31.3.10

Rio & Geografia: Os ônibus (parte 2/5)





Os cariocas têm uma grande afeição às linhas de ônibus. Isto é, refiro-me àqueles que usam tal meio de transporte, pois nem todos o utilizam. Mesmo assim, independente da condição social ou do lugar onde mora, todos pegam ou alguma vez subiram em algum coletivo. Ainda assim, mesmo quem nunca tenha pego – o que eu acho difícil! -, conhecê-los de vista, pela cor, pelo número, todo mundo conhece, o que comprova que os ônibus são figuras bastante marcadas na cidade. Uma relação de amor platônico, que deriva em nomeações criativas como “quatro doidão” (referência à linha 422, na foto acima), “laranjinha”, “amarelinho” ou, então, em divergências na leitura dos números: o 247 pode ser chamado de “dois-quatro-sete”, enquanto outros chamarão de “duzentos e quarenta e sete”. O cara que faz uso da primeira nomenclatura fará cara feia ao ouvir o soar da segunda e vice-versa. Os ônibus são figuras carioquíssimas - repito -, é parte do nosso cotidiano, mesmo que não percebamos.

No entanto, os ônibus do Rio encontram-se em uma linha tênue entre o amor e o ódio. A dificuldade de locomoção em uma cidade cercada de morros, com vias bastante deficientes acoplada aos interesses da esfera privada, faz com que o carioca sofra com os itinerários pouco eficazes. Itinerários repetitivos, que sobrecarregam as ruas e avenidas. Sem falar no monopólio das empresas que dominam determinadas áreas do Rio, prestando serviços aquém do exigido, tarifas exorbitantes e – uma vez mais – com itinerários ultra semelhantes.

Enumerei alguns exemplos em diferentes regiões da cidade. Acompanhe.

CENTRO
A área mais bem servida de linhas de ônibus. Motivos são óbvios: é o Centro da cidade. Dali se encontram linhas para todos os lugares do Rio, embora o excesso no número de veículos sobrecarregue de forma decisiva todas as ruas desta região, cujas quais a maioria não conta com largura adequada para o recebimento de um grande fluxo de veículos. Logo, os dois grandes eixos viários do Centro (as avenidas Presidente Vargas e Rio Branco) viram um mar de ônibus nos quais, muitas das vezes, estão vazios. Quantidade de linhas, no Rio, é um sinônimo de qualidade, de serviço bem prestado, o que em realidade isso não consta nem um pouco. Redução no número de linhas com aumento de planejamento nos itinerários amenizaria o problema do trânsito no Centro – junto da expansão do metrô, o que é assunto para outro post.


A CENTRAL DO Brasil, na Avenida Presidente Vargas: um número alto de coletivos circula por esta via, que é uma das mais largas da cidade do Rio, com quatro pistas. Mesmo assim, o trânsito é caótico.


ZONA SUL
A área turística da cidade, a Zona Sul, conta com os melhores serviços de transporte da cidade, além do Centro, com ônibus modernos, limpos e menos poluentes, em alguns casos. Entretanto, o que a Zona Sul ganha em conforto, ela ganha em trânsito caótico e em excesso de linhas. Nesta região, encontram-se três grupos de itinerários circulantes: Zona Sul-Zona Sul (linhas que circulam entre os bairros da Zona Sul, administrada em maior parte pela empresa São Silvestre), Zona Sul-Centro (linhas que ligam os bairros desta zona ao Centro da cidade, na qual a Real Auto Ônibus tem o poder quase supremo sobre este trajeto) e Zona Sul-Zona Norte (linhas que ligam os bairros do Sul aos da Zona Norte, mais especificamente à região da Tijuca e de Vila Isabel e algumas poucas linhas que conectam ao subúrbio). A ligação entre as zonas Sul e Oeste é ainda precária, com exceção dos bairros da Barra e do Recreio.


A FALTA DE planejamentos nos itinerários, de forma a torná-los mais eficazes, ficam em segundo plano, contribuindo para o excesso de frota nas ruas e, na maior parte das vezes, sem passageiros, pois os itinerários são muito mal distribuídos. Na foto acima, a Avenida das Nações Unidas, em Botafogo, após uma batida de ônibus, em janeiro de 2010.


