26.9.10

Canteiros urbanos... e frustrados (parte 3/3)

 Parte Final

Segui a Praia de Botafogo até o final para entrar na Rua Voluntários da Pátria, o mais decepcionante logradouro no quesito "canteiros urbanos" dentro da área percorrida. Primeiramente, vale lembrar que toda a Voluntários segue um padrão, que é, por exemplo, a presença de quatro canteiros em cada esquina. Não só uma forma de embelezamento, tem a função de criar um afastamento entre a rua e a calçada, além de obrigar os pedestres a atravessarem na faixa. E é bom ressaltar que no caso da Voluntários da Pátria os canteiros citados são - ou deveriam ser - de responsabilidade da Prefeitura, pois foram resultado de uma intervenção paisagística em Botafogo. Parece ter sido obra do Rio Cidade, do ex-prefeito César Maia, na década de 90... Não tenho como afirmar.

Acreditem se quiser, mas é a verdade. Este canteiro, na Voluntários da Pátria com Rua Nelson Mandela, serve de cama para um mendigo. Ele dorme exatamente neste espaço aí dentro e aproveita as folhas da planta como uma espécie de cabaninha.

"Ajude a manter os canteiros
e jardins", diz a placa.
Enfim, o que acontece é que na Voluntários os canteiros estão para lá de Bagdá. Eles são constituídos de blocos de cimento, mais ou menos com meio metro de altura. Logo, a superfície lisa da estrutura dos canteiros são facilmente picháveis e destrutíveis ao longo do tempo. Não é à toa que há um monte deles quebrados. As plantas, coitadinhas, não merecem estar naquele lugar. Tanto que muitas delas já nem mesmo existem - os canteiros apenas contêm terra e lixo. Em alguns casos, quando são canteiros mais rebaixados, tem gente que guarda até bicicleta dentro, vê se pode! É para rir a falta de noção das pessoas. Aliás, uma observação curiosa: próximo à Rua Nelson Mandela, em alguns dos canteiros há placas de metal com a mensagem "Ajude a manter os canteiros e o jardins. Eles são seus". Embaixo, símbolos das entidades que colaboram na preservação deles: Prefeitura do Rio, Furnas, Fundação Parques e Jardins e Viva Rio. Pelo visto, nada tem sido feito.

As calçadas da Voluntários são típicas de uma rua de passagem. O que importa ali é o fluxo de trânsito e nada mais, a paisagem não tem muito valor. Logo, os canteiros ficam a ver navios...

Em frente à Cobal,
um dos canteiros
foi acimentado. Por quê?
Caminhei a Voluntários da Pátria toda até a Cobal do Humaitá. Continuei vendo muito canteiro podre, com pintura desgastada, lixo e espaços livres. Além disso, a paisagem da rua também não ajuda. Muitos dos imóveis na Voluntários estão decadentes e mal conservados. Sabe esses prédios antigos de lojas no térreo? Então, a maioria deles estão pichados, o que dá um aspecto muito feio à paisagem. Entretanto, foi só no Humaitá que eu comecei a ver algo que prestasse. Na Voluntários com a Rua Capitão Salomão, um desses canteiros padronizados, que já descrevi anteriormente, sobrevive em meio ao feio. É um jardim bem colorido, rodeado de pequenas palmeiras, que se repete no canteiro ao lado, que delimita a faixa de pedestres. Na esquina seguinte, Rua General Dionísio, as plantas do canteiro estão tão grandes que virou quase um matagal. Mas não tá feio, não, eu aprovo! É um matagal organizadinho, hehe. Na Rua Humaitá, as coisas melhoram bastante. A grande maioria dos tais canteiros são preenchidos por plantas e flores e estão bem conservados em relação ao percurso realizado.

Foi no Humaitá onde encontrei os mais bem conservados jardins. Observe que são os mesmos modelos de canteiros que existem ao longo de Botafogo, só que muito mais incrementados.

