27.3.11

Rua Alegrete

 O "mosaico" de pastilhas azuis e amarelas em edifício na esquina da Rua das Laranjeiras com Rua Alegrete

Edifício Torres:
paixão por esses
tipos de prédios
A esquina e o mosaico
Perto demais da Rua General Glicério, que foi tema do post passado, também está a Rua Alegrete, outra rua bastante simpática em Laranjeiras. Ela é bem pequenininha, começando na Rua das Laranjeiras - quase uma continuação da Rua Almirante Salgado - e, sem saída, termina em uma espécie de "larguinho", rodeada por uma enorme pedreira arborizada.

Diferentemente da General Glicério, a Rua Alegrete não tem glamour, tampouco detalhes mais frufrus de ruas mais elegantes. O grande barato da Alegrete é a sua simplicidade, o que a torna bastante atrativa e charmosa. Com exceção da sua única esquina, que é abrigada por edifícios antigos e bonitos, a Rua Alegrete é toda formada por casas pequenas, de até dois pavimentos. Umas estão mais bem cuidadas do que outras, embora cada uma delas tenha um desenho especial e que, portanto, as valoriza como joias urbanas.

 Pequenininha, a Rua Alegrete fica entre a muvuca comportada do trecho final da Rua das Laranjeiras e uma pedreira arborizada. O lado de trás dessas árvores poderia ser considerado como quase os fundos das ruas próximas à General Glicério. 

 O final da Rua Alegrete é formado por um mini largo de tamanho retangular. A creche Coleguinha fica lá, assim como essa charmosa casa cor de abóbora.

A Rua Alegrete é tão familiar e calminha que poderia se transformar perfeitamente em uma vila. Tem gente que prefere morar em uma rua fechada; inclusive, eu próprio considero a importância de se viver em um ambiente mais seguro, mas... acho tão triste privar os não-moradores de ter acesso a recantos como esses! O grande problema são os vândalos que picham as paredes, destroem os jardins, deixam o cocô dos seus cachorros por ali, sem recolhê-lo... Isso dá uma sensação de impotência aos moradores, que acabam vendo como única solução a instalação de grades, portões e interfones. Ainda não é o caso da Alegrete, mas espero que eles considerem a beleza que é a liberdade do ir-e-vir e, desta maneira, poderemos continuar explorando sítios bacaninhas pela cidade como essa rua.

23.3.11

"(...) o bairro das Laranjeiras, satisfeito, sorri..."

 A vista da Rua General Glicério no seu início, pela Rua das Laranjeiras, a principal da região.

Mapa do trecho
percorrido
A música "All Star", de Nando Reis,  também interpretada pela imortal Cássia Eller, retrata de forma curiosa como o bairro de Laranjeiras se sente no momento em que chega a personagem da canção para encontrar a(o) amada(o). "Aperto o doze que é o seu andar, não vejo a hora de te encontrar"... Desde segunda-feira, 21 março, que essa música não me sai da cabeça, principalmente porque estive no próprio bairro de Laranjeiras, aproveitando meu último dia livre antes de começar a trabalhar. Aproveitei para desbravar um pouco os detalhes da Rua Alice, do Largo do Boticário, da Rua Alegrete e da belíssima General Glicério. Passo tão batido por essa parte do bairro que não tinha ainda percebido como ali é interessante e bonitinho.

Restringi este post à Rua General Glicério porque, além de ser uma das ruas mais lindas da cidade, ela tem toda uma história. Até meados da década de 30 do século passado, a região da General Glicério era, na verdade, a antiga fábrica da Companhia de Fiação e Tecidos Aliança. Com a hipervalorização dos terrenos na Zona Sul e a "vontade" de expulsar a população operariada para os subúrbios, a fábrica foi desativada e ali construiu-se um conjunto de ruas bem desenhadas, quase em forma de condomínio, conhecida por Jardim Laranjeiras. Na parte "alta" da Rua General Glicério foram erguidos edifícios de gigantesco valor histórico e arquitetônico, separados um dos outros, rodeados de esplendorosos jardins.