Espremida entre o mar e a montanha, a Zona Sul não conta com avenidas largas o suficiente para receber a quantidade de veículos que recebe. Os itinerários fazem o mesmo percurso praticamente, afinal, os acessos para sair da Zona Sul são poucos. Uma mesma linha que ligue o bairro do Leblon ao da Glória pode ser o mesmo que ligue o Leblon ao Centro, ou então, até mesmo, um que conecte o mesmo bairro à Zona Norte. Ainda no mesmo raciocínio, uma mesma linha de ônibus que ligue, por exemplo, Copacabana à Central do Brasil, pode ser feita por outras diversas linhas que ligam Copacabana à Zona Norte, via Avenida Presidente Vargas.

TIJUCA e ALTO DA BOA VISTA
Outra região bastante próxima do Centro que é muito bem servida de ônibus. Ainda que a malha de ruas/avenidas desta localidade seja mais expandida que a da Zona Sul, o trânsito caótico também impera nas principais vias de trânsito, como a Praça Saens Peña, ponto de partida de diversos coletivos para diferentes regiões da cidade. Uma das críticas ao sistema de ônibus da Tijuca é a semelhança entre os itinerários que conectam esta região à Zona Sul. Uma linha que conecte a Tijuca ao Leblon, por exemplo, percorre todo o Centro da cidade, Aterro do Flamengo, Copacabana e Ipanema. Uma linha que ligue a Tijuca à Gávea, percorre a Lapa, toda a Praia do Flamengo, Botafogo, Humaitá, Jardim Botânico e... ufa!, a Gávea. O Túnel Rebouças, principal eixo viário entre as zonas Sul e Norte, encontra-se em um bairro vizinho à Tijuca, podendo interligar tais trajetos em questão de minutos. Entretanto, não existe nenhuma linha regular que percorra toda a Rua Conde de Bonfim em direção à Zona Sul via Rebouças, que é logo ao lado.


A AUTO VIAÇÃO TIJUCA, mais conhecida como Tijuquinha, monopoliza as linhas de ônibus que circulam pelas estradas do Alto da Boa Vista, com serviços nem sempre satisfatórios. A frequência irregular das linhas deixa muitos moradores da Tijuca e do Alto na mão, pois são as únicas que conectam a região à Barra da Tijuca.


Em seguida, o problema dos ônibus no Grande Méier, Barra e Recreio, Jacarepaguá, Ilha do Governador, Subúrbio e Zona Oeste.

Fontes das fotos, por ordem de aparição:
1 - Disponível em Busologia do Rio. Acesso em 31/03/10, às 14h40.
2- Disponível em Extra. Acesso em 31/03/10, às 14h28.
3 - Disponível em O Dia. Acesso em 31/03/10, às 14h19.
4 - Disponível em Revista do Ônibus. Acesso em 31/03/10, às 14h50.

28.3.10

Rio & Geografia: Os ônibus (Parte 1/5)




O meu primeiro contato com o Rio, como integrante consciente deste meio, como carioca, como cidadão, foi, sem dúvida, nas primeiras vezes em que andei de ônibus pela cidade. Sozinho, lá pelo final dos anos 90. Com itinerários curtos, é claro, fui descobrindo as aventuras de ser quase um “dono-do-meu-próprio-nariz”, passando pelos primeiros perrengues rodoviários, incluindo lotações quase desumanas, ligeiros assaltos, engarrafamentos intermináveis e – principalmente – o erro de itinerário. Quem nunca pegou um “busão” errado? Minha paixão por ônibus cresceu daí, de todo esse meu precoce envolvimento com o meio urbano, sendo a oportunidade única de conhecer lugares da cidade com meus próprios olhos, pela janela destes dinossauros em movimento. A idade avançando, os conhecimentos se aprofundaram, aliados à experiência e às conclusões bastante óbvias foi que eu percebi: o sistema de transportes coletivo rodoviário do Rio é questionável. Carece de críticas.

Andar de ônibus é uma sensação estranhamente prazerosa para mim. Mesmo morando ao lado de uma estação do metrô (da linha 1, que é ainda mais prazeroso – ou seria menos doloroso?), muitas das vezes opto por me deslocar através dos ônibus. Gosto de saber os itinerários de cor, fazer cálculos mentais de qual coletivo se deslocará mais rapidamente para o local que desejo ir, faço um balanço de pós e contras entre uma linha e outra, e, desde então, venho acompanhando a evolução das linhas de ônibus pelo Rio e as dificuldades eternas dos veículos com seus percursos em uma cidade cercada por montanhas, favelas e de malha rodoviária deficiente – ruas estreitas e sobrecarregadas.