FINAL DAS CONTAS...
Jardim simpático
na Rua Humaitá
Como já tinha comentado na primeira parte desta postagem, eu dou muito valor ao paisagismo urbano, até nos seus menores detalhes. Os canteiros urbanos fazem parte deste conjunto de detalhes, só que muito importantes para definir uma série de valores e significados para a rua. Afinal, uma rua arborizada e com jardins bem cuidados, com certeza, terá apartamentos mais caros e lojas mais sofisticadas estarão tentadas a ali se instalarem, em caso da via ser comercial, também. Fora do âmbito do dinheiro, uma rua bem ajardinada será local de procura para passeios descompromissados pelo seu valor estético e consequente agradabilidade. O que eu percebi neste percurso é que, definitivamente, não faz parte da cultura do carioca a arte dos jardins. Nisso incluo não só idéias concretas que os inovem, mas também o ato de preservar e respeitar, acima de tudo. Um canteiro bem cuidado é, sim, admirado, mas aqueles que não são passam a ser considerados como "coisas da vida", "cidade grande é assim mesmo"... E a partir disso as pessoas começam a criar novas funcionalidades para estes espaços; o canteiro vira lixeira, sinônimo de guarda-entulho e coisas do gênero. Não é bem assim que a banda deveria tocar. Não deveríamos encarar a situação dos canteiros como algo do acaso, mas sim reconhecer o descaso e revertê-lo. Isso não é impossível, não sai caro e mesmo que não se queira gastar nada, ainda sim é possível. É só sermos menos mais cidadãos, mais conscientes... é tudo nosso,  para dar-nos conforto, dar beleza à rua em que moramos... por que, então, destruir? Um abraço!

23.9.10

Canteiros urbanos... e frustrados (parte 2/3)

 Continuação


Jardineira quebrada na
Praça José de Alencar
Na Praça José de Alencar, que é a divisa do Catete com o Flamengo, a situação é um pouco lamentável, também. Os vasinhos de plantas, suspensos em uns equipamentos de ferro, foram produto do Rio Cidade (foto à direita), na década de 90. Entretanto, alguns deles estão "rasgando", pois os vasos são feitos de plástico. Aí imagina o panorama, caro leitor, aquela lambança de terra caindo pela calçada, as raízes das plantas às vistas... Como eu disse no início, são pequenos detalhes, mas que fazem toda a diferença! Ao longo da Marquês de Abrantes é mais triste ainda. Os canteiros de lá estão muito mal cuidados. Sem falar que eles são mal aproveitados, como os da Rua Voluntários da Pátria (que eu discutirei adiante). Perto ali do Instituto Metodista Bennet tem até uma plaquinha com os dizeres "Seja educado, não jogue lixo", só que o aviso não é suficientemente intimidador para que os caras-de-pau parem de usar aquele espaço como lixeira. Antes de completar este ciclo Laranjeiras-Flamengo, quero reiterar que a Rua Marquês de Abrantes está "caída" nesse sentido, embora não seja a pior de todas. Eu consegui ver alguns canteiros consideráveis ao longo da via, só que o estado de conservação é, infelizmente, o que fica a desejar. 

A Rua Marquês de Abrantes, no Flamengo: a má conservação dos canteiros urbanos fere a estética urbana.

Um dos canteiros "salváveis"
na Praia de Botafogo
Virei à direita na Praia de Botafogo. Mais decepções - nem a Fundação Getúlio Vargas tinha algum jardinzinho público. Só encontrei um bem bonitão quase na esquina com a Rua Farani. A belezura, no entanto, é provavelmente mantida por uma ótica que há neste endereço, afinal, o jardim quase adentra a loja! E foi aí que eu percebi que, em geral, os melhores ajardinados estão sempre em frente à uma empresa ou a um edifício mais pomposo. Aqueles canteiros espraiados pela calçada, sem "dono" específico, ficam à deriva e isso acontece muito aqui no Rio. O que poucos sabem é que a manutenção da calçada e dos elementos desta é de responsabilidade do proprietário, enquanto o Estado cuida das ruas. O problema é que fica difícil decidir quem é o responsável por um canteiro, por exemplo, entre dois imóveis, ou então em frente a um terreno baldio. Ninguém vai pegar o "problema" para si, né? Até porque, se o grau de cidadania é baixo, mais baixas ainda são as condições financeiras de se manter algo que não é essencial para a vida de uma pessoa física ou jurídica. E aí a gente engloba outras questões, também, como educação, respeito, entre outras.