 Subindo a General Glicério: a casa amarela, uma das poucas na rua invadida por prédios, funciona como creche.

Venezianas
Arborização intensa
No primeiro trecho, entre a Rua das Laranjeiras e o encontro das ruas Belisário Távora e Professor Estelita Lins, a General Glicério tem um ar meio de ruas de Copacabana. Aliás, Copa parece ser um pouco sombria, pela significativa quantidade de árvores dispostas em cada rua.  A General Glicério também é assim, bem arborizada e escura, com muitos prédios altos, milhares de janelas com venezianas e um considerável comércio no térreo destes mesmos edifícios bem ao início da rua. A loja especializada em laticínios, Normandia, parece ser bem tradicional na rua e no bairro.

A rua vai ficando mais feliz lá na esquina da Rua Belisário Távora, onde está a Escola Municipal Albert Schweitzer e uma placa de trânsito pequenina, indicando Botafogo para a direita. Cuma? Botafogo tá pra outra direção! Forcei o meu quebra-cabeça-cartográfico-mental em busca de alguma lógica para aquela indicação. Foi aí que eu lembrei que o morro Mundo Novo, de ruas pra lá de sinuosas, é bem perto dali e termina na Rua Assunção, bairro de Botafogo. Taí a alternativa de caminho!

Início do trecho mais bucólico da Rua General Glicério. A placa indica "Botafogo" à direita, mostrando a alternativa de caminho pelo Morro Mundo Novo.

Praça Jardim Laranjeiras
Mas peraí... nessa mesma esquina há mais coisas a serem apreciadas! Os prédios, até então totalmente retangulares, ganham linhas mais suaves e circulares, que obedecem ao contorno das ruas que os abriga. Em frente, a General Glicério ganha duas pequenas pistas com um canteiro central bem espaçoso, cheio de cadeiras, bancos e... carros estacionados! A praça em questão é a Jardim Laranjeiras, rodeada de edifícios simpáticos e um compacto comércio local, como farmácia, lavanderia e um restaurante-lanchonete. Isso tudo enfeitado com o vai-e-vem das linhas 183 e 184 da Intersul, antiga São Silvestre, intercalando o amarelo novato com o marrom-bege da lataria antiga.

 A Rua General Cristóvão Barcelos circunda a General Glicério que, a partir deste trecho, transforma-se em um lugar totalmente diferente em relação ao seu início.

Jardins da Gen. Glicério
Ah! Chegamos na melhor parte; quem conhece, sabe! As calçadas da Rua General Glicério, agora, ganham uma espécie de passarela coberto por um tapete de pedras portuguesas brancas e pretas, formando o símbolo de uma flor com quatro pétalas.  Acostumado com aqueles canteiros pequenininhos, miúdos e mixurucas, por ali os jardins são verdadeiros campos floridos cercados por grades charmosas, cheias de critério. O caminho para pedestres, a tal "passarela" descrita, é margeada por dois destes vastos jardins, separando os transeuntes do tráfego da via e da portaria dos edifícios. Embora o nome do bairro seja Laranjeiras, por ali tem-se muitas mangueiras, palmeiras, pinheiros, oitis, jacarandás e ipês-amarelos.

 Diversas espécies de árvores e plantas habitam a General Glicério. À direita, observe que os edifícios estão em um plano superior da calçada, protegidos por um jardim.

Edifício Paquetá
Edifício Timbaúba
Os edifícios deste trecho da General Glicério foram tombados até o ano de 2002. E não é para menos: eles são lindos! Este trecho da Zona Sul, aliás, é muito marcante para os admiradores destes tipos de prédios erguidos entre os anos 40 e 50. São altos, com escadas de acesso protegidas por corrimão de bronze; a entrada para a portaria é sempre um trabalho caprichado de arte que se faz ver pelo desenho do ferro, muitas vezes entrelaçado. A grande maioria está numa parte mais alta da calçada, conferindo um aspecto, obviamente, superior em relação à rua e ao pedestre que não é morador.