A EVOLUÇÃO DOS VEÍCULOS: de quadradões e com cara de antigos nas décadas de 80 e 90, novos modelos de ônibus surgiram na década de 2000, com formas mais sutis e design repaginado.


Lembro-me de, criança, andar em ônibus velhos, sujos, quadradões. Os veículos mais novinhos vinham aparecendo timidamente, com novas tecnologias, ruído abrandado. Mesmo assim, a entrada de passageiros ainda se dava pela porta de trás, lugar também aonde ficava o trocador. Em 2002, uma mudança na legislação fez com que todos os veículos estabelecessem o embarque pela porta da frente. A partir daí foi que os ônibus velhotes foram realmente dando adeus. Veículos com ar-condicionado aos montes, poltronas mais confortáveis, letreiros luminosos. A evolução. Assim como as tarifas: em março do ano de 2000, uma passagem de ônibus, linha regular, sem ar, custava R$ 0,90 centavos. Hoje, dez anos depois, pagamos por essa mesma tarifa R$ 2,35 – um aumento de quase 162%.


O GRÁFICO ACIMA expõe a evolução tarifária das linhas de ônibus entre 1º de julho de 1994 - data da implementação do Real - até os dias de hoje. Incrível pensar, mas até dez anos atrás um passe custava menos de 1 real!


Os ônibus são, sem dúvida, figurinhas muito cariocas. Referências da cidade, lugares de estórias, de polêmicas – quem nunca se questionou sobre a verdadeira cor dos ônibus da Transportes Vila Isabel, aquele abóbora (ou seria vermelho?). E aqueles amarelinhos, da Real Auto Ônibus, que circulam entre o Centro e a Zona Sul? São símbolos do Rio. Através dessas questões, crio aqui um especial para o blog As Ruas do Rio sobre esse famoso meio de transporte, suas conveniências e dificuldades. Espero que gostem!


SÍMBOLOS DO RIO: as frotas de veículos das empresas Real e Vila Isabel, respectivamente na foto acima, são umas das mais populares que circulam pelo Centro expandido do Rio.

18.3.10

Panoramas Rápidos (12) | Lagoa




COLADA À UM DOS MAIS belos cartões do Rio - a Lagoa Rodrigo de Freitas -, a Avenida Borges de Medeiros é um importante eixo viário da Zona Sul. A foto mostra o trecho da avenida nas proximidades do Túnel Rebouças. Congestionada, mas bela!

9.3.10

O drama do bairro de Noel

Imortalizada por Noel Rosa (foto ao lado, a estátua do compositor na Praça Maracanã), Vila Isabel é, de longe, um dos bairros mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro. Inundada por referências musicais e culturais cariocas, o bairro surgiu através do então empresário João Batista Viana Drummond, tornando-se Barão no futuro. Drummond dedicou à Princesa Isabel o grandioso lote de terras adquirido, por isso o nome. Com planejamento impecável, ruas em tabuleiro de xadrez, um bulevar com inspirações francesa, praças charmosas e o primeiro jardim zoológico da cidade, Vila Isabel tornou-se um dos bairros cariocas mais aprazíveis e nobres para se morar. Este título permaneceu por muitos anos, até que os problemas contemporâneos em função da descontrolada urbanização começou a afetá-la diretamente - eis a progressiva queda do império.


O PROJETO DO BAIRRO foi elaborado pelo Barão de Drummond, detentor das terras onde hoje se situa Vila Isabel.*


Localizada em uma importante região da Zona Norte do Rio, nos arredores do estádio do Maracanã, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e de parques florestais importantes, como a Reserva do Grajaú e a Floresta da Tijuca, Vila Isabel é, hoje, um bairro de classe média e média-baixa, que procura não afundar-se diante de tantas calamidades e de violência que a atinge. Cheguei a citar no último post que Vila Isabel foi um dos bairros que eu mais frequentei no meu início de adolescência, naqueles momentos em que os pais te permitem sair de casa sozinho. Diria que foi ali também onde surgiu todo esse meu interesse pela geografia e cultura da cidade. Consigo mentalizar muito bem o que era Vila Isabel há dez, doze anos atrás e o que é agora, e confesso: nunca vi nenhum outro lugar decair tanto como este em tão pouco tempo.


