11.9.09

Referências norte-americanas no Centro do Rio

Mais conhecido por haver lançado os “Quatorze Pontos” na época da Primeira Guerra Mundial, o Presidente Woodrow Wilson governou os Estados Unidos da América de 1913 a 1921, recebendo bastante destaque em sua terra. Porém, em terras tupiniquins, mais ou menos na mesma época, após o progressivo desmonte do Morro do Castelo, uma charmosa e importante avenida foi sendo construída e, como homenagem, recebera o seu nome: Avenida Presidente Wilson, no Centro do Rio de Janeiro, cenário para o post de hoje!

Pres Wilson
ESPLANADA DO CASTELO: A Avenida Presidente Wilson concentra importantes pontos de referência carioca, na região do Castelo. A foto mostra o seu início, com vista a partir da Avenida Presidente Antônio Carlos.


A avenida, de duas pistas – sendo uma de acesso restrito e/ou especial – e a outra, a da esquerda, disponível para o trânsito de automóveis, na região conhecida como Castelo (como já dito, esta área era ocupada por um morro até o início do século XX), no Centro do Rio. Iniciando-se na Avenida Presidente Antônio Carlos – sendo continuação da Avenida Franklin Roosevelt, outra referência aos Estados Unidos –, a Presidente Wilson termina no encontro com as avenidas Rio Branco, Beira-Mar e da Praça Mahatma Ghandi (antiga Monroe), formando um belo visual composto pelos jardins do Aterro do Flamengo e da Baía de Guanabara. Maior detalhamento, cheque o mapa (à esquerda) e a área percorrida, pintada em verde.


PALÁCIO AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE: O anexo da Academia Brasileira de Letras concentra, ainda, a Galeria Manuel Bandeira, com exibições de acervos da própria ABL e de outros artistas. A estátua de Manuel Bandeira encontra-se em uma das entradas do palácio, na Praça da Academia.


Palácio e a Pça da Academia

Com muitos edifícios e escassa arborização, a Presidente Wilson recebe um grande fluxo de trânsito por ser uma das vias de escoamento da região e, também, por abrigar muitas construções importantes, pontos de referência para toda a cidade. Logo na esquina com a Presidente Antônio Carlos, o que chama a atenção é a Praça da Academia e o Palácio Austregésilo de Athayde (fotos ao lado), edifício anexo à Academia Brasileira de Letras, onde funcionam atividades culturais e a Biblioteca Rodolfo Garcia, patrocinada pela Petrobrás. No mezanino do Palácio, está instalada a Galeria Manuel Bandeira, com exibições do acervo da ABL, acervos particulares e exposições temporárias de obras de artistas contemporâneos. Inclusive, na Praça da Academia, que fica defronte à entrada do mezanino, há um monumento de bronze muito bem esculpido, onde o escritor encontra-se sentado em sua escrivaninha e uma espécie de caneta nas mãos. O edifício foi inaugurado no fim da década de 70, enquanto a Galeria Manuel Bandeira já é de data mais recente, aberta em 1998.

Comércio
MAR DE PRÉDIOS: A maioria dos edifícios na Presidente Wilson são destinados ao comércio e aos pequenos escritórios. Agências bancárias também fazem parte do cenário da via, assim como a Padaria e Restaurante Arcanjo e o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro.


ABL

Um pouco mais adiante, na mesma calçada, localiza-se a Sede da Academia Brasileira de Letras, mais conhecida como Petit Trianon, por ser uma réplica do mesmo palácio que existe em Versailles. O prédio fora construído no ano de 1922 para abrigar o pavilhão da França na Exposição Internacional comemorativa do Centenário da Independência Brasileira, aqui no Rio de Janeiro. No ano seguinte, em 1923, o governo francês doou o imóvel à ABL, onde funciona até hoje como local para reuniões regulares dos Acadêmicos e para Sessões Solenes. E mais: neste mesmo trecho da rua, funcionam muitos edifícios comerciais, bancos, a padaria e restaurante Arcanjo, pequenos armazéns e a sede do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, em um edifício bem simplório se comparado ao Petit Trianon.


POR ORDEM: Panorama da Av. Presidente Wilson em direção à Av. Calógeras | 2. O contraste entre o novo e o velho | 3. Parada de ônibus.




CRUZAMENTO: A esquina da Presidente Wilson com a Av. Calógeras é um dos trechos mais movimentados da via. Lojas de pequeno porte perpetuam a imagem da Presidente Wilson como uma via de tímido comércio de calçada.


Passado o cruzamento com a movimentada Avenida Calógeras, mais lojas de pequeno porte, como papelarias, um ou outro restaurante, uma loja de doces e uma filial dos Correios, perpetuando a imagem da Presidente Wilson como uma via de tímido comércio de calçada e de muita restrição aos serviços comerciais presentes nos mais diversos edifícios ao longo da avenida. Alguns pomposos por sua arquitetura, outros mal-conservados pelo desgaste, como é o caso do Consulado Geral dos Estados Unidos (fotos ao lado), que fica na esquina com a Rua México – mais duas referências norte-americanas! Apesar do projeto moderno, à base de vidros, o sopé das janelas da fachada deixam a desejar devido a uma aparente camada de sujeira, ou, não sei, um certo desgaste na tinta, provocada pela umidade. Enfim, a questão é que estes pequenos detalhes chamam um pouco a atenção (afinal, é um prédio relativamente novo!) e fazem-nos ter consciência de que uma nova pinturinha não cairia nem um pouco mal. Cercado por jardins, a entrada do Consulado também é cercada por guardas e cancelas, com placas no idioma nativo: STOP! Check with guard before proceeding. É, definitivamente, a fronteira entre o México e os Estados Unidos!