Embora estes edifícios sejam bastante intocáveis pela sua majestuosidade, ao longo dos anos, o térreo deles foi sendo compartilhado com alguns tipos de comércio relevantes para os moradores da rua. Um bar sem nome, caracterizado por uma placa aparentemente dos anos 80 do refrigerante Grapete; uma confeitaria, a Rainha das Laranjeiras, ao lado do edifício Triunfo; um brechó, laboratórios médicos, agências imobiliárias e, o mais destacado dali, a sofisticada loja de vinhos L'Orangerie, voltada para um público de maior poder aquisitivo.

A confeitaria Rainha das Laranjeiras é um dos comércios locais nesta parte de Laranjeiras. Mesmo com a imponência e "intocabilidade" dos edifícios, o comércio da Zona Sul parece não ter espaço suficiente nas ruas e, desta forma, proliferam-se no térreo dos prédios.

A Rua General Glicério termina no encontro das ruas General Cristóvão Barcelos e Professor Ortiz Monteiro, que fazem um círculo atrás dela (confira no mapa). Lá parece ser, de fato, o ponto final das linhas 183 e 184, que fazem o percurso entre a Central e Laranjeiras, agora com duas versões - uma expressa, que vai pelo Túnel Santa Bárbara, e a tradicional, que vai pelo Catete. A verdade é que eu sai estonteado de lá pois adoro esses recantos bucólicos no meio da selva que é a cidade grande. Se a General Glicério tivesse menos carros estacionados e menos cocô de cachorro em suas pedras portuguesas, seria perfeita. Mesmo assim, aludindo à canção, ao sair dali, satisfeito, sorri. 

13.3.11

O último sábado de Carnaval na Cidade Nova

 Veja como foi o "último sábado" de Carnaval na movimentada Avenida Presidente Vargas, horas antes do desfile das campeãs.


 Início da Presidente Vargas interditado, com viadutos e pistas livres, e carro alegórico da Beija-Flor de Nilópolis.

Acesso para Botafogo
e Lapa fechado
Não foi planejado. Eu tava dentro de um ônibus ali pelo Centro quando percebi que ele teria o seu itinerário alterado devido ao desfile das escolas de samba campeãs de 2011. Último sábado - sábado de cinzas? - do feriado mais longo até agora, o Carnaval. Acredito que seja a primeira vez que eu esteja postando algo sobre o Carnaval, pois, sinceramente, não sinto-me lá atraído por isso. Até mesmo nessa última semana quando eu e meus amigos inventávamos de sair para algum bloco, não duravam cinco minutos e já estávamos à procura de algum bar longe da muvuca. Uma forma de comemorar "a sós" essa grande festa.

Carros enfileirados
Ia da Tijuca para Laranjeiras e, de dentro de um 422, me vi entrando a Francisco Bicalho ao invés da Presidente Vargas. Avistei de longe o prédio dos Correios e uma porção de carros alegóricos todos enfileirados, prontinhos para "entrar na avenida".  Me apeteceu vê-los de perto, tão coloridos, e resolvi descer do coletivo antes que ele chegasse na Leopoldina. Vale lembrar que eu estava sem pressa, sem compromissos. Momento ideal para dar uma de flâneur.

Primeira sensação: que emoção é andar bem no meio da Avenida Presidente Vargas! Sem carros, nem ônibus, nem nada como de costume. A avenida é dos pedestres! A vontade que me dominava era a de dar uma banana para os motoristas que, surpresos, encontravam a via fechada e tinham que retornar em função disso. Felicidade de criança, eu sei, ou de louco varrido. Por sorte eu portava a máquina no bolso, o que me fará compartilhar com você, querido leitor, algumas das coisas vistas por lá...