O BOULEVARD 28 DE SETEMBRO é o único logradouro do Rio de Janeiro com a designação de bulevar, projeto inspirado nas vias francesas que tanto influenciavam a vida carioca no passado. A avenida conta, ainda, com partituras estampadas nas pedras portuguesas de suas calçadas, em homenagem aos artistas do bairro, como Noel Rosa.


O luxo ficou no passado
Ruas charmosas, arquitetura imponente, árvores centenárias. As ruas de Vila Isabel vem sofrendo, cada vez mais, um processo de deterioração nunca antes visto. Os sobrados remanescentes do início do século XX estão caindo aos pedaços e, quando deveriam ser reaproveitados e restaurados, como preservação da memória cultural carioca, são ocupados por um tipo de comércio (popular) que as descaracteriza. A Rua Teodoro da Silva, importante ligação entre o Grajaú e o Maracanã, recebe diariamente um fluxo crescente de automóveis e ônibus, embora o número de árvores esteja cada vez mais decrescendo. Paisagem gris, contribuída com a ajuda das pichações que imperam a cidade. O Boulevard 28 de Setembro, majestuosa avenida, a única com designação de bulevar no Rio, também sofre com a imundície das calçadas musicais e com a descaracterização dos imóveis clássicos, transformados em comércio dos mais variados tipos. Não há charme que resista a um maltrato deste tipo. A Praça Barão de Drummond também encontra-se em estado nada glamuroso; antigo local de passeio, a praça nada mais é hoje como ponto final para as linhas de ônibus abóboras. O antigo jardim zoológico, chamado de Recanto do Trovador, importante parque da região, encontra-se às moscas e à mercê da violência.


IMPORTANTE VIA de trânsito de Vila Isabel, a Rua Teodoro da Silva (foto à esquerda) sofre com a falta de árvores, com o vandalismo e a falta de conservação dos imóveis. Já a Praça Barão de Drummond (foto à direita, com o Convento de N. Sra. da Conceição da Ajuda ao fundo), outrora aprazível, hoje está decadente e deficiente, afetada principalmente pela violência.


O mercado imobiliário
Por abrigar uma das favelas que mais tem estado na mídia por seu alto grau de instabilidade, o Morro dos Macacos, os imóveis da região sofrem com a desvalorização em função da violência. A Rua Visconde de Santa Isabel, uma das mais afetadas, abriga prédios de classe média e média-alta, mas que sofrem com os tiroteios provenientes do morro. As placas de "Vende-se" são muitas, embora poucos consigam vender seus imóveis. E se conseguem, é por preços aquém do desejado. De acordo com o site da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI), um apartamento quarto-sala na Visconde de Santa Isabel está sendo vendido, em média, por R$ 77 mil reais enquanto na Rua Teodoro da Silva, afastada do morro e da linha de tiro, o preço sobe para R$ 160 a R$ 180 mil reais - mais que o dobro, para se ter noção de tal discrepância. Uma das possibilidades para que este quadro se reverta (ou estabilize) seria a ocupação das UPPs - polícia pacificadora - nos morros do bairro.


A RUA LUIZ BARBOSA no encontro com o Boulevard 28 de Setembro e a Praça Barão de Drummond e parte da favela do Morro dos Macacos, ao fundo.


Comércio e serviços
Em 1996, o Shopping Iguatemi chegou a Vila Isabel, no antigo estádio do América Football Club, na esquina das ruas Teodoro da Silva e Barão de São Francisco. Mais conhecido por suas lojas caras e sofisticadas, o Iguatemi foi inaugurado ali como forma de atender a um público que ainda não contava com um centro comercial daquele porte. Até então, o alto poder aquisitivo dos moradores de Vila Isabel, Grajaú, Tijuca e Maracanã foi bastante apreciado pelo Iguatemi até que, em decorrência dos problemas já relatados, a procura por lojas elegantes foi deixada de lado. Quem pôde sair de Vila Isabel, começou a sair, e o shopping passou a se adequar ao novo público-alvo: as classes média e média-baixa. Supermercados como o Pão de Açúcar e joalherias como a H. Stern se retiraram e deram lugar às lojas populares como as Casas Bahia, Ricardo Eletro, Renner, entre outras.

