Parte Final
Segui a Praia de Botafogo até o final para entrar na Rua Voluntários da Pátria, o mais decepcionante logradouro no quesito "canteiros urbanos" dentro da área percorrida. Primeiramente, vale lembrar que toda a Voluntários segue um padrão, que é, por exemplo, a presença de quatro canteiros em cada esquina. Não só uma forma de embelezamento, tem a função de criar um afastamento entre a rua e a calçada, além de obrigar os pedestres a atravessarem na faixa. E é bom ressaltar que no caso da Voluntários da Pátria os canteiros citados são - ou deveriam ser - de responsabilidade da Prefeitura, pois foram resultado de uma intervenção paisagística em Botafogo. Parece ter sido obra do Rio Cidade, do ex-prefeito César Maia, na década de 90... Não tenho como afirmar.
Enfim, o que acontece é que na Voluntários os canteiros estão para lá de Bagdá. Eles são constituídos de blocos de cimento, mais ou menos com meio metro de altura. Logo, a superfície lisa da estrutura dos canteiros são facilmente picháveis e destrutíveis ao longo do tempo. Não é à toa que há um monte deles quebrados. As plantas, coitadinhas, não merecem estar naquele lugar. Tanto que muitas delas já nem mesmo existem - os canteiros apenas contêm terra e lixo. Em alguns casos, quando são canteiros mais rebaixados, tem gente que guarda até bicicleta dentro, vê se pode! É para rir a falta de noção das pessoas. Aliás, uma observação curiosa: próximo à Rua Nelson Mandela, em alguns dos canteiros há placas de metal com a mensagem "Ajude a manter os canteiros e o jardins. Eles são seus". Embaixo, símbolos das entidades que colaboram na preservação deles: Prefeitura do Rio, Furnas, Fundação Parques e Jardins e Viva Rio. Pelo visto, nada tem sido feito.
Caminhei a Voluntários da Pátria toda até a Cobal do Humaitá. Continuei vendo muito canteiro podre, com pintura desgastada, lixo e espaços livres. Além disso, a paisagem da rua também não ajuda. Muitos dos imóveis na Voluntários estão decadentes e mal conservados. Sabe esses prédios antigos de lojas no térreo? Então, a maioria deles estão pichados, o que dá um aspecto muito feio à paisagem. Entretanto, foi só no Humaitá que eu comecei a ver algo que prestasse. Na Voluntários com a Rua Capitão Salomão, um desses canteiros padronizados, que já descrevi anteriormente, sobrevive em meio ao feio. É um jardim bem colorido, rodeado de pequenas palmeiras, que se repete no canteiro ao lado, que delimita a faixa de pedestres. Na esquina seguinte, Rua General Dionísio, as plantas do canteiro estão tão grandes que virou quase um matagal. Mas não tá feio, não, eu aprovo! É um matagal organizadinho, hehe. Na Rua Humaitá, as coisas melhoram bastante. A grande maioria dos tais canteiros são preenchidos por plantas e flores e estão bem conservados em relação ao percurso realizado.
FINAL DAS CONTAS...
Como já tinha comentado na primeira parte desta postagem, eu dou muito valor ao paisagismo urbano, até nos seus menores detalhes. Os canteiros urbanos fazem parte deste conjunto de detalhes, só que muito importantes para definir uma série de valores e significados para a rua. Afinal, uma rua arborizada e com jardins bem cuidados, com certeza, terá apartamentos mais caros e lojas mais sofisticadas estarão tentadas a ali se instalarem, em caso da via ser comercial, também. Fora do âmbito do dinheiro, uma rua bem ajardinada será local de procura para passeios descompromissados pelo seu valor estético e consequente agradabilidade. O que eu percebi neste percurso é que, definitivamente, não faz parte da cultura do carioca a arte dos jardins. Nisso incluo não só idéias concretas que os inovem, mas também o ato de preservar e respeitar, acima de tudo. Um canteiro bem cuidado é, sim, admirado, mas aqueles que não são passam a ser considerados como "coisas da vida", "cidade grande é assim mesmo"... E a partir disso as pessoas começam a criar novas funcionalidades para estes espaços; o canteiro vira lixeira, sinônimo de guarda-entulho e coisas do gênero. Não é bem assim que a banda deveria tocar. Não deveríamos encarar a situação dos canteiros como algo do acaso, mas sim reconhecer o descaso e revertê-lo. Isso não é impossível, não sai caro e mesmo que não se queira gastar nada, ainda sim é possível. É só sermos menos mais cidadãos, mais conscientes... é tudo nosso, para dar-nos conforto, dar beleza à rua em que moramos... por que, então, destruir? Um abraço!
Acreditem se quiser, mas é a verdade. Este canteiro, na Voluntários da Pátria com Rua Nelson Mandela, serve de cama para um mendigo. Ele dorme exatamente neste espaço aí dentro e aproveita as folhas da planta como uma espécie de cabaninha.
"Ajude a manter os canteiros e jardins", diz a placa. |
As calçadas da Voluntários são típicas de uma rua de passagem. O que importa ali é o fluxo de trânsito e nada mais, a paisagem não tem muito valor. Logo, os canteiros ficam a ver navios...
Em frente à Cobal, um dos canteiros foi acimentado. Por quê? |
Foi no Humaitá onde encontrei os mais bem conservados jardins. Observe que são os mesmos modelos de canteiros que existem ao longo de Botafogo, só que muito mais incrementados.
FINAL DAS CONTAS...
Jardim simpático na Rua Humaitá |
3 comentários:
Pedro. Acho que o que mais afeta essa questão de descuido com os canteiros é a nossa sociedade cada vez mais individualista.
Aposto que esses canteiros bem cuidados já no Humaitá não estão nessa condição por causa da Prefeitura, e sim por causa de moradores da região que ligam o minimo para o entorno de suas residencias e lojas.
Mas o que vemos mais e mais é que as pessoas vivem ali dentro dos seus apartamentos, reclusos atras de grades, e que não se importam com nada que vá alem da porteira de seus apartamentos.
É um comportamento "burro". Pois desvaloriza o local e atrae ainda mais desordem e caos.
Ando meio sumido devido a falta de tempo.
Vou fotografar e te mandar um canteiro lindo que tem aqui perto de casa! rs
Quer ver canteiros bem cuidados, vá para as ruas dos ricos, Vieira Souto por exemplo. Os ricos não zelam só por seu dinheiro, mas também por seu entorno!
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