O chafariz Dança das Águas em um
sábado
pra lá de nublado!
Uma das coisas mais legais de se caminhar por um lugar normalmente tumultuado é a oportunidade de estar mais próximo do distante. Como assim, Bial? Já experimentou a sensação de andar a pé por cima de um viaduto e, dele, avistar uma paisagem incrível ou sob um ângulo diferente? E quanto a alguns monumentos mal localizados - não é tão bacana observá-los assim, de pertinho? Num dos canteiros centrais da Presidente Vargas está a estátua de Zumbi e, em frente ao edifício da Prefeitura, o extraordinário chafariz Dança das Águas.  Como a área não é lá muito para pedestres, é bem difícil de acontecer uma espécie de tête-à-tête com esses locais.  A galera aproveitou bem essa chance: garotos soltavam pipa no trecho interditado do viaduto que sai do Túnel Rebouças em direção ao Centro, enquanto famílias animadas se fotografavam em frente à Dança das Águas, que estava funcionando!

 Para algumas pessoas, observar os carros de perto é quase a mesma coisa que ter o seu cantor(a) favorito ao lado. Carnaval é mesmo uma paixão!

Um pouco mais dos carros. Acho que esses bonecos eram da Mangueira - se estiver errado, corrijam-me.

Antes de me dirigir aos carros alegóricos, aproveitei a oportunidade para conhecer a polêmica passarela do metrô, inaugurada em novembro do ano passado. Eu continuo achando ela um mostrengo por fora, mas, por dentro, ela é bem simpática e segura. Dali de cima pode-se tirar boas fotos da avenida embaixo. Não só eu mas como muitas outras pessoas também aproveitaram a brecha para fotografar o local, enfeitado com o ar meio nostálgico de final de Carnaval. Subíamos e descíamos sempre que notávamos algum ângulo mais interessante para se fotografar ou avistar. Tudo sem cerimônia.

 Na falta de banheiros químicos, há aqueles improvisados, dentro de casas quase esqueléticas. Bateu fome? O cachorro-quente (vulgo podrão!) está sempre ao alcance.

Separados do público por uma frágil fita amarela, era impressionante como aqueles carros alegóricos mexiam com a emoção das pessoas. Tinha de tudo por lá: pessoas entusiasmadas por vê-los de perto, outras emocionadas pela escola de samba do coração, crianças saltitantes, e até maridos um pouco cansados de tirar fotos de suas esposas na frente de cada carro. Aquele cheiro de cachorro-quente vindo das barraquinhas, o hálito da cerveja pairando no ar à medida que as pessoas conversavam, batucadas de leve em algum lugar... É, acabou o Carnaval. Agora sim que o ano começa. Feliz 2011! 

 Acabou-se o que era doce... de volta ao batente!

9.3.11

As surpresas que as praças do Rio te dão

Entrar ou não entrar? Eis a questão.  É esse trocadilho manjado que habita o meu pensamento quando estou ali pelas cercanias das ruas Frei Caneca e da Constituição, no Centro do Rio. Bom, isso porque geralmente volto de metrô para casa, e a estações mais próximas dessa região são a Central ou a Presidente Vargas. E dependendo de em que lugar exatamente você esteja, a melhor opção para cortar o caminho é o tão outrora aclamado Campo de Santana, mais conhecido como Praça da República também.

A praça é rodeada
de verde
Sério, é sempre uma dúvida cruel. Entrar ou não entrar ali? Esse verdadeiro parque é uma joia rara pela sua estrutura e imponência, mas... cá entre nós... ele está às moscas, não é mesmo? A limpeza deixa a desejar e o nível de segurança, idem. Como era início da tarde e o entra-e-sai de gente estava intenso, não me entreguei ao medo e resolvi ir do fim da Rua da Constituição até a estação Central através do Campo de Santana.

