Mesmo aqueles bons conhecedores da cidade costumam, às vezes, confundir-se com nomes e localizações. Quem nunca hesitou ao distinguir Vargem Grande da Vargem Pequena, ou então das praças Afonso Pena e Saens Peña, ou até mesmo Roraima de Rondônia? Isso é supernormal, nosso cérebro, por mais que pareça, não é uma máquina! E isso acontece com o nome de muitas ruas, também, e é claro que eu não poderia deixar isso escapar, ainda mais tratando-se de um blog que fala sobre ruas. Na Zona Sul do Rio, por exemplo, existem duas ruas que volta e meia desorientam a galera: as ruas Maria Angélica e Joana Angélica. Com nomes bem parecidos, canso de ver pessoas inseguras, por uma fração de segundos, ao ter de indicar sua localização correta. Como pretexto, resolvi ir atrás delas, não para mostrá-las nos mapas (o.k., eu farei isso também), mas também para ver o que elas têm de bom. Ou em comum. Provavelmente muitos já saibam, são logradouros manjados aqui da cidade do Rio!
ACIMA, AS IMAGENS de satélite mostram as ruas fotografadas em uma escala maior, todas ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas, e, à direita, mapa detalhado dos arredores da Rua Maria Angélica, tema do post de hoje.
Ambas nas imediações da Lagoa Rodrigo de Freitas, eu fui primeiro atrás das fotos da Rua Maria Angélica, no bairro do Jardim Botânico. Com início na Avenida Borges de Medeiros, o mais difícil ali, de cara, é atravessá-la para adentrar a Maria Angélica. O Jardim Botânico, embora pacato e bucólico bairro, é cortado por duas das vias de maior movimento da cidade; logo, ser pedestre ali requer paciência. Que o diga as babás e seus respectivos carrinhos de bebê à espera do sinal verde na Borges de Medeiros (a foto à direita mostra a esquina desta avenida com a Maria Angélica). Uma vez fechado o semáforo, ir explorar o interior da Maria Angélica é no mínimo instigante. O que ou quem instiga? O Cristo, no topo do Corcovado, limpo, claro e bem perto de você (foto à esquerda). Aliás, a vista é bem para o sovaco do Cristo – como confirma o bloco de carnaval –, embora isso não intimide nem um pouco.
OS PANORAMAS da Rua Maria Angélica logo no seu começo. Na foto da direita, tem-se uma vista da Avenida Borges de Medeiros e da Lagoa, ao fundo.
Em uma esquina rodeada de prédios altos, com varandões e tudo mais, o que menos chama a atenção na Maria Angélica com a Borges de Medeiros são os edifícios, mas sim a quantidade de restaurantes que existem nessa quadra. Entre canteiros, árvores e jardinzinhos, uma ou outra placa surge à sua frente, indicando o nome de algum restaurante famoso, desses que saem em revistas a todo momento. O primeiro deles, em um imóvel bastante elegante, é o Mr. Lam (detalhe na foto à esquerda), de culinária chinesa, totalmente diferente dos clássicos "chinas" onde você provavelmente já deve ter comido um joelho com refresco a 2 reais. Ali é bem alinhado e exalta a vocação sofisticada que a Rua Maria Angélica tem para a gastronomia. Logo ao lado, em um imóvel que mais parece ser um resquício das antigas casas habitadas por operários das fábricas que existiam na Zona Sul, no século passado, está instalada a pizzaria Capricciosa (à direita), outro restaurante famoso e bacana. Mais simples que os outros dois vizinhos, o restaurante e bar Adega do Porto, na esquina com a Avenida Alexandre Ferreira, que serve os mais tradicionais pratos da culinária portuguesa.
A MARIA ANGÉLICA nas proximidades do cruzamento com a Avenida Alexandre Ferreira. No detalhe da foto à esquerda, a linha de ônibus 569, que faz o trajeto Largo do Machado - Leblon.