Mesmo estando de frente para um dos mais belos cartões postais cariocas, os canteiros da Praia de Botafogo só se salvam quando mantidos por empresas, como o caso do Botafogo Praia Shopping.


A planta, presa em uma
grade, ainda é sustentada
por pedaços de madeira.
A situação piorou depois que eu passei sobre o Viaduto Jardel Filho, perto do Colégio Imaculada Conceição. Por esta região, o sinal de abandono e de desrespeito é bem notório. Copos descartáveis, pedaços de madeira, mais uma vez as pontas de cigarros, papéis de bala, enfim, uma variedade de lixo que mora nos canteiros da Praia de Botafogo. O maltrato pode ser percebido, por exemplo, com os restos de uma árvore cuja qual só sobrou alguns palmos do tronco. Além disso, o solo é composto de uma mistura de terra, com restos de folhas, um pouco de lama e substâncias amarronzadas com textura viscosa. Parecia cocô. Na verdade, era. Os canteiros urbanos cariocas funcionam como vaso sanitário para animais, também. E às vezes os animais nem sempre são os cachorros; há pessoas que também se comportam como. 

 Os canteiros urbanos cariocas compartilham, além de plantas e flores, lixos de muitas espécies. 

Fim da 2ª Parte

21.9.10

Canteiros urbanos... e frustrados (parte 1/3)

Idealizados para dar um embelezamento às ruas, os canteiros do Rio não andam tão bonitos assim

O tema da postagem de hoje poderá ser frufru demais para aquelas pessoas mais práticas, ou será de grande relevância para aquelas que, diante da paisagem urbana, confirma que o detalhe é que faz a diferença. Sem rodeios, hoje vou começar a falar dos canteiros urbanos! Eu, particularmente, gosto muito deles, sejam os das ruas do Rio, das de São Paulo, de Nova York ou de Marte. Um jardim bem cuidado é sempre motivo de bem-estar para os olhos. Não só o jardim, mas também o apoio deste, que é a estrutura do próprio canteiro. Aqui no Rio de Janeiro eu já vi muitos canteiros bonitos e bem tratados, mas... sinceramente? Eles se restringem a bem poucos bairros da cidade! Na maioria das ruas, grande parte dos canteiros andam bem caídões. Pensando nisso, eu percorri ruas comerciais de quatro bairros da Zona Sul, em sequência, e fui tirando fotos dos canteiros que eu encontrava pelo caminho. Os lugares, no caso, foram Laranjeiras, Flamengo, Botafogo e Humaitá. Vou dar a minha análise e espero que você, caro leitor, também dê a sua no final!

Rua das Laranjeiras, Zona Sul do Rio: foi a partir daí onde iniciei o meu percurso para a análise dos canteiros urbanos em quatro bairros da região. 


Praça com jardim
bem cuidado, próximo
ao viaduto
O início do percurso total foi em Laranjeiras, próximo ao Instituto de Surdos e Mudos, na Rua das Laranjeiras. Pois bem, Laranjeiras continua sendo um dos bairros mais aprazíveis da Zona Sul, é tudo muito pequeno e familiar. A arquitetura histórica das ruas desta região é de grande relevância para a cultura da cidade, sem falar que a largura das ruas reflete muito bem o seu processo de ocupação - bem antigo. Entre o Viaduto Engenheiro Noronha e o Largo do Machado, pude apreciar algumas praças bem ajardinadas e alguns canteiros bem imponentes. Na verdade, as plantas e as flores são sempre os elementos mais imponentes de um jardim, só que não podemos esquecer também da conservação do canteiro. Fazendo uma analogia, do ponto de vista estético, é como se comparássemos uma mulher linda vestida em trapos sujos. Logo, ali pela Rua das Laranjeiras até encontramos essas "mulheres lindas", que poderiam até estar em "vestes" mais apropriadas, só que aí o (meu) grau de exigência seria alto demais. Precisamos perdoar, em certas ocasiões, mas nunca afirmar que a má conservação "é culpa do tempo". Tem gente que fala que as coisas se degradam em função dele, concordo, mas da mesma forma que as mulheres gostam de se cuidar (a medida que ficam mais velhas), o mesmo deveria ser feito aos jardins e canteiros urbanos. Nesse caso, o poder de atuação sobre eles pertence à nós. Por que não cuidá-los como se fizessem parte da nossa família?


