Marechal Hermes: subúrbio do Rio |
Quem me conhece pessoalmente, sabe que sou aficionado por mapas desde pequeno. O meu maior interesse, na verdade, quando comecei com essa minha loucura por cartografia, era nos mapas de ruas do Rio de Janeiro. Desde cedo fui aprendendo os nomes de cada logradouro ao redor de casa, dos bairros que eu frequentava, assim como dos outros lugares que me chamavam a atenção. Nisso de folhear as páginas de um antigo Guia Rex 95, conseguia diferenciar o desenho perfeito de certas ruas em relação às outras. Chamava-me a atenção, por exemplo, como Grajaú, Vila Isabel e Marechal Hermes, na Zona Norte, tinham desenhos tão perfeitos (o famoso tabuleiro de xadrez!), enquanto nos bairros adjacentes a sua estrutura era um verdadeiro emaranhado de ruas, que muita gente não consegue entender. Mais tarde descobri que, sim, esses bairros desenhados tão "bonitinhos" no papel foram planejados, e não o resultado da expansão desordenada como aconteceu em muitos lugares da Zona Norte - no subúrbio, para ser mais específico.
Adquiri o livro "150 anos de subúrbio carioca" (à venda na Livraria da Travessa!), das editoras Lamparina e da UFF em parceria com a FAPERJ, em janeiro, e acabei tendo, por acaso, uma curiosidade saciada em relação ao tão cartograficamente bonito bairro de Marechal Hermes. O livro é uma coletânea de estudos e artigos sobre o subúrbio do Rio, promovido pelo Departamento de Geografia da UFF. O capítulo dedicado à Marechal Hermes foca o seu surgimento em relação às origens da habitação social no Brasil. Tive uma ótima leitura, me surpreendi com as informações obtidas e, inclusive, fui até o local para explorá-lo.
O livro afirma que Marechal Hermes pode ser reconhecido como a primeira intervenção federal na questão da habitação no Brasil. Isso porque foi uma região do subúrbio carioca totalmente pensada e planejada para abrigar operários das fábricas que existiam até então. Projetado pelo engenheiro e tenente Palmyro Serra Pulcherio, a "vila proletária" contava com ruas em quadrados perfeitos, um bulevar - interligando a Estrada de Ferro Central do Brasil ao interior da vila -, além de uma praça rotatória localizada bem no centro geométrico deste bulevar e exatamente no centro geométrico do bairro.
O projeto da Vila Proletária Marechal Hermes incluía a construção de creches, escolas primárias e técnicas, maternidade, hospital e outros serviços públicos importantes. Ao todo, foram planejados 738 prédios de um ou dois pavimentos, habitações para 1.350 famílias e para solteiros, edifícios para serviços públicos e comerciais. Os tipos de residências variavam em relação ao número de cômodos de forma a adequar o perfil da família que viria a ocupá-lo. Os aluguéis também variavam de preço e eram descontados em folha, sendo os proprietários das fábricas responsáveis pelo pagamento. Uma das regras essenciais para a ocupação das casas era o certificado de proletariado, ser chefe de família e ter boa conduta. Anarquistas estavam fora da Vila. Apesar do esplendoroso projeto, o preço dos aluguéis não eram tão baratos assim.
O livro afirma que Marechal Hermes pode ser reconhecido como a primeira intervenção federal na questão da habitação no Brasil. Isso porque foi uma região do subúrbio carioca totalmente pensada e planejada para abrigar operários das fábricas que existiam até então. Projetado pelo engenheiro e tenente Palmyro Serra Pulcherio, a "vila proletária" contava com ruas em quadrados perfeitos, um bulevar - interligando a Estrada de Ferro Central do Brasil ao interior da vila -, além de uma praça rotatória localizada bem no centro geométrico deste bulevar e exatamente no centro geométrico do bairro.
O projeto da Vila Proletária Marechal Hermes incluía a construção de creches, escolas primárias e técnicas, maternidade, hospital e outros serviços públicos importantes. Ao todo, foram planejados 738 prédios de um ou dois pavimentos, habitações para 1.350 famílias e para solteiros, edifícios para serviços públicos e comerciais. Os tipos de residências variavam em relação ao número de cômodos de forma a adequar o perfil da família que viria a ocupá-lo. Os aluguéis também variavam de preço e eram descontados em folha, sendo os proprietários das fábricas responsáveis pelo pagamento. Uma das regras essenciais para a ocupação das casas era o certificado de proletariado, ser chefe de família e ter boa conduta. Anarquistas estavam fora da Vila. Apesar do esplendoroso projeto, o preço dos aluguéis não eram tão baratos assim.
Imagem aérea, com o Cine Lux em destaque, na Praça Montese |
A Vila Proletária Marechal Hermes foi inaugurada em 1º/5/1914, pelo presidente de mesmo nome, o Marechal Hermes da Fonseca. Entretanto, muita coisa ainda não tinha sido concluída, casas ainda no esqueleto e alguns casarões abandonados. O problema da interrupção das obras relaciona-se a um certo conflito ideológico político, com liberalismo versus intervencionismo, gerando grande oposição da sociedade e da imprensa contra o projeto do bairro, que acabou ficando à mercê da própria sorte.