Atualmente
O que resta hoje à Vila Isabel e à sua famosidade é o Carnaval. A GRES Unidos de Vila Isabel (à direita) tem se destacado no Grupo Especial da escolas de samba do carnaval, após um longo período no Grupo de Acesso. Ter sido o berço de diversos compositores e poetas, ou o lugar onde eles se revelaram, ainda mantém a imagem de Vila Isabel como um bairro boêmio e musical. Os botecos, marca registrada do bairro, continuam salpicando de esquina em esquina, porém, como nada na vida é somente festa, a Vila merece um tratamento mais adequado. Tratamento não só para coibir a desordem urbana, mas também para valorizá-la diante de sua grandiosa importância para a cultura do Rio. Tratamento para reembelezá-la e reelevar a auto-estima de seus moradores, que tanto a amam. Tratamento para que a população marginalizada possa viver em paz, com decência, sem ataques violentos nem tiros. Tratamento para que todos vivam em harmonia, favela e asfalto, ruas e limpeza, lixo e lixeira. Vila Isabel é um patrimônio, salvá-la é nosso dever!

*Fonte:
ABREU, Maurício de A. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPP, 2008, p. 46.

6.3.10

A Hipólito da Costa, de Vila Isabel

Andar pelas ruas, para mim, é uma grande distração, esteja calor ou frio. Eu gosto de observar as calçadas, analisando a altura entre elas e o asfalto, admirar canteiros, jardins e árvores bem cuidadas, além, claro das construções. Gosto de prédios bonitos, modernos, clássicos, antigos - casas idem. Eu sou um grande apreciador do meio urbano e decepciono-me, às vezes, quando algum lugar não corresponde as minhas expectativas de encantamento; principalmente aqueles locais em que, por algum motivo, tivemos algum vínculo em certa fase de nossas vidas e ao nos depararmos novamente com ele, vemos que muito mudou. Alguns melhoram, outros se afundam. Um desses lugares é o bairro de Vila Isabel, de onde trago fotos da Rua Hipólito da Costa.

REPRESENTAÇÃO EM satélite da região fotografada. A Rua Hipólito da Costa está pintada em amarelo.



À ESQUERDA, o panorama das casas da Rua Hipólito da Costa, na sua primeira quadra. Ao lado, a Praça Tobias Barreto, na confluência com a Rua Duque de Caxias.


Vila Isabel foi um bairro cujo qual frequentei muito no início e no decorrer da minha adolescência, mais em função do então poderoso Shopping Iguatemi, inaugurado ali na década de 1990. Conhecer as ruas do bairro foi consequência. Uma delas, das minhas preferidas na região, é a Hipólito da Costa, que se inicia no alto da Rua Duque de Caxias, junto da Praça Tobias Barreto, e finda no Boulevard 28 de Setembro. Rua larga, de casas bonitas e de um clima familiar e interiorano. Um mini-subúrbio que se esconde entre o caos da 28 de Setembro e que, a duras penas, tenta sobreviver em decorrência da agressiva decadência de um dos mais tradicionais bairros cariocas.


O AUMENTO DOS índices de violência no bairro e o empobrecimento da população provocou a degradação de ruas e praças, como a Tobias Barreto. Em consequência, moradores tentam vender seus imóveis, a preços bem mais abaixo do ideal.


Com pequena extensão, eu comecei a minha excursão lá em cima, descendo a Rua Duque de Caxias e caindo à esquerda, onde a Hipólito da Costa se inicia ao lado da praça. Constituída praticamente por casas, apenas, todas elas compartilham as mesmas características: bonitas e imponentes construções, aparentemente espaçosas, a grande maioria à venda. As placas de "Vende-se" no local são muitas, não só na Hipólito da Costa, mas também pela ruas Duque de Caxias, Torres Homem e Engenheiro Gama Lobo. Uma das evidentes razões para isso deve-se ao avanço da violência no bairro, principalmente dos tiroteios que ocorrem ao redor do Morro dos Macacos, próximo dali. Mais uma vez a violência e o desequilíbrio social destruindo um lugar que até pouco tempo atrás era calmo e extremamente valorizado. As casas, umas ao lado das outras, são quietas, sem grande movimentação de portas e janelas abrindo-se ou então de barulhos humanos. A não ser o latido dos cachorros. Alguns poucos carros passam por lá, mas mesmo assim são relativamente silenciosos, como o ponto final da linha de ônibus 464 (Maracanã - Leblon) (foto acima, à direita), instalada na Praça Tobias Barreto.