A esquina da Laranjeiras com Rua Eugênio Hussak é presenteada com um belo canteiro, embora uma mãozinha de tinta não cairia mal. Já no Largo do Machado, grande parte dos recuos entre a árvore e a calçada são usados como lixeira. 

No trecho entre as ruas do Catete e Marquês de Abrantes, o panorama fica um pouco degradado em função do alto fluxo de pessoas que circulam pelo Largo do Machado diariamente. Impressionante que toda a área comercial de um bairro (seja ele qual for), hoje em dia, é puro lixo. E penso justamente o contrário, tais espaços deveriam ser os mais bem tratados, afinal, é um lugar mais exposto aos interesses privados e até mesmo aos públicos. No entanto, a Rua do Catete não anda devendo quase nada à Uruguaiana. Os poucos canteiros que existem ali, além dos recuos entre a calçada e o tronco de pequenas árvores, são enfeitados de latas de refrigerante, pontas de cigarro e papéis. E uma observação fora de hora: o que é a nova entrada da estação Largo do Machado do metrô, na Rua do Catete? É um show de cores, enfeites, parece um carnaval. E de muito mau gosto. Tô certo ou tô errado? Chega a ser agressivo!

Fim da 1ª Parte

9.9.10

Santa Fé & Jardim

Um breve passeio pelo "lado" mais tradicional do Méier, na Zona Norte 

 VISTA DA Rua Aquias Cordeiro e a estação de trem do Méier. 

O ENTORNO DA Rua
Santa Fé, pelo mapa.
O tempo amanheceu sinistro no sábado passado, dia 4 de Setembro. Sinistro porque não estava nem um pouco fresquinho como agora, pós-feriadão. Esse calor intenso que às vezes calha de fazer aqui no Rio nos deixa bem assustados, afinal, o verão carioca é um grande trauma - não queiram negar! Ar condicionado ligado full time, suor, indisposição... É. Sábado foi assim. Eu poderia ter ido dar uma volta na Lagoa, dar aquela relaxada, mas pensei melhor e... quer saber? Peguei um ônibus e fui pro Méier! Já tinha um tempo que eu queria voltar lá para fotografar algumas ruas, como, por exemplo, a que eu trago hoje: a Rua Santa Fé e o seu vizinho jardim, o Jardim do Méier.


ESSA É a esquina da Rua
Coração de Maria com Santa Fé
No início eu falei: um breve passeio pelo "lado" mais tradicional do Méier. Por que lado? Quem não conhece a Zona Norte suburbana ou até mesmo seja de fora do Rio, talvez não saiba que grande parte desta região da cidade é cortada pela linha férrea. Então, muitos dos lugares que recebem estações ao longo da ferrovia são divididos fisicamente por ela e aí criam-se os dois lados do bairro. No caso do Méier, tais lados podem ser representados pelo da Rua Dias da Cruz e o lado do Jardim do Méier. Este, onde também está o famoso Hospital Salgado Filho, eu consideraria o lado mais tradicional de lá por ainda preservar muito das origens do lugar. A Rua Santa Fé é um exemplo disso e vocês vão ver ao longo da postagem. O lado da Dias da Cruz já é mais descaracterizado, comércio intenso, só que bem mais badalado do que o lado oposto. Ficou confuso ou dá pra seguir?


A BASÍLICA da Imaculada Coração de Maria, na Rua Santa Fé. A igreja é um dos principais marcos arquitetônicos cariocas e do bairro do Méier.


MAIS detalhes
da Basílica
 Saltei na Avenida Amaro Cavalcanti, subi a passarela e dei uma caminhada pela Rua Arquias Cordeiro até entrar à direita na Coração de Maria. Ali, bem na esquina com a Santa Fé, que eu comecei a tirar algumas fotos e a executar o meu plano de postagem para o blog. Pois bem, é justamente nesse encontro onde está um dos maiores símbolos do Méier, a Basílica do Imaculado Coração de Maria. Tradicionalíssima, ela foi construída no início do século XX e projetada pelo arquiteto espanhol Morales de los Ríos. Foi inspirada na arquitetura mozárabe, vigente na Península Ibérica do século XVI. Essa igreja é figurinha fácil em muitos livros sobre a arquitetura carioca, sendo um dos poucos atrativos deste tipo fora do eixo Centro-Zona Sul. 


