Continuação...
AS PRINCIPAIS vias do Rio Comprido, por mapa. |
Eu fui ao bairro na manhã da última segunda-feira, dia 30/08. Tentei registrar alguns pontos especiais da região, embora o ato de portar uma câmera fotográfica pelas ruas do Rio Comprido ainda seja um tanto quanto inseguro. Iniciei a caminhada pela Rua Batista das Neves, perto da Haddock Lobo. Fui observando, principalmente, o legado nobre do bairro, que são as casas. É preciso ajudar aos olhos, para que eles possam enxergar as construções além das pichações e da sujeira das fachadas. Usar a imaginação é fundamental nessas ocasiões. E eu usei bastante; consegui ver cada casa daquela limpa e pintadinha, bem-tratada. Pela Rua Barão de Itapagipe, próximo à Aristides Lobo, tem um edifício de tirar o fôlego. Antigo e charmoso, mas muito maltratado. Voltei caminhando pela Paulo de Frontin, ao lado de "buracos" que viraram espaço para ferro-velhos. Me atrevi a passar a mão por uma das pilastras do Elevado e o resultado foi um dedo cinza. O rio cheira muito mal e não há proteção alguma entre ele e o pedestre. Qualquer um pode cair em falso ali, se não forem os carros, que estacionam todos na calçada que beira o rio Comprido.
Entrei numa bifurcação à direita, que dá acesso à Rua Sampaio Viana. Mais imóveis de arquitetura considerável, embora tudo muito destruído. O edifício Cavaliere, de janelas verde-água, tão bonito e totalmente atacado por vândalos. Ao andar por ali, ocorreu-me a idéia de pesquisar sobre o preço dos imóveis no Rio Comprido. Algo mais sintetizado, como a ADEMI sempre faz em relação à situação do mercado imobiliário dos bairros mais populares. Não encontrei informação alguma. Visitei então o site de uma famosa imobiliária do Rio e procurei por apartamentos à venda na região, de 2 quartos. Selecionei os treze imóveis listados e fiz uma média simples dos valores. O resultado saiu em cerca de R$ 176.153 para um imóvel nestas condições. Fiz o mesmo com outros treze imóveis, de dois quartos, nas ruas bem próximas ao Rio Comprido, porém já pertecentes ao bairro da Tijuca. A média sobe para R$ 336.538. É claro que essas comparações precisam ser mais detalhadas, há fatores que influenciam e muito nos valores, mas a essência está aí. Dois apartamentos iguais na Rua Barão de Itapagipe, por exemplo, que começa no Rio Comprido e termina na Tijuca, podem ter valores totalmente diferentes dependendo do trecho.
As ruas transversais à Sampaio Viana são uma grande surpresa. A Rua Japeri, pequenininha, guarda resquícios de um Rio Comprido nobre e relativamente bem preservado. A fachada das casas indica o quão modernista foi o bairro no passado. A outra transversal, Barão de Sertório, traz sobrados simpáticos e coloridos, ao redor dos espigões da Rua do Bispo - são prédios mais recentes, de classe média, constituído de apartamentos com varandas. Uma das subidas para o Morro do Turano é pela Rua do Bispo, quase em frente à Sampaio Viana. O cenário da favela deixa um certo impacto, enquanto o formigueiro humano desce e sobe as ladeiras. Neste mesmo miolo, a Universidade Estácio de Sá, que ficava à mercê dos tráfico no Turano. Foi ali aonde a estudante Luciana Gonçalves de Novaes foi baleada, em 2003. Ela era aluna da universidade. Outra instituição de ensino, o Colégio Sagres, ao lado do hospital Casa de Portugal.