RUA LARGA e espaçosa, típica de bairros bem projetados como foi Vila Isabel, a Rua Hipólito da Costa concentra uns dos melhores imóveis do bairro.


Na quadra adiante, a tranquilidade permanece, assim como a imponência das casas, que passam a dividir o espaço com alguns poucos edifícios, mais concentrados nas proximidades com o Boulevard 28 de Setembro. Alguns imóveis se destacam mais que outros, alguns decepcionam pela conservação e outros encantam por, simplesmente, sua simplicidade. Neste último trecho, o que mais chamou-me a atenção foi o Bairro da Pequenina, localizado no número 44. O tal "bairro" é uma simpática vilinha particular, estreita, de casinhas pequenas e canteiros centrais com flores e plantas, como se fosse uma avenida de duas pistas. Adorável!


ACIMA, ALGUMAS DAS casas mais adoráveis da Rua Hipólito da Costa. Na última, o panorama da rua com a escola Centro Educacional da Infância - Unidunitê (de grade vermelha) e os edifícios, que passam a brotar a medida que a rua se aproxima do Boulevard 28 de Setembro.



NAS PROXIMIDADES com a 28 de Setembro, um pequeno comércio começa a brotar pela Hipólito da Costa, embora casas simpáticas, como a representada acima, permaneçam embelezando o local, preservando assim o clima familiar que a rua apresenta.



NA SEQUÊNCIA, a Rua Hipólito da Costa chegando à esquina com o Boulevard. Detalhe para o Bairro da Pequenina, simpática vila no número 44 da rua.


Por um momento é possível esquecer que ali é o centrão de Vila Isabel; porém, quanto mais se aproxima do Boulevard, os aspectos mais peculiares do bairro vão começando a se evidenciar: lojas de pequeno porte uma ao lado da outra e os famosos butecos. O clima triste que contagiou-me ao iniciar a minha caminhada foi se revigorando ao ver que as pessoas riem e divertem-se, mesmo com todos os problemas. É a grande qualidade do brasileiro (ou do carioca!) saber relevar os problemas e sorrir. Com uma máquina na mão, a curiosidade das pessoas em relação a mim é atiçada e elas me abordam e perguntam "para que são essas fotos?". Os moradores de Vila Isabel fizeram isso e receberam-me tão bem que é impossível olhar para o lugar e não sentir-se bem, ainda que ele esteja em frangalhos. É a tal daquela expressão que usamos entre nós: o que importa não é a aparência, mas sim o conteúdo, a alma da pessoa. As ruas também têm um pouco disso e Vila Isabel, especificamente a Rua Hipólito da Costa, transmitiu-me paz de espírito. A Zona Norte como um todo, as áreas suburbanas, entre outras, possuem essa coisa do clima acolhedor, do carisma, embora infelizmente sofram com o abandono e o descaso dos órgãos públicos e também de muita gente ignorante. Aparência não é fundamental, mas certos lugares e pessoas merecem esse bônus por já estarem quites com a beleza do seu interior. Diante disto, façamos a campanha: Salvemos Vila Isabel! Vamos reembelezá-la! O bairro merece.

4.3.10

Túnel do Pasmado

Muitas das vezes, naqueles momentos de ócio, o Youtube é e sempre foi a minha melhor companhia. Vê-se um vídeo, depois outro, aí você clica em um outro vídeo relacionado que não tem nada a ver com o que se tinha em mente, por aí vai, até que se encontram verdadeiras relíquias. Foi em um desses momentos que eu achei um vídeo levemente promocional sobre a inauguração do Túnel do Pasmado - aquele que conecta o Aterro e a Enseada à Avenida Lauro Sodré, debaixo do Viaduto Carlota Joaquina, em Botafogo. A data exata do vídeo eu desconheço, mas acredito que seja da década de 50. Curiosíssimo... Vejam!