Os patos são uma atração
do Campo de Santana
Surpresa. Deparei-me com uma das cenas mais legais e bonitas do histórico do blog: os patinhos na lagoa.  Como são raras as vezes em que entro no Campo de Santana, jamais os tinha visto assim, tão bonitinhos e de perto. Os esquilos também estavam por lá, embora fossem mais difíceis de serem fotografados pela sua agilidade ao detectarem um flash e fugirem. Mas os patos, posudos e prosas, estavam nem aí para aqueles babões como eu, que os admiravam naquela bonita paisagem. A água limpa e, pasmem!, gringos por ali também fotografando. Inclusive relatei isso à minha mãe no final do dia e ela me contou várias histórias de quando meu avô a levava, enquanto criança, ao Campo de Santana. Estes mesmos esquilos e patos já faziam a festa do pessoal lá pelos anos 60. Fico tentando imaginar o parque nesta época, como deveria ser...

O Rio, além de estar precisando da recuperação dos seus parques públicos, poderia ganhar alguns outros mais, vocês não concordam? Aqui na  cidade nós temos a péssima mania de valorizar só a praia como área de lazer, reparem bem! Poxa, um parque arrumadinho também tem o seu charme e o seu valor... 

O Campo de Santana é uma das mais belas praças do Rio





Para os amigos de fora do Rio e que visitam o blog:
O Campo de Santana - ou Praça da República - fica numa área entre a Avenida Presidente Vargas e a Rua Frei Caneca, no Centro. De metrô, as estações Central ou Presidente Vargas atendem bem. De ônibus, qualquer um que passe pela Central. Facilíssimo acesso, vale a pena dar uma olhada e ver de perto as belezas do Rio Antigo.

7.3.11

Perdão pelo intrometimento, mas "Marechal" tem história...

Amplie a figura para uma melhor resolução

Primeiro de tudo, gostaria de pedir desculpas aos moradores da casa na foto acima. Ela fica na Avenida General Osvaldo Cordeiro de Farias esquina com Rua Brigadeiro Delamare, em Marechal Hermes, e é uma das casas originais projetadas exclusivamente para o bairro. Inclusive ela ainda conserva uma pequena placa escrito "Instituto da Previdência", o que comprova o seu caráter histórico e de extrema importância para a constituição do bairro. 

Foi com base nesses argumentos que eu resolvi "photoshopeá-la" no intuito de recuperar a sua fachada. Como vocês podem ver na foto real, o imóvel está muito mal conservado e descaracterizado. Na minha sugestão de recuperação da casa, devolvi as janelas originais para o segundo pavimento, repintei a fachada é claro e a reforma do telhado. Já no canteiro central da avenida, as pistas da borda, que margeiam a ciclovia, removi os fradinhos multicoloridos substituindo-os por vasos de plantas. A tal planta (mais conhecida como Dracaena Fragrans) talvez nem seja a mais apropriada para estar em um ambiente público como a rua... massss... ficção é ficção, então eu resolvi colocá-la por achá-la bonita – e também porque eu já dispunha da figura! 

Bom carnaval!!

4.3.11

Marechal Hermes na contemporaneidade (parte 2/2)

Colégio Estadual Santos Dummont
[Continuação] No cruzamento da General Cordeiro de Farias com a Rua Engenheiro Emílio Baumgart já é possível avistar os fundos de dois prédios tradicionalíssimos em Marechal Hermes: os colégios estaduais Santos Dummont e Evangelina Duarte Batista. Eles ficam de frente para a praça circular 15 de Novembro e se assemelham  em estilo e função original às escolas Júlio de Castilhos e Manoel Cícero, no Baixo Gávea. Inclusive aquele pedaço da Gávea também foi resultado de um projeto de vila proletária no governo de Hermes da Fonseca.


 A entrada do Colégio Estadual Santos Dummont e um breve panorama da Praça Quinze de Novembro, ao lado.

A Praça 15 de Novembro é bem grande, plana e sem obstáculos. Como assim sem obstáculos? É, sem nada. Não tem jardim nem chafariz, não tem brinquedos nem coreto. No entanto, a organização da praça é vista através do piso, dos fradinhos e do contorno em gramado que protege a rua em relação ao núcleo da praça. Sem muitos atrativos, ela acaba sendo uma área de passagem para pedestres e ciclistas.