As ruas do Citiso e Paula Frassinetti são aparentemente simpáticas e cenário de um luxo que ficou no passado. Entretanto, andar por ali requer um certo cuidado. Virando à direita na esquina da Rua do Bispo com a Paulo de Frontin, é possível encontrar a Igreja de São Pedro, um monumento intocável instalado em um dos bairros mais interferidos do Rio. Se você seguir o fluxo da Rua do Bispo, ela passa a se chamar Rua da Estrela e abriga a Praça Condessa Paulo de Frontin. Suja, infelizmente, mas com um chafariz lindo, que merece e é preservado, apesar de tudo. A praça é o centro comercial do bairro: supermercados, camelôs, hospitais públicos, farmácias, pastelarias. Mais adiante fica a Rua Itapiru, que liga o bairro ao Cemitério do Catumbi. Tudo muito confuso e pouco agradável de se caminhar. A sensação de insegurança é constante para quem é de fora.
Terminei o meu passeio um pouco desolado. Acostumado a visualizar o bairro através da janela dos ônibus, tê-lo conhecido melhor a pé foi uma experiência bem diferente. Alguma ou outra surpresa, mas no fundo bate uma certa tristeza. Independente de ter sido bairro nobre ou não - isso é apenas um título comparativo -, o estado em que se encontra o Rio Comprido é lamentável. Estamos numa fase onde dezenas de novas obras viárias estão sendo implementadas como forma de acompanhar, mesmo que tardiamente, o crescimento urbano. Penso que é bom que tomemos cuidado ao levantar novos viadutos, elevados e pontes; não podemos correr o risco de criar outros "Rios Compridos" pela cidade. É bom que a Prefeitura e a Secretaria de Urbanismo aprenda com os erros do passado e que, claro, proponha melhorias para o Rio Comprido. Intervenções pouco relevantes não funcionam - elas têm prazo (curto) de validade. Há de ser algo mais efetivo, radical, algo no estilo Pereira Passos: bota-abaixo!
MORAR NO Rio Comprido: o bairro conta com uma variedade de tipos residenciais - na grande maioria antigos. Na primeira foto, em sequência, o edifício Cavaliere - bonito, mas pichado - fica na Rua Sampaio Viana, ao lado de uma vila, com entrada em forma de portal. O edifício Irene, na Japeri, representa bem o quão charmoso foi o bairro e o grau de decadência atual. Já na última foto, o edifício Alameda das Acácias, na Rua do Bispo, é uma das poucas construções modernas voltadas para a família de classe média.
A RUA SAMPAIO Viana, com o Morro do Turano ao fundo. |
REFERÊNCIAS HISTÓRICAS: nas imediações das ruas Sampaio Viana e Barão de Sertório é bem fácil de dar de cara com sobrados antigos, como os das fotos acima. Uns mais bem preservados do que outros, esse tipo arquitetônico é de um valor histórico importantíssimo para o Rio de Janeiro.
A UNIVERSIDADE Estácio de Sá, na Rua do Bispo. |
UM GRANDE ACHADO: a Rua Japeri resguarda o antigo charme do Rio Comprido pelo desenho de suas casas e pela boa conservação em relação às outras ruas no entorno.
A BELEZA da Igreja de São Pedro. |
À ESQUERDA, o cruzamento da Rua do Bispo com a Avenida Paulo de Frontin. Observe como o Elevado deixa sombria a avenida. Em seguida, a Praça Condessa Paulo de Frontin, com seu chafariz.
Terminei o meu passeio um pouco desolado. Acostumado a visualizar o bairro através da janela dos ônibus, tê-lo conhecido melhor a pé foi uma experiência bem diferente. Alguma ou outra surpresa, mas no fundo bate uma certa tristeza. Independente de ter sido bairro nobre ou não - isso é apenas um título comparativo -, o estado em que se encontra o Rio Comprido é lamentável. Estamos numa fase onde dezenas de novas obras viárias estão sendo implementadas como forma de acompanhar, mesmo que tardiamente, o crescimento urbano. Penso que é bom que tomemos cuidado ao levantar novos viadutos, elevados e pontes; não podemos correr o risco de criar outros "Rios Compridos" pela cidade. É bom que a Prefeitura e a Secretaria de Urbanismo aprenda com os erros do passado e que, claro, proponha melhorias para o Rio Comprido. Intervenções pouco relevantes não funcionam - elas têm prazo (curto) de validade. Há de ser algo mais efetivo, radical, algo no estilo Pereira Passos: bota-abaixo!
