24.12.10

Encontrei meu espírito natalino graças a uma praça

Sexta-feira, 24 de dezembro, véspera de Natal. Esse é o dia das pessoas ficarem meio amalucadas. Dentro de casa, principalmente, com os últimos preparativos para a ceia. Eu sou meio avesso a esses surtos natalinos, então resolvi sair de casa e fui andar sem destino, aproveitando o tempo fresquinho das duas da tarde. Consegui vestir uma camisa preta, um feito que seria impossível dias atrás com o calor que anda fazendo. Pelas ruas, mais gente surtada. Um vai-e-vem de pessoas saindo dos supermercados e dos hortifrutis, entre outras que provavelmente caminhavam rumo às compras dos presentes de Natal. Somente alguns poucos estavam calmos como eu. Transitávamos pelas calçadas despreocupadamente, enquanto as mamães paravam repentinamente no meio do caminho para dar a mamadeira aos seus bebês.


Acabou que eu me vi sentado em um dos bancos da Praça Afonso Pena, na Tijuca, bairro onde moro. Por ali, nem de longe parecia véspera de Natal. Já eram duas e pouca da tarde e ninguém parecia estar muito aflito com as responsabilidades impostas pelo dia. Pensei: "É, este é o meu lugar". Permaneci sentado, sentindo o vento "frio" bater no meu rosto - 26 graus no Rio de Janeiro! - e não queria outra coisa. Os cãezinhos passeavam felizes da vida. Os poodles, intrometidos, latiam e saltitavam; já os labradores, verdadeiros lordes, passavam em silêncio, mas não menos alegres.

Uma menininha loira, quase uma alemã, gritava e corria de um lado para o outro, sob os olhos atentos do pai que, apesar da barriga, tentava alcançá-la e diverti-la. No mesmo espaço, próximo da gangorra, dois irmãos negros choramingavam por cinco minutos mais nos brinquedos da praça. A mãe, de cabeleira elegante e unhas bem feitas, explicava: "Precisamos terminar de embrulhar os presentes da vovó". Um grupo de senhores, calçados em tênis iate, circulavam lentamente a praça, enquanto outros preferiam jogar xadrez muito bem acomodados nos bancos ao longo dos jardins.


Amendoeiras, coqueiros, palmeiras. As árvores de pau-brasil, com suas flores amarelas, remexiam seus galhos sempre que a brisa resolvesse passear por ali. Uma ou outra buzinada,  ou aquela freada mais brusca dos ônibus não era capaz de interferir no climão despretensioso da Praça Afonso Pena. Até mesmo o Cristo, no alto do Corcovado, bem de longe, não se deixou abater com o tempo meio londrino. Os bebês, muito menos; eles seguiam nos seus carrinhos, curiosamente felizes, mesmo sem terem a consciência de que hoje é véspera de Natal.

Olhei para o relógio e já passavam das três e meia: "Ah, não! Tá ficando tarde!". Por que tarde? O que você tem pra fazer, Pedro? Nada! O Natal nem mesmo vai ser na sua casa. Você nem mesmo vai cozinhar o Chester. Essas foram as palavras do meu eu lírico. Refleti mais, sentado num banco verde, desses típicos de praças. Dei uma olhada em todos ao meu redor novamente: cachorros, crianças, papais, vovôs, bebês, árvores e flores, Cristo Redentor.. Todos relaxados, felizes. Por que eu haveria de quebrar a harmonia? Não, hoje não. 


Agora eu estou em casa, sentado de frente para o meu computador e já são quase seis. É só virar o rosto para a direita que vejo o Maciço da Tijuca pela janela, mais verdinho como nunca me pareceu antes. Me dou conta de que a tarde despreocupada na praça me fez bem. A cabeça leve, o sorriso indestrutível. A vida agora parece ser igual às minhas canções favoritas. E aí eu vejo que são nas coisas simples que fazemos é que, de fato, está a essência. Encontrei meu espírito natalino graças a uma praça. Porque Natal, para mim, só é verdadeiro se for simples desta forma. Espero que vocês encontrem os seus respectivos "espíritos" e tenham uma noite maravilhosa. Feliz Natal!
(Pedro Paulo Bastos)

2 comentários:

Kenia disse...

Simplicidade e sensibilidade... lindo texto, amei mesmo!
Bjs

Anônimo disse...

Somos vizinhos! Feliz Natal...