Ainda com o Cristo sob o alcance dos olhos, ir para a calçada do lado oposto da Alexandre Ferreira também é outra árdua tarefa – com grande fluxo de automóveis (menos intenso do que a Borges de Medeiros, vale lembrar!), buzinadas e freadas destoam da paisagem bucólica e do canto dos passarinhos que por ali passeiam, de árvore em árvore. A fumaça quente ocasionada pelo sol escaldante desse verão carioca paira sobre o asfalto e é ali, na esquina, uma vez cruzada a Alexandre Ferreira, que encontra-se o paraíso: a Praça Sagrada Família (foto à direita). Rodeada de árvores, a praça é quase uma miragem em meio ao deserto. Quando falo que o calor não está para brincadeira, eu digo sério. Mesmo! Nessa caminhada, a melhor coisa que fiz foi ter sentado-me em um dos bancos da Praça Sagrada Família para um breve refresco de sombra fresca. No playground, não havia crianças – uma pena! Por outro lado, nos bancos, e ao redor, não havia mendigos... Inacreditável.
NA ESQUINA COM A Avenida Alexandre Ferreira localiza-se uma filial da rede de restaurantes Gula Gula. Do outro lado da calçada está a Praça Sagrada Família.
DA ESQUERDA PARA A DIREITA, tem-se: panorama da Rua Maria Angélica através da Praça Sagrada Família - a sombra e o frescor da praça contrasta com o resto da rua, vítima da forte insolação do verão carioca; edifícios altos, na quadra entre a Alexandre Ferreira e a Rua Jardim Botânico e o detalhe dos canteiros e jardins ao longo da calçada, além do Cristo Redentor, é claro.
Comida, comida, comida... Eu já disse que a Rua Maria Angélica é um pólo gastronômico nessa região da Zona Sul. No quarteirão da Avenida Alexandre Ferreira com a Rua Jardim Botânico os restaurantes dominam as calçadas. Mais exemplos deles é o Gula Gula, com várias filiais na cidade, bem em frente à Praça Sagrada Família; mais adiante, a concorridíssima pizzaria paulistana Bráz, no número 129; o Frontera (à direita) também está na Maria Angélica, em um dos imóveis mais exóticos da rua, composto todo de tijolos e portas de vidro; finalmente, o Le Pain du Lapin, padaria com toque afrancesado, que lota as mesinhas nas manhãs dos fins de semana para o café-da-manhã. De fato, essa é quadra mais comercial da Maria Angélica, que ainda conta com uma galeria de pequenas lojas e lanchonetes no número 171, o curso de inglês IBEU (à esquerda) e a loja de objetos e design Illiá, ao lado da pizzaria Bráz. Algumas linhas de ônibus passam por esse trecho, deixando-o bastante caótico em determinados horários. Mas esse panorama mudará após o cruzamento com a Rua Jardim Botânico.
A PIZZARIA BRÁZ tornou-se uma das pizzarias mais concorridas do Rio, com lotação diária. Próximo dali funciona uma galeria comercial com lanchonetes e pizzarias menos sofisticadas que as existentes ao longo da Maria Angélica
A PADARIA CHIQUE do Jardim Botânico, o Le Pain du Lapin, atrai moradores da região em busca de opções diferentes para as refeições matinais, principalmente aos fins de semana.
O CRUZAMENTO das ruas Maria Angélica e Jardim Botânico.
Mais um cruzamento extremamente movimentado e, do outro lado, a Maria Angélica muda o seu sentido de mão. Um pequeno e sutil aclive surge. Canteiros e jardins permanecem nas calçadas, entre lojinhas de pequeno porte (e de pequenas portas também, como um salão de beleza e a filial da creperia Le Brants) e alguns poucos prédios, que vão diminuindo de altura a medida que a rua vai ficando mais alta. É todo um mistério para quem está ali pela primeira vez; não se sabe o que vem pela frente. Eu, pelo menos, nunca tinha subido a Maria Angélica até o final. Muitas coisas se passam pela cabeça de alguém que ignora o lugar ao ver uma ladeira, indo em direção ao Maciço da Tijuca: será uma favela no final? Será perigoso chegar até lá? Será que vou me perder? A Rua Maria Angélica passa longe disso.
A CREPERIA Le Brants, famosa no bairro do Flamengo, tem filial por ali, que funciona em um pequeno estabelecimento ao lado de uma farmácia e um salão de beleza. Na foto à direita, tem-se uma visão do pequeno aclive da Maria Angélica com vista para a Rua Jardim Botânico.