TERMINO O ESPECIAL com essa foto que eu achei no Skyscraper City da Avenida Paulo de Frontin nos anos 20. Muita coisa mudou, não é mesmo? Um abraço!
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7 comentários:
vai mto longe mesmo o dia em q o rio comprido foi bairro de elite, hehehe. mas é assim mesmo. um dia o leblon vai ser decadente e a rocinha é q vai ser legal. eu espero, pelo menos. ps: a única coisa q eu sabia sobre o bairro é q o lulu santos e o frejat moravam lá.
TUDO BEM,PRDRO PAULO?
EXCELENTE ESTAS SUAS MATÉRIAS SOBRE O RIO COMPRIDO.
REALMENTE, CONHEÇO BEM ESTA ÁREA E E SEU TRABALHO É ESPETACULAR.
HOVE INCLUSIVE, UM IMENSO TRAUMA NO RIO DE JANEIRO, O ELEVADO PAULO DE FRONTIN, DESABOU, NUM TESTE DE CARGA.
AINDA BEM QUE FOI NA FASE TESTES.
VOLTAREI SEMPRE AQUI.
APROVEITO PARA CONVIDÁ-LO PARA CONHECER MEU BLOG :HUMOR EM TEXTO.
ESTA SEMANA A CRÔNICA É BASTANTE INSTIGANTE:
TÍTULO: “O QUE ABUNDA, EVENTUALMENTE ESCASSEIA”.
É HUMOR SEM PORNOGRAFIA OU PALAVRAS QUE POSSAM FERIR SUA SENSIBILIDADE.
CONFIRA, POIS SEU COMENTÁRIO É O QUE EXISTE DE MAIS IMPORTANTE NO BLOG.
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ESTOU ESPERANDO.
UM ABRAÇÃO CARIOCA.
Dois bairros outrora bucólicos que foram violentados & enfeados por obras viárias: Catumbi (do qual só restou um miolinho minúsculo) e o Rio Comprido cortado pelo mostrengo! Muito boa sua reportagem.
AMEI!Incrível essa reportagem sobre o rio comprido...demonstra o quanto a falta de visão de longo prazo dos nossos governantes nos atrapalha. moro na barão de itapagipe, início da tijuca e sei o quanto isso faz diferença. é triste andar pelas ruas do rio comprido e imaginar que um dia o bairro foi belo e hoje é a cara da decadência. Parabéns!
o rio comprido é um bairro muito charmoso e com várias casas antigas...
ele é uma continuação da tijuca é do lado do centro, da leopoldina e é próximo da zona sul
pena q foi destruído pelo elevado paulo de frontin...
a verdadeira solução para o bairro seria transformar o elevado em mergulhão como vão fazer com a perimetral ou fazer uma grande intervenção urbanística para tornar toda a região da paulo de frontin mais agradável
A foto da Igreja de São Pedro é um postal!!!
A da Paulo de Frontin anos 20, um achado!!!
Esta última vai ajudar mito na defesa da renaturalização do Rio Comprido, não o bairro, mas o rio (http://riosdoriodejaneiro.blogspot.com/2010/09/rio-comprido-passado-presente-e-futuro.html)
Morei na Av, Paulo de Frontin de 58 até 1973. Era maravilhoso o bairro, a praça, o Clube Ibéria, o Clube Alemão, a turma da Ponte(Points Club), as pipas, os balões em São João, minha escola Pereira, Passos, o Cineminha da Igreja Nossa Senhora das Dores...Na verdade, a destruição do bairro foi o inicio de uma desfiguração que aconteceu e acontece ainda em todo o Rio de Janeiro. Vejam a Praça Sáenz Peña como era e como está hoje!Tudo piorou! O Rio empobreceu e está dificil de se recuperar. Infelizmente é um Rio que passou e só restam boas lembranças.
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