 Veja como a Praça Quinze de Novembro é um verdadeiro território vazio. Mesmo assim, percebe-se que ela não é uma praça qualquer; ela tem todo um desenho, que pode ser identificado pela variação das cores e tipos de pisos e pelo gramado.
 
Comércio de bairro e
papo de portão
Mais adiante, a General Osvaldo Cordeiro de Farias continua existindo com menor movimento e quase nenhum comércio. Se no primeiro trecho, entre as praças Montese e Quinze de Novembro, o comércio já era de apelo regional, nesta outra parte ele fica ainda mais caseiro. As pessoas que circulam parecem conhecer umas às outras — do nada interrompem a caminhada para cumprimentar alguém que esteja passando. E a conversa rende...

No segundo trecho da Avenida General Cordeiro de Farias, entre a Praça Quinze de Novembro e o Teatro Armando Gonzaga, o comércio diminui e as antigas casas do Instituto da Previdência ficam mais notórias.

Uma das poucas casas
bem conservadas. Linda!
As casas antigas agora ficam mais aos olhos de quem quer analisá-las melhor pois não são usadas como lojas. Diria que 95% delas carece de cuidados e recuperação, o que não quer dizer que não sejam encantadoras. Sempre digo que é preciso ver esses imóveis com um olhar meio de raio laser. É dessa forma que conseguiremos perceber o quão importantes e interessantes eles são para a nossa história. Na esquina da Rua Brigadeiro Delamare, por exemplo, é possível ver a lateral destas casas, que contam com uma ou duas janelas e um gigante paredão adornado por grafiteiros. Já ia me esquecendo: uma das casas ainda mantém na fachada uma modesta placa que indicava "Instituto da Previdência".


 O mais interessante neste trecho é poder ver a lateral das casas nas esquinas. Na primeira foto, à esquerda, pode-se ver um enorme grafite de São Jorge e a massa de cimento cobrindo alguma modificação feita na fachada. Já na foto ao lado, os donos do imóvel reduziram as altas e padronizadas janelas retangulares pela metade da sua altura.

O Teatro Armando Gonzaga
No fim da avenida, uma das maiores joias do bairro: o Teatro Armando Gonzaga. Em estilo modernista, foi projetado e construído em 1950 pelo francês Affonso Eduardo Reidy, com paisagismo de Burle Marx. Foi tombado em 1989 e é citado em várias enciclopédias da Europa e dos Estados Unidos, sendo modelo de estudo para alunos de Arquitetura de diversas faculdades do Brasil e do exterior. Infelizmente os melhores espetáculos da cidade não saem do circuito Centro-Zona Sul, tornando o Teatro Armando Gonzaga pouco conhecido entre os cariocas. No entorno dele estão diversos pontos finais de ônibus, o Hospital Estadual Carlos Chagas e a simpática Paróquia Nossa Senhora das Graças, já na Rua Capitão Rubens.

 No último trecho da principal avenida de Marechal Hermes, o conceituado Teatro Armando Gonzaga e o Hospital Estadual Carlos Chagas.

Já na Rua Capitão Rubens, a Paróquia Nossa Senhora das Graças, bem em frente ao teatro.

Sinceramente? Fiquei realmente admirado em conhecer mais de perto Marechal Hermes. Eu não vou negar que é um bairro que precisa de recuperação, mais dos seus imóveis do que das próprias ruas e praças, que estão bem conservadas. Marechal Hermes é um bairro rico em história e deveria ser tombado. E foi exatamente nesse ponto que eu comecei a formular minhas ideias: como enaltecer novamente essas áreas da cidade? Aqui no Rio, infelizmente, não existe muito essa coisa da revitalização de lugares de acordo com a sua importância histórica, mas sim de acordo com a sua localização — em geral, precisa estar no circuito turístico ou próximo — e no retorno financeiro que seria proporcionado, ou seja, a valorização do terreno e a atração empresarial. Acredito que esse seja um grande desafio para o Rio de Janeiro nas próximas décadas: aprender a parar de maltratar a nossa história. Espero que tenham gostado!