LET'S ACROSS THE BORDERLINE: O Consulado dos Estados Unidos fica na esquina com a Rua México, onde, coincidentemente, há uma cancela, impedindo a entrada ao prédio sem a devida autorização. É ou não a autêntica fronteira mexicana?


Bem de frente para o Consulado, está uma simpática praça, chamada de Quatro de Julho (fotos ao lado) – é a quarta referência norte-americana! –, em homenagem à Independência dos Estados Unidos da América. Com jardins e bancos muito bem-cuidados, coisa rara de se ver pelo Centro da cidade, a praça é mantida por iniciativa privada (of course!). Quem a mantém é a universidade IBMEC, onde está instalada em um prédio também na Presidente Wilson, já quase no encontro com a Avenida Rio Branco. Entretanto, neste exato trecho da Praça Quatro de Julho, uma inovação tecnológica ainda não muito comum pela cidade está aos nossos olhos; sabe aquelas placas verdinhas de trânsito? Que indicam a direção dos bairros e avenidas? Pois bem, logo na esquina com a Rua João Neves da Fontoura – a rua que contorna a praça – foi instalada uma placa virtual, com informações pertinentes ao dia, como o horário, data e, às vezes, contando com avisos sobre o trânsito e melhores opções de caminho. Porém o mais interessante é que a placa virtual reformula o desenho das placas verdes originais, podendo ter suas informações e direções modificadas sempre que necessário, sem ter que reconstruir outras, como é o comum. No caso desta, a placa indicava o sentido dos bairros do Catete, Flamengo e Botafogo.


INOVAÇÃO TECNOLÓGICA: Na esquina com a Rua João Neves da Fontoura foi instalada uma nova placa de trânsito, em formato digital, substituindo as antigas de ferro. Ora ela indica a direção dos bairros, ora informa o horário vigente.


Após a Rua México, os dois lados da avenida ficam muito bem definidos em relação aos serviços: de um, restaurantes como o Mala e Cuia, de comida mineira, e o Beduíno (foto à direita), especializado na comida árabe, formam a ala gastronômica da calçada. O Beduíno, aliás, é bem famoso nessa região do Castelo e da Cinelândia, muito prestigiado por sua comida de qualidade - entre ela, caftas de carne na brasa, arroz de lentilha, pernil de carneiro ensopado, e por aí vai - com preços bem acessíveis. No outro lado da calçada, lotada de motos e bicicletas devidamente estacionadas, é tomada pelo espírito juvenil dos estudantes do IBMEC (foto à esquerda), que, aqui no Rio, mantém unidades no Centro e na Barra da Tijuca (Zona Oeste da cidade). Junto ao edifício da universidade, existe um grande ajardinado, que mais parece uma praça, com uma estátua em homenagem ao General Francisco de Paula Santander, um dos libertadores da América espanhola. Ainda nesta praça funciona uma filial da rede de livrarias Saraiva, instalada no prédio do IBMEC em meio a um charmoso espaço com mesas e guarda-sóis rodeadas por grandes vasos ajardinados e árvores, ocupado, principalmente, pelos alunos da universidade, clientes do café da livraria. Tudo muito florido, bem nos moldes das praças européias.


ESPÍRITO UNIVERSITÁRIO: Ao lado da IBMEC, uma praça florida com mesas e guarda-sóis servem de espaço para a interação entre os estudantes da universidade, que contam, ainda, com uma filial da rede de livrarias Saraiva.



CHEGANDO AO FINAL: A Presidente Wilson termina no encontro com a Avenida Rio Branco e sua continuação dá acesso a regiões como a do Passeio, Glória e Flamengo. Na foto à direita, é no edifício ao fundo onde funciona o Consulado da Angola.


Finalizada a caminhada pela Presidente Wilson, uma bela vista se abre aos nossos olhos: o encontro com a Avenida Rio Branco e o seu obelisco, o visual especialíssimo da Praça Mahatma Ghandi – onde, antigamente, localizava-se o Palácio Monroe, demolido para a construção do metrô – com destaque para os edifícios no seu entorno, como o Francisco Serrador, jardins e mais jardins, e, bem lá no fundo, vistas tímidas de cartões-postais do Rio, como o Hotel Glória, a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar.


GRANDE VISUAL: Vista para o obelisco da Rio Branco e a praça Mahatma Ghandi (antiga Monroe).


A caminho de ir embora, remoendo na mente o que escrever para o post, revendo as fotos na máquina, bebendo longos goles de água gelada (para compensar o calor!), e, finalmente, contabilizando as diversas referências estado-unidenses ao longo da Presidente Wilson, que me pareceram muito curiosas, foi que eu me dei conta de que (pasmem!) não há nenhuma filial do McDonald’s por ali. Que discordância, não? Hehe...

4 comentários:

Samila Soares disse...

Oi Pedro, adorei esse post!!! Trabalho no centro do Rio e não me farto de observar o quanto de história nós temos para contar, a despeito de todo descaso que sofremos. Excelente!!!

Jaime Fernando de Souza disse...

Oi Pedro, seus comentários são oportunos e bem informativos.
Realmente, pareçe a fronteira do México, com esse consulado americano , quase fechando a rua.
Abraços,
Jaime Fernando

Ivo Korytowski disse...

I liked it!

pretaurea disse...

este post, a exemplo do seu blog, é de informação histórica e, consequentemente, de valor inestimável.
interessante é que, há poucos dias passando por um trecho de copacabana (entre as ruas constante ramos e cinco de julho, onde moro), observei que a maioria dos prédios têem nomes franceses, principiando por "chateaux", e hoje, através do diário do rio, encontrei seu interessante blog.
quem sabe esta informação possa ter utilidade para um futuro post...