ali, veja na 3ª foto), teve, ao longo desta década, seu tipo de serviços modificado para atender ao perfil de público que circula por ali, isto é, um perfil menos popular que o das demais áreas.


O cuidado dado às calçadas e aos paralelepípedos também são dignos de uma área melhor preservada, e isso não é exatamente graças à boa vontade do povo, mas sim à de quem planeja, executa e fiscaliza...

(Fim da parte 1. Continua... Aguarde!)

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