O CRUZAMENTO à frente é
com a Rua Aristides Caire
Ultrapassando a Basílica e o restaurante Xodó do Méier, a Rua Santa Fé vira quase um deserto até o Viaduto Castro Alves. O calor, como eu disse, é brabo, não há árvores nesse trecho e o suor escorre pela nuca. Apesar disso, as árvores são substituídas por pequenos arbustos floridos ao longo da calçada e pequenos estabelecimentos podem ser encontrados floriculturas. Inclusive, essa área aí me faz lembrar muito de flores, afinal, tínhamos na esquina da Santa Fé com a Rua Aristides Caire a Cobal do Méier, com diversas tendas de flores. Hoje, onde havia o mercado municipal, funciona um fórum de justiça, instalado em um prédio todo envidraçado. Esquisito, mas fazer o que né? Antes que eu me esqueça, há cactos também, por ali. Nada mais coerente com o calor. 

 DOIS ÂNGULOS do Viaduto Castro Alves: a primeira, já nos mostra um pouco do verde que o Jardim do Méier brinda ao bairro e, ao lado, o termômetro do relógio marca 39ºC.

A ANTIGA COBAL do Méier foi demolida - hoje, no mesmo espaço, abriga o Fórum Regional do Méier (Desembargador José Rodriguez Lima). Quem conheceu a antiga Cobal sabe que o edifício modificou demais a paisagem do local. Bom ou ruim? Depende do seu gosto!

O JARDIM do Méier e
o seu famoso coreto
O sobe-e-desce dos carros e ônibus no Viaduto Castro Alves é ofuscado por um clarão verde: o Jardim do Méier. O Jardim é uma imensa praça com árvores, flores, um coreto, bancos para sentar e brinquedos. Um lugar bastante agradável, no coração do Méier, um bairro que não é muito bem servido de árvores e sombras. O lugar, implementado em 1916, tinha sua localização estratégica por estar ao lado da estação Méier do trem. Como naquela época o comércio se desenvolvia ao redor das estações, não preciso nem falar que o Méier foi privilegiado com esse espaço verde. Os sinais de decadência são bem visíveis, embora não chegue a ser tão agressivo. O Jardim é bem policiado – quando eu estava por lá, vi a atuação da polícia em retirar os mendigos dos bancos – e conta, também, com uma cabine da Guarda Municipal. O pessoal das antigas me fala que o Jardim do Méier foi um lugar prestigiadíssimo no passado, uma espécie de “programa de fim de semana”. Em principal, pela sua beleza e pelo espaço amplo. Infelizmente não existe mais no Rio a valorização dos parques como área de lazer. Eles ficam entregues às moscas e só se preservam quando recebem algum apoio da iniciativa privada, como é o caso do Jardim Botânico, por exemplo. Lamentável, todo mundo só quer saber de praia.


 
O JARDIM DO Méier foi, nos áureos tempos, um parque de bastante renome e de agradáveis passeios. Estudantes, crianças e idosos faziam uso deste local como área de lazer e não apenas de meio de passagem, como é hoje. 

MEIOS DE transporte na Santa Fé: além de diversas linhas de ônibus, como a 661 (Maria da Graça - Méier), 476 (Méier - Leblon) e 679 (Méier - Grotão), as famosas kombis - serão elas ilegais? Não sei... - também aparecem por ali.



O último trecho da Rua Santa Fé é bem servido de órgãos públicos e comércio. Na esquina com a Aristides Caire, o batalhão do Corpo de Bombeiros do Méier. Na mesma calçada, uma unidade da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. Ao lado, um batalhão da Polícia. Sem falar nos salões de beleza, na papelaria, funerária, agência bancária, armazém. E, ah... Mais uma venda de flores. A Santa Fé termina no encontro da Rua Lucídio Lago. Uma placa de trânsito me informa: Cachambi para a esquerda, Benfica e Centro para a direita. Pra onde eu fui? Eu fui em direção à sombra, isso sim, hahaha. Um abraço!

 ESTE É O TRECHO final da rua. Ao fundo, é a Rua Lucídio Lago e os fradinhos nas calçadas são fruto do Rio Cidade Méier II, realizado há pouco tempo no bairro. 

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4.9.10

Avenida Paulo de Frontin remodelada

Por esses dias andei futucando o meu Photoshop, procurando por ferramentas, vendo o que cada botãozinho fazia. O basicão eu sei, só que a coisa mais profissional ainda está longe de se aproximar de mim. Mesmo assim, dei uma arriscada e com alguns palpites do meu irmão arquiteto fui promovendo melhorias - fictícias - para a Avenida Paulo de Frontin através de uma foto tirada por mim. Vejam o resultado da minha fértil imaginação... :-) 

COM A REPINTURA das pilastras do Elevado Engenheiro Freyssinet, a Paulo de Frontin ficaria menos sombria e livre de pichações. Os vasos de plantas deixaria o local mais agradável para se caminhar e com um aspecto mais bonito, também. 

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Utópico? Acho que é mais falta de boa vontade do Estado, mesmo... 

2.9.10

O que restou do Rio Comprido (parte 2/2)

Continuação...


AS PRINCIPAIS vias
do Rio Comprido, por mapa.
Eu fui ao bairro na manhã da última segunda-feira, dia 30/08. Tentei registrar alguns pontos especiais da região, embora o ato de portar uma câmera fotográfica pelas ruas do Rio Comprido ainda seja um tanto quanto inseguro. Iniciei a caminhada pela Rua Batista das Neves, perto da Haddock Lobo. Fui observando, principalmente, o legado nobre do bairro, que são as casas. É preciso ajudar aos olhos, para que eles possam enxergar as construções além das pichações e da sujeira das fachadas. Usar a imaginação é fundamental nessas ocasiões. E eu usei bastante; consegui ver cada casa daquela limpa e pintadinha, bem-tratada. Pela Rua Barão de Itapagipe, próximo à Aristides Lobo, tem um edifício de tirar o fôlego. Antigo e charmoso, mas muito maltratado. Voltei caminhando pela Paulo de Frontin, ao lado de "buracos" que viraram espaço para ferro-velhos. Me atrevi a passar a mão por uma das pilastras do Elevado e o resultado foi um dedo cinza. O rio cheira muito mal e não há proteção alguma entre ele e o pedestre. Qualquer um pode cair em falso ali, se não forem os carros, que estacionam todos na calçada que beira o rio Comprido.

MORAR NO Rio Comprido: o bairro conta com uma variedade de tipos residenciais - na grande maioria antigos. Na primeira foto, em sequência, o edifício Cavaliere - bonito, mas pichado - fica na Rua Sampaio Viana, ao lado de uma vila, com entrada em forma de portal. O edifício Irene, na Japeri, representa bem o quão charmoso foi o bairro e o grau de decadência atual. Já na última foto, o edifício Alameda das Acácias, na Rua do Bispo, é uma das poucas construções modernas voltadas para a família de classe média.



A RUA SAMPAIO Viana,
com o Morro do Turano
ao fundo.
Entrei numa bifurcação à direita, que dá acesso à Rua Sampaio Viana. Mais imóveis de arquitetura considerável, embora tudo muito destruído. O edifício Cavaliere, de janelas verde-água, tão bonito e totalmente atacado por vândalos. Ao andar por ali, ocorreu-me a idéia de pesquisar sobre o preço dos imóveis no Rio Comprido. Algo mais sintetizado, como a ADEMI sempre faz em relação à situação do mercado imobiliário dos bairros mais populares. Não encontrei informação alguma. Visitei então o site de uma famosa imobiliária do Rio e procurei por apartamentos à venda na região, de 2 quartos. Selecionei os treze imóveis listados e fiz uma média simples dos valores. O resultado saiu em cerca de R$ 176.153 para um imóvel nestas condições. Fiz o mesmo com outros treze imóveis, de dois quartos, nas ruas bem próximas ao Rio Comprido, porém já pertecentes ao bairro da Tijuca. A média sobe para R$ 336.538. É claro que essas comparações precisam ser mais detalhadas, há fatores que influenciam e muito nos valores, mas a essência está aí. Dois apartamentos iguais na Rua Barão de Itapagipe, por exemplo, que começa no Rio Comprido e termina na Tijuca, podem ter valores totalmente diferentes dependendo do trecho.

REFERÊNCIAS HISTÓRICAS: nas imediações das ruas Sampaio Viana e Barão de Sertório é bem fácil de dar de cara com sobrados antigos, como os das fotos acima. Uns mais bem preservados do que outros, esse tipo arquitetônico é de um valor histórico importantíssimo para o Rio de Janeiro.


A UNIVERSIDADE Estácio
de Sá, na Rua do Bispo.
As ruas transversais à Sampaio Viana são uma grande surpresa. A Rua Japeri, pequenininha, guarda resquícios de um Rio Comprido nobre e relativamente bem preservado. A fachada das casas indica o quão modernista foi o bairro no passado. A outra transversal, Barão de Sertório, traz sobrados simpáticos e coloridos, ao redor dos espigões da Rua do Bispo - são prédios mais recentes, de classe média, constituído de apartamentos com varandas. Uma das subidas para o Morro do Turano é pela Rua do Bispo, quase em frente à Sampaio Viana. O cenário da favela deixa um certo impacto, enquanto o formigueiro humano desce e sobe as ladeiras. Neste mesmo miolo, a Universidade Estácio de Sá, que ficava à mercê dos tráfico no Turano. Foi ali aonde a estudante Luciana Gonçalves de Novaes foi baleada, em 2003. Ela era aluna da universidade. Outra instituição de ensino, o Colégio Sagres, ao lado do hospital Casa de Portugal.

UM GRANDE ACHADO: a Rua Japeri resguarda o antigo charme do Rio Comprido pelo desenho de suas casas e pela boa conservação em relação às outras ruas no entorno.


A BELEZA da Igreja
de São Pedro.
As ruas do Citiso e Paula Frassinetti são aparentemente simpáticas e cenário de um luxo que ficou no passado. Entretanto, andar por ali requer um certo cuidado. Virando à direita na esquina da Rua do Bispo com a Paulo de Frontin, é possível encontrar a Igreja de São Pedro, um monumento intocável instalado em um dos bairros mais interferidos do Rio. Se você seguir o fluxo da Rua do Bispo, ela passa a se chamar Rua da Estrela e abriga a Praça Condessa Paulo de Frontin. Suja, infelizmente, mas com um chafariz lindo, que merece e é preservado, apesar de tudo. A praça é o centro comercial do bairro: supermercados, camelôs, hospitais públicos, farmácias, pastelarias. Mais adiante fica a Rua Itapiru, que liga o bairro ao Cemitério do Catumbi. Tudo muito confuso e pouco agradável de se caminhar. A sensação de insegurança é constante para quem é de fora.

À ESQUERDA, o cruzamento da Rua do Bispo com a Avenida Paulo de Frontin. Observe como o Elevado deixa sombria a avenida. Em seguida, a Praça Condessa Paulo de Frontin, com seu chafariz.


Terminei o meu passeio um pouco desolado. Acostumado a visualizar o bairro através da janela dos ônibus, tê-lo conhecido melhor a pé foi uma experiência bem diferente. Alguma ou outra surpresa, mas no fundo bate uma certa tristeza. Independente de ter sido bairro nobre ou não - isso é apenas um título comparativo -, o estado em que se encontra o Rio Comprido é lamentável. Estamos numa fase onde dezenas de novas obras viárias estão sendo implementadas como forma de acompanhar, mesmo que tardiamente, o crescimento urbano. Penso que é bom que tomemos cuidado ao levantar novos viadutos, elevados e pontes; não podemos correr o risco de criar outros "Rios Compridos" pela cidade. É bom que a Prefeitura e a Secretaria de Urbanismo aprenda com os erros do passado e que, claro, proponha melhorias para o Rio Comprido. Intervenções pouco relevantes não funcionam - elas têm prazo (curto) de validade. Há de ser algo mais efetivo, radical, algo no estilo Pereira Passos: bota-abaixo!

TERMINO O ESPECIAL com essa foto que eu achei no Skyscraper City da Avenida Paulo de Frontin nos anos 20. Muita coisa mudou, não é mesmo? Um abraço!

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