As obras só foram finalizadas duas décadas mais tarde, já no governo de Getúlio Vargas, que autorizou a transferência da posse dos imóveis de Marechal Hermes para o Instituto de Previdência dos Funcionários Públicos da União (IPFPU). Vargas seguiu à linha o projeto original do bairro, apenas modernizando seus princípios, embora não tenha se autonomeado em nenhum logradouro ou edifício por ali como fez o então presidente Hermes da Fonseca. Mesmo com a intervenção de Getúlio Vargas em 1931, Marechal Hermes ficou "abandonado" por quase 20 anos. O autor diz (p.82):
As obras só foram finalizadas duas décadas mais tarde, já no governo de Getúlio Vargas, que autorizou a transferência da posse dos imóveis de Marechal Hermes para o Instituto de Previdência dos Funcionários Públicos da União (IPFPU). Vargas seguiu à linha o projeto original do bairro, apenas modernizando seus princípios, embora não tenha se autonomeado em nenhum logradouro ou edifício por ali como fez o então presidente Hermes da Fonseca. Mesmo com a intervenção de Getúlio Vargas em 1931, Marechal Hermes ficou "abandonado" por quase 20 anos. O autor diz (p.82):
"O quadro urbano que a prefeitura encontrou foi desolador: quase 20 anos de obras paralisadas, e apenas 42 casas efetivamente ocupadas, 24% das 170 casas prontas entregues por Hermes em 1914. Durante duas décadas, 128 casas ficaram desocupadas numa cidade com explosivo crescimento do 'déficit habitacional' e da favelização. Essa inação justifica as acusações de Mariano Garcia (operário, fundador do jornal O Operário, lutou pela defesa do trabalhador e nas críticas ao anarquismo) contra o desprezo e o ódio com que os liberais viam as vilas de Hermes".
Majestuosa estação ferroviária de Mal. Hermes. Foto: Antolog/Flicker |
Com o toque final de Vargas, foram implementados alguns dos princípios da habitação social modernista: apartamentos compactos como forma de reduzir os custos habitacionais, além de conjuntos habitacionais - vulgarmente conhecidos como "pombais" -, entre eles o Comercial, 3 de Outubro e o "Ipase", na divisa com Bento Ribeiro. Outras referências modernistas em Marechal Hermes, além de casas, são um antigo cinema - o Cine Lux -, o Teatro Armando Gonzaga e o coreto da praça do bairro.
Com o passar dos anos, Marechal Hermes tem perdido muito das suas características originais, assemelhando-se cada vez mais com os vizinhos bairros suburbanos, decadentes, abandonados, esquecidos. Mesmo assim, ainda continua se destacando pela sua estrutura urbana, que é muito imponente e bastante peculiar. Não há outros lugares aqui no Rio parecidos com a estrutura possuída por Marechal Hermes. É definitivamente um bairro completo. Veja na próxima postagem como ele está nos dias de hoje!
Fonte: 150 anos de subúrbio carioca / Márcio Piñon de Oliveira, Nelson da Nóbrega Fernandes (orgs.); Almir Chaiban El-Kareh... [et al.]. Rio de Janeiro: Lamparina: Faperj: EdUFF, 2010.
Para quem gosta do assunto, recomendo bastante a compra deste livro. Ele é barato - não passa dos R$ 40 - e traz muitas fotografias antigas de Marechal Hermes cujas quais não publiquei aqui.
6 comentários:
Pedro finalmente vc escreveu sobre Marechal Hermes,só lamento não ter sido convidada para esta visita.
Um beijão.
Olá Pedro, excelente texto! Espero pelos próximos. :)
Assim como você sempre gostei de mapas. Especificamente sobre o livro mencionado, ele traz mapas antigos dos bairros suburbanos? Tenho muito interesse pelo assunto.
Abraços
Oi Arlindo.
Olha, esse livro traz uma série de capítulos destinados a diferentes regiões e épocas do subúrbio. Fala de Quintino, Bangu, Marechal, os subúrbios do século XIX... É bem interessante. Todas as fotos do livro são em preto e branco, o que torna a qualidade um pouco ruim. Inclui alguns mapas, também, mas o seu forte são os textos.
Um abraço.
Pedro,
Primeiro queria parabenizar pelo belo trabalho que você faz nesse blog. E queria também agradecer pela dica do excelente livro 150 anos de subúrbio. Comprei por que li aqui no blog, ácabei de lê-lo hoje e fiquei maravilhado. Principalmente pelos capítulos sobre Marechal e Bangu.
Eu que morei a grande parte da minha vida no subúrbio: Bento Ribeiro, Engenho Novo, Campo Grande e agora no Riachuelo. Me senti gratificado em ver alguma coisa que verse sobre o subúrbio e sua gente. Esses dois temas me palpitam o coração.
Por conta disso ficam os parabéns e o muito obrigado.
Abraços.
Um pouco atrasada mas feliz em saber que o bairro onde nasci e passei parte da minha infância foi tão bem divulgado.Parabéns Pedro pelo seu lindo trabalho.
Olá,
morei no conjunto do IPASE durante 40 anos, gostaria de saber onde posso adquirir o referido livo.
obrigado.
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