O entulhamento de carros estacionados em frente ao colégio CEL (à direita) é a última visão caótica que se tem ao subir tal ladeira. Os edifícios vão se revelando grandes achados arquitetônicos, por seus desenhos simples, antigos e extremamente charmosos... Flores, de diferentes tipos e cores, vão brotando aos olhos através dos jardins e árvores... e o Cristo, cada vez mais próximo. Um ou outro carro aparece pelo caminho, te dando a liberdade para andar pelo meio da rua. Casas, de porte médio, surgem em meio às esquinas, dando um aspecto bastante interiorano à rua, contrastando e muito com o início da Maria Angélica, lá ainda pelos arredores da Lagoa. O luxo, neste trecho, não encontra-se nos prédios agigantados e no comércio sofisticado, mas sim na simplicidade da arquitetura e na beleza do verde, que, provavelmente, interfere e muito no cotidiano dos moradores.
EDIFÍCIOS DE menor porte passam a fazer parte do panorama da Maria Angélica no trecho em que se aproxima mais ao Maciço da Tijuca. Construções simples e charmosas dão um ar interiorano ao local.
À ESQUERDA, a esquina da Maria Angélica com a Rua J. Carlos. Ao lado, mais edifícios na subida da via.
AS FOTOS ACIMA registram as proximidades da Maria Angélica com a Rua Araucária, aonde uma bela árvore desnuda enfeita um pequeno largo no encontro das duas ruas.
Entre pequenos larguinhos em círculos, lotado de plantas e árvores, a Maria Angélica vai terminando. Na verdade, ela termina mesmo na confluência com a Rua Engenheiro Alfredo Duarte. No entanto, meu ponto final foi no seu encontro com a Rua Eurico Cruz – não por desinteresse, mas o calor era tanto que subir ainda mais esse pequeno paraíso, sem nenhuma garrafa d’água, poder-me-ia custar algumas horas no hospital por desidratação (eu falo sério, que calor é esse?). Embora incompleta a excursão, a certeza de que o Rio é uma cidade completamente versátil em ambientes me foi ainda mais confirmada através desse pequeno passeio. Gostei! Espero que você também.
ESSE FOI O MEU PONTO final, logo na confluência com a Rua Eurico Cruz. O colorido das árvores e flores neste trecho destaca-se e ratifica o Jardim Botânico como um dos bairros mais agradáveis e bonitos da cidade.
7 comentários:
Que delícia, Pedro! É um bairro excelente. Eu adoro essa região. E eu tenho o privilégio de ser vizinha dele.
Beijos
Glória
Amei o post, será que é porque menciona o Le Brants??? Só de pensar me dá água na boca!
Pê, estou com um bloguinho novo, recente ainda:
http://escrevendoloucamente.blogspot.com/
Ah, adorei o seu selo do Ad Free Blog, até tô pensando em plagiar a ideia hehehe!
Beijos!
Oi amigo! Parabéns pelo seu trabalho!
Sou morador de Vila Isabel e adorei ler seu ponto de vista sobre a rua vizinha da minha residência!!
Muita paz e saúde para que você possa continuar contando um pouco da história da nossa cidade!
Grande abraço
Jaime Teixeira
Oi de novo:
Postei há alguns dias um comentário sobre RUAS DA GÁVEA...
E aproveito para postar sobre o JB!
Esse bairro é bem bacana mesmo - há ruas perto do MORRO DO CORCOVADO; Maria Angélica/entre outras bem bonitas mesmo.
Residi na J. CARLOS... Há até uma foto onde meu ex-prédio aparece!
Lembro do Colégio CEL (principalmente dos ENGARRAFAMENTOS que os ônibus escolares causavam!)... Hehe.
Onde resido atualmente (PORTO ALEGRE), há bastante bairros/ruas arborizadas: inclusive moro perto da tal RUA DENOMINADA A MAIS BONITA DO MUNDO; a Gonçalo de Carvalho - mundo pequeno mesmo.
Abraço,
Rodrigo Rosa
pimako@live.com
Boas tardes:
Reparam mensagens bonitas/tokantes aqui...
Embora pudesse haver um agradecimento/palavras de bom grado!
Há tempos É DIFÍCIL EXISTIR BONS AMIGOS_e difícil ter GRATIDÃO/TROCA bem antes.
Até nunca nunca,
Sudoco
Excelente postagem. Conheci tudo da região porque nasci na J.Carlos (imagem 30). Em 1964 fui morar em uma casa no Alto Jardim Botânico. E dois tios moravam em casas na Rua Engenheiro Alfredo Duarte.
Morei por muitos anos onde na foto tem um Banco. A pracinha em frente tinha balanços. Pena não ter fotos.
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