Percorri a avenida central do bairro, a General Osvaldo Cordeiro de Farias, em busca dos elementos históricos e urbanísticos contados na postagem anterior
Na primeira foto, a estação de trem de Marechal Hermes junto à Rua João Vicente. Ao lado, a estação por dentro, vista da plataforma. Um detalhe curioso é que ela segue o modelo das estações ferroviárias europeias, tendo seus elementos industrializados cerâmicos e metálicos importados da França, Alemanha e Bélgica.
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"Marechal" no mapa |
Eu raramente ando de trem. Além dele não me servir para as tarefas do dia-a-dia, tampouco existe uma estação no bairro onde moro. Antigamente, eu pegava o trem com amigos e, às vezes, com meu primo Vinícius, de São Paulo, para irmos ao Mercadão de Madureira passear e comprar doces. Apesar da verdadeira tristeza que é o estado de conservação das estações e dos trens da Supervia, o trem é, como o metrô, um meio de transporte rápido. Transportou-me da estação São Cristóvão, onde embarquei, até a estação de Marechal Hermes - a penúltima da linha Central x Deodoro - em 20 minutos. É uma distância de aproximadamente 18 quilômetros em direção à Zona Oeste.
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A estação vista da Rua João Vicente |
Fui recebido pela simpática e histórica estação de trem de Marechal Hermes com chuviscos e nuvens carregadas. Pensei em voltar, com medo de uma chuva mais pesada, só que eu tinha vindo de tão longe... Fiquei. Da passarela, parei um pouco para observar o bairro do alto. A primeira impressão que se tem é a de um bairro arborizado. A Rua João Vicente, que margeia a Estrada de Ferro, ganha duas pistas separadas por um canteiro central — coisa inédita no subúrbio da Central, pois todas as ruas que beiram a linha do trem, desde Mangueira até Bento Ribeiro, são estreitas e sem nenhum indício de projeto mais detalhado. Nesse primeiro momento, sem nem ao menos ter descido, Marechal Hermes já tinha me mostrado que, sim, é um bairro planejado. Ou que pelo menos contou com uma prévia estrutura de qualidade para modificações cabíveis ao longo dos anos.
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As casas na Rua João Vicente |
Dei um breve passeio pela João Vicente, como quem vai em direção à Bento Ribeiro e Madureira, para olhar as casas. Elas foram umas das primeiras a serem construídas no governo de Hermes da Fonseca. Nenhuma é encostada à outra, são da mesma altura, dois pavimentos, uma média de seis janelas retangulares por fachada. Costumavam ter imensos jardins às suas portas, que provavelmente foram removidos para o alargamento das pistas da Rua João Vicente. No livro "150 anos de subúrbio" (editoras UFF, Lamparina e FAPERJ), há uma foto desse mesmo trecho, com essas mesmas casas, remetendo uma paisagem a la Steiner Street, em San Francisco, com suas casas vitorianas todas alinhadinhas. Entretanto, em Marechal Hermes, essas tão charmosas casas defronte à Estrada de Ferro perderam muito do seu encanto pela massiva descaracterização do estilo arquitetônico e, até mesmo, pela falta de conservação.
A Praça Montese é estrategicamente localizada em frente à estação de Marechal Hermes, de onde abrirá caminho para a Avenida General Cordeiro de Farias.
Antes de chegar lá, já tinha lido e ouvido falar do Cine Lux, um charmoso cinema de frente para a Praça Montese, que fica em frente à estação. Hoje em dia ele é ocupado por uma igreja e mal pode ser identificado devido a interferência de tantos cartazes e placas. Uma lástima, porque o desenho da Praça Montese é bem bonito e glamuroso, apesar dos pesares. Porém, Marechal Hermes recebeu o projeto Rio Cidade no início dos anos 2000 (corrijam-me se eu estiver errado!) e muito do que foi reformado ainda continua bem conservado. Um exemplo disso, na Praça Montese, é o piso antiderrapante.
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Canteiro central na Avenida General
Cordeiro de Farias: caminho
de pedestres |
Adentrando a Avenida General Osvaldo Cordeiro de Farias percebe-se um razoável movimento de pessoas ao redor do comércio típico de bairro: açougue, farmácias, armazéns, minimercados, chaveiros, igrejas. Grande parte da arborização da principal avenida de Marechal Hermes fica abrigada no canteiro central, suficientemente largo para oferecer, também, um caminho de pedestres - e por que não uma ciclovia? Diferentemente de outras avenidas cariocas com canteiros centrais largos, na General Cordeiro de Farias ninguém estaciona o possante por cima deles. Motivos óbvios: além de toda a avenida contar com fradinhos, o índice de circulação de pessoas e automóveis por Marechal Hermes é bem mais baixo do que na região central do Rio.
Um ponto bastante particular do comércio em Marechal são os letreiros chamativos. A Lei Cidade Limpa, vigente em São Paulo, que padroniza o tamanho dos letreiros, poderia contribuir para uma limpeza da paisagem do bairro, resgatando o valor dos seus elementos históricos e fazendo com que estes imóveis pudessem ser mais notados.
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Moça anda de bicicleta pela avenida |
Eu falei de ciclovia, né? Em Marechal Hermes vi muitas bicicletas! E não eram só crianças ou jovens, mas sim muitos adultos — homens ou mulheres. Poderiam aproveitar a espaçosa largura das calçadas e, no entanto, pedalam pela rua mesmo, entre alguns poucos ônibus e automóveis que trafegam por ali. O comércio da avenida fica instalado em todas as antigas casas de dois pavimentos projetadas para as famílias proletárias, bem semelhantes às da Rua João Vicente. Elas estão parcialmente readaptadas, logo, descaracterizadas.
O especial "Marechal Hermes na contemporaneidade" continuará na 2ª parte. Acompanhe!
3 comentários:
A estrutura metálica da estação de Marechal Hermes é lindíssima. Uma pena que tudo é tão mal conservado...
Olá Pedro,
mais uma vez, excelente artigo.
Dois comentários sobre as bicicletas: o canteiro central é uma ciclovia, ou pelo menos assim consta nos dados da prefeitura (digo assim pois não conheço o bairro pessoalmente), seguindo pelo canteiro central da Av. Gal. Osvaldo Cordeiro de Farias antes e depois da Praça Quinze de Novembro, e circundando esta. E também que a moça está certa de pedalar na rua, assim manda o CTB - bicicletas não podem pedalar na calçada a menos que autorizado por uma ciclofaixa ;)
[]s
Oi Arlindo
Imaginei que o canteiro central fosse mesmo uma ciclovia. Só hesitei ao afirmar isso porque espera-se que as bicicletas transitassem pela ciclovia e todas elas iam pela rua.
É o correto mesmo é ir pela rua. É que estou tão acostumado a ver gente aqui pelos bairros do "leste" a andarem pela calçada - por falta de conscientização ou até mesmo de espaço! - que eu fiquei admirado que em Marechal eles andem pela